Suicídio: uma questão de saúde pública

Irene Maria Brzezinski Dianin*

O suicídio está em todos os lugares. A Organização Mundial da Saúde (OMS) elegeu 10 de setembro como Dia Internacional de Combate e Prevenção ao Suicídio, daí, a esclarecedora campanha do Setembro Amarelo.

O desconforto do tema o faz pouco discutido, embora sua dimensão seja significativa: Para a OMS, em nível global, a cada ano são um milhão de suicídios, consequentemente, a cada 40 segundos uma pessoa se mata em algum lugar do planeta.

A Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde (CID-10), no Capítulo XX arrola, entre as causas externas de morbimortalidade, os óbitos por lesões autoprovocadas voluntariamente, cujos dados, de notificação compulsória, compõem as estatísticas do DATASUS.

No Paraná, em 2015 foram notificados 721 desses óbitos, vitimando 569 homens e 152 mulheres, na maioria brancos (590), solteiros (325), entre 30 e 49 anos (295), sendo que 421 dessas mortes ocorreram em casa.

Classificar o suicídio como ato autoprovocado intencionalmente, presume uma inexistente voluntariedade, uma falsa suposição de que o suicida conduz-se livre e conscientemente ao evento morte. O suicídio, comprovadamente, não deriva de ato voluntário, é equivocado relacioná-lo a covardia, fuga ou escolha (VIEIRA, SARAIVA e COUTINHO, 2010). A ideação se instala sub-repticiamente, toma conta dos pensamentos e da vontade do suicida, fazendo-o vítima e algoz de si mesmo.

O equívoco tolda que suicídio resulta de uma complexa interação de fatores biológicos, genéticos, psicológicos, sociais, culturais e ambientais (OLIVEIRA, 2008) e que deve ser combatido como grave problema de saúde pública.

A heterogeneidade dos fatores de risco impossibilita o apontamento taxativo das causas para o fenômeno, embora a literatura científica indique que tentativas embutem o desejo de suicidar-se; que a dor psicológica, os distúrbios e transtornos mentais se associam ao fenômeno; que abuso sexual, de álcool e drogadição, rejeição e inadaptação às mudanças da vida, aumentam a probabilidade do atentado; que depressão, tristeza e solidão acrescem as estatísticas e o fácil acesso aos meios de cometimento multiplica o agravo; que mulheres tentam mais usando meios menos letais (medicamentos e venenos) e homens matam-se mais pela fatalidade do enforcamento e uso de armas de fogo.

A cada dez tentativas, uma resulta em suicídio. A intenção de matar-se pode persistir até por uma década (BARBOSA, MACEDO e SILVEIRA, 2011). De 15 a 20% dos tentadores buscam a morte no ano seguinte à primeira tentativa e 10% deles se matam dentro em dez anos (BOTEGA, WERLANG, CAIS e MACEDO, 2006). Ainda, 31% das vítimas procuram auxílio médico antes da primeira tentativa, e destas, 23% o fazem na semana em que tentam matar-se (SANTOS, LOVISI, LEGAY e ABELHA, 2009).

O suicídio é evitável em maior ou menor grau, desde que seja conhecido e reconhecido, porém, a desinformação impede seu enfrentamento.

Urge a promoção de práticas de combate: o currículo dos cursos em saúde deve abordar o tema; Agentes Comunitários e demais profissionais em saúde, gestores, professores e líderes comunitários devem conhecer o mal para combatê-lo com eficiência, pois o suicídio não escolhe ricos nem pobres, gênero ou faixa etária, sequer saudáveis ou doentes. Somente o conhecimento eliminará o estigma, em prol de uma convivência onde uma vida saudável tornem-se lugar comum.

 

*Membro da Comissão da Mulher Advogada da OAB- Subseção Campo Mourão; Professora de disciplinas jurídicas da UNESPAR-Campus Campo Mourão; Doutora em Desenvolvimento Regional.