Você tem medo de qualificar ou medo de perder?

Afinal, quanto custa qualificar minha equipe? Essa pergunta ecoa em muitas salas de decisão pelo país, especialmente em pequenas e médias empresas. A resposta mais comum? “Custa caro.” Mas o que poucos empresários colocam na balança é o custo silencioso e acumulativo de manter uma equipe despreparada, improdutiva e desmotivada ao longo do tempo.

É compreensível o receio de investir na capacitação de um colaborador e vê-lo sair pouco tempo depois. Muitos empresários relatam que, após um bom treinamento, o funcionário se sente seguro para buscar oportunidades melhores ou até abrir o próprio negócio. Isso acontece, sim. Mas será mesmo que o treinamento foi o único fator dessa saída?

Vamos inverter a pergunta: o que faz o colaborador querer sair, mesmo tendo sido qualificado? Será que o motivo está no próprio investimento em desenvolvimento ou em fatores como salários defasados, ambiente de trabalho hostil, ausência de reconhecimento, gestão autoritária e falta de perspectivas? Quantas empresas se preocupam em reter talentos pelo clima e cultura organizacional, e não apenas pelo contracheque?

Agora pense comigo: e se esse mesmo colaborador ficar por dez anos? Sem atualização, sem novos aprendizados, sem reciclagem. Esse é o profissional que atende mal, que não consegue fechar vendas, que trata mal o cliente, que comete os mesmos erros de produção, que não entende as novas tecnologias. Ele sai barato? Ou ele está custando caro todos os dias?

Quantas vendas você deixou de fazer? Quantos clientes você perdeu? Quantos processos você repetiu por erro básico? Você já mediu isso?

Evidências práticas não faltam. Segundo estudo do World Economic Forum (2023), empresas que investem consistentemente em qualificação têm um aumento médio de 24% na produtividade da equipe. O relatório The Value of Training da IBM (2021) aponta que empresas que oferecem programas de capacitação estruturados registram 63% mais retenção de talentos e 10% mais lucratividade. E mais: colaboradores treinados fazem seu trabalho com mais eficiência e menos erros — impactando diretamente na satisfação do cliente e nos resultados do negócio.

E o Brasil? A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD/IBGE) aponta que empresas que promovem cursos internos ou externos registram menor rotatividade e maior engajamento da equipe. O SEBRAE, em um levantamento com empresas de sucesso em fase de crescimento, aponta que a qualificação da equipe é um dos cinco principais fatores de sobrevivência e expansão no mercado.

Portanto, a provocação que deixo é: será que o verdadeiro prejuízo está em qualificar e correr o risco de perder um colaborador… ou em não qualificar e ter certeza de mantê-lo improdutivo?

A gestão de pessoas não é um centro de custo. É uma estratégia de crescimento. Não podemos continuar tratando quem move a empresa como um número da folha de pagamento ou apenas um executor de tarefas. Pessoas são o diferencial competitivo do seu negócio.

Falo aqui como um mero formador de opinião. Mas trago comigo dados, fontes e vivências que demonstram: investir em gente é investir em resultado. Escolha onde quer pagar o preço — na formação que transforma ou na estagnação que custa caro em silêncio.

Rosinaldo Nunes Cardoso é Administrador, Especialista em Gestão de Pessoas e Estratégias Competitivas, Mestre em Administração. Diretor de Pesquisa e Gestão do IPPLAN – Instituto de Pesquisa e Planejamento de Campo Mourão.