Dia do Índio: professora revela drama na região

Foto: Clodoaldo Bonete/Tribuna do Interior

Hoje, 19 de abril, comemora-se o Dia do Índio. Esta data comemorativa foi criada em 1943 pelo presidente Getúlio Vargas, por meio do decreto lei número 5.540. Mas por que foi escolhido o 19 de abril? Para entendermos a data, devemos voltar para 1940. Neste ano, foi realizado no México, o Primeiro Congresso Indigenista Interamericano. Além de contar com a participação de diversas autoridades governamentais dos países da América, vários líderes indígenas deste continente foram convidados para participarem das reuniões e decisões. Porém, os índios não compareceram nos primeiros dias do evento, pois estavam preocupados e temerosos. Este comportamento era compreensível, pois os índios há séculos estavam sendo perseguidos, agredidos e dizimados pelos homens brancos.

No entanto, após algumas reuniões e reflexões, diversos líderes indígenas resolveram participar, após entenderem a importância daquele momento histórico. Esta participação ocorreu no dia 19 de abril, que depois foi escolhido, no continente americano, como o Dia do Índio.

Mas para a professora indígena Nilza Maria Rodrigues, da Escola Tape Aviru (Ensino Fundamental), localizada na Estrada para o Barreiro das Frutas, em Campo Mourão, nos dias de hoje a data não é de comemoração, mas de luta. Não há motivos para comemorar, principalmente por conta da PEC (Proposta de Emenda à Constituição) 215/00, que transfere do Executivo para o Legislativo a decisão sobre a demarcação de terras indígenas. Se isso for aprovado acabou o povo indígena, pois ficaremos nas mãos dos latifundiários, lamenta a professora.

Ela integra uma aldeia de índios Guaranis, no Barreiro das Frutas, onde o grupo se mantém em um pequeno pedaço de terra. Mas a sobrevivência no local está se tornando difícil, principalmente pela falta de água. Sem água não dá para viver e a mina que usamos não é boa. Tem gerado problemas de saúde, como calculo renal. O proprietário de terra vizinho disse que não poderá mais ceder água para nossa aldeia, lamenta.

No local eles cultivam mandioca, batata, milho e até mel, além da confecção de artesanatos e cestaria. Sempre foi uma fartura, mas pela falta de água muitos tiveram que deixar a aldeia. Éramos em cinco famílias, hoje restam duas. A escola, que já chegou a ter 20 alunos, conta atualmente com apenas dois, lamenta. A dificuldade de fazer a documentação de algumas crianças também compromete os estudos e permanência na região. Respeito ao povo indígena existe apenas no discurso, afirma.

Mas a professora garante que seu povo não está disposto a desistir: O momento é de recuar, retroceder um pouco para depois continuar, pois somos a única aldeia no Brasil neste módulo, de criar uma associação, ou seja, com a compra da terra em nome de todo o grupo, declara.

Kaingangues

Em Campo Mourão é comum a presença de índios comercializando artesanatos e cestos nas ruas. Eles fazem parte de uma tribo de Kaingangues, em Manoel Ribas. Sempre que chega, o grupo costuma se instalar em um terreno gramado paralelo com a Perimetral Tancredo Neves, próximo ao BIG Supermercados. No local instalam barracos de lonas, onde improvisam camas e até fogão. Unidos, eles trabalham na confecção de cestos, os quais vencem a R$ 20,00 na cidade.

A índia Simone Camargo, 26, está sempre entre eles. Ela conta que nasceu na aldeia em Manoel Ribas e fala bem do povo mourãoense. Somos bem recebidos na cidade, o pessoal compra nossos artesanatos, agradece. Quando falta algum mantimento, eles não hesitam em pedir a moradores vizinhos. Em uma casa que passa por reformas, na esquina do local onde estão concentrados, eles encontraram apoio, onde recebem água, usam um banheiro e até tomam banho. Essa família nos ajuda muito, somos gratos a eles.

Os cestos são feitos de bambus e o ofício é facilmente aprendido pelos índios mais novos. Os homens chegam a sair para outras cidades vizinhas, como Peabiru para vender as mercadorias. Neste final de semana, Simone disse que o grupo deveria voltar para Manoel Ribas para comemorar o Dia do Índio com muita festa. A gente faz churrasco e dança bastante. É uma festa grande, que reúne cerca de 2 mil índios de várias outras aldeias.