Megaoperação contra fraudes em combustíveis mira 46 postos e prende 14 suspeitos no Paraná
Uma grande operação da Polícia Federal (PF) e da Receita Federal (RF) foi deflagrada na manhã desta quinta-feira (28) para desarticular um esquema bilionário de lavagem de dinheiro, sonegação fiscal e adulteração de combustíveis com atuação em 46 postos de Curitiba e região metropolitana. O grupo alvo da investigação movimentou mais de R$ 20 bilhões desde 2019 e teria ligação com o Primeiro Comando da Capital (PCC).
Batizada de Operação Tank, a ação cumpre 57 ordens judiciais, sendo 43 mandados de busca e apreensão e 14 de prisão preventiva, autorizadas pela 21ª Vara Federal do Paraná. Os alvos estão localizados nos municípios de Curitiba, Pinhais, Jundiaí, São Bernardo do Campo e São Paulo (SP).
Segundo as investigações, o esquema contava com uma complexa estrutura formada por postos, distribuidoras, empresas de fachada, holdings e operadoras de pagamentos, todas ligadas direta ou indiretamente ao grupo criminoso. A rede utilizava produtos químicos contrabandeados, como nafta e metanol, para a adulteração de combustíveis, prejudicando consumidores em diversas regiões do país.
As investigações começaram em 2023 após um casal, residente em um condomínio de alto padrão em Pinhais, chamar atenção pelo padrão de vida incompatível com a renda declarada. O homem já havia sido condenado por tráfico internacional e, junto da esposa, movimentava cerca de R$ 34 milhões em imóveis, veículos, embarcações e outros bens de luxo. A partir daí, a PF descobriu a ligação com integrantes de uma empresa de produtos químicos e de uma distribuidora de petróleo com sede em Pinhais e operações em Paulínia (SP).
A distribuidora, criada em 2019, declarou R$ 7 bilhões de faturamento entre 2020 e 2023, mas sem comprovação de origem lícita dos recursos. Os investigadores identificaram R$ 594 milhões em depósitos em espécie sem origem comprovada, além de transações financeiras dissimuladas em mais de 120 empresas.
Além das fraudes financeiras, o grupo também atuava na importação irregular de produtos químicos vindos da Argentina, Venezuela, EUA e países do Oriente Médio, com entrada pelos portos de Paranaguá (PR), Santos (SP) e Aratu (BA).
Dano ao consumidor e impacto nacional
De acordo com a PF e a Receita Federal, o esquema afetou a qualidade do combustível vendido ao consumidor final, comprometendo veículos e gerando concorrência desleal com o mercado regular. Estima-se que cerca de 30% dos postos do estado de São Paulo possam estar ligados a práticas semelhantes, com envolvimento de mais de 2.500 estabelecimentos.
A operação também revelou que o grupo criminoso teria ligação direta com o PCC, incluindo infiltração no mercado financeiro por meio de fundos de investimento avaliados em R$ 30 bilhões, operados por membros da facção em São Paulo, especialmente na região da Avenida Faria Lima.
A dívida tributária gerada pelo grupo pode ultrapassar R$ 1,6 bilhão, considerando sonegação de impostos federais, estaduais e municipais.
A investigação segue em andamento e outros desdobramentos não são descartados. Os nomes dos presos e das empresas investigadas não foram divulgados.


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