Campo Mourão, a cidade dos sonhos coletivos completa 72 anos

O município de Campo Mourão completa nesta quinta-feira (10) 72 anos de emancipação político-administrativa. Apesar de o aniversário da cidade ser comemorado hoje, uma mudança na lei municipal transferiu o feriado para a próxima segunda-feira (14). Por isso, nesta quinta-feira haverá atendimento normal nas repartições públicas e no comércio em geral.

Este ano o aniversário da cidade será marcado por um festival da cultura japonesa, o Matsuri. A programação do evento será aberta nesta sexta-feira (11) e prossegue até a segunda-feira (14), feriado municipal. O parque de exposições do município, onde acontece a programação, será transformado em um pedaço do Japão, com toda a ambientação, manifestações artísticas, culinária e exposições.

Entre as atrações do festival, promovido pela empresa Tasa Eventos, de Maringá, estão shows musicais com duas cantoras que se destacaram no programa The Voice Brasil, da Rede Globo: Mobi Colombo, de Maringá, que chegou às semifinais do programa e Carol Naemi. Veja abaixo a programação completa.

Metade do lucro do evento será destinada à Santa Casa. Além de não deixar passar em branco o aniversário da cidade, é uma tentativa de fazer com que as entidades possam arrecadar, realizar um grande evento e também ajudar nossa Santa Casa, que é responsabilidade de todos, falou Getúlio Ferrari Junior, provedor do hospital. As entidades do município que vão participar contribuirão com 25% do que faturarem com a organização do evento. Do total que for arrecadado durante os quatro dias de festa, 50% serão para a Santa Casa.

A programação do Matsuri 2019 prevê ainda atrativos como culinária, cultura pop japonesa, patrulha canina, taiko (grupo de tambores), apresentação de um grupo de dança de Maringá bi-campeão do Festival de Joinville, desfile cosplay (personagens), exposição de fotografias, bonsai, aulas grátis de mangás, além de food trucks, clubes de motociclistas e exposição comercial.

Programação artística

11/10 (sexta-feira)

17h – Abertura dos portões (Parque de Exposições)

20h – Cerimônia de abertura

20h30 – Show musical: Pamela Yuri

21h15 – Grupo Foclórico da Acema

21h30 – Show musical: Susana Sano

12/10 (sábado)

10h – Abertura dos portões (Parque de Exposições)

13h30 – Grupo Ryukyu Koku Matsuri Daiko

14h30 – Mago dos Balões: Luciano Takeda

15h30 – Show musical: Jane Ashihara

16h30 – Grupo Sakyou Yosakoi Soran

18h – Grupo Ryukyu Koku Matsuri Daiko

19h – Mago dos Balões: Luciano Takeda

20h – Concurso Miss Nikkey – Seletiva Campo Mourão

21h30 – Grupo Sakyou Yosakoi Soran

13/10 (domingo)

10h – Abertura dos portões (Parque de Exposições)

13h30 – Mago do Balões – Luciano Takeda

14h30 – Grupo Saikyou Yosakoi Soran

15h30 – Desfile Cosplay

16h30 – Grupo Ryukyu Koku Matsuri Daiko

17h30 – Mago do Balões – Luciano Takeda

18h30 – Bon Odori

20h – Show musical: Mobi Colombo (The Voice Brasil)

21h – Grupo Saikyou Yosakoi Soran

21h30 – Show musical: Cintia Nishimura

22h15 – Matsuri Dance

14/10 (segunda-feira)

10h – Abertura dos portões (Parque de Exposições)

13h30 – Orquestra Viola no Campo

15h30 – Stchastia Folclor Ucraniano de Campo Mourão

16h30 – CTG Indio Bandeira

17h30 – Show musical: Paulão Silva (Acústico)

20h – Show musical: Carol Naemi (The Voice Brasil)

20h45 – Grupo Saikyou Yosakoi Soran

21h – Show musical: Jane Ashihara

Campo Mourão, uma senhora cidade

Ao longo de sua trajetória Campo Mourão colecionou fatos, conquistou a ordem e atingiu uma importante colocação na economia do Paraná. Hoje, a cidade tem quase 100 mil habitantes, pessoas que lutam por dias melhores sem desanimar.

Atualmente, a cidade dispõe de um belo quadro urbanístico, com modernas edificações, parques à disposição da população, boas universidades, investimento na área gastronômica e bons supermercados. Na saúde a Santa Casa, mesmo com poucos recursos, garante o atendimento para Campo Mourão e toda a região da Comcam.

Como tudo começou

Muita gente que mora em Campo Mourão não imagina, mas o município deve muito ao governador da província de São Paulo, Dom Luiz Antonio Botelho e Socio Mourão. Ele foi o responsável por, entre 1769 e 1770, enviar uma expedição para a região do Rio Ivaí, na época chamado de Rio Dom Luiz. Setenta e cinco homens foram comandados pelo Capitão Estevão Ribeiro Baião e Francisco Lopes da Silva com a missão de descobrir e batizar as novas localidades.

Ao avistarem um enorme campo aberto, batizaram o local de Campos Mourão, posteriormente mudado para Campo do Mourão, e, mais tarde, simplificado para Campo Mourão, em homenagem ao governador de São Paulo. A história do município é dividida em três momentos: o descobrimento pela expedição de Dom Luiz, seguido pela chegada das primeiras famílias atraídas por informações de que a nova terra era próspera e a criação do município.

No livro Campo Mourão na espiral do tempo, a escritora Edina Simionato relata encontros de expedicionários com os índios que ocupavam a região. Em 1893 os expedicionários vindos de Guarapuava (PR), Norberto Marcondes, Guilherme de Paula Xavier e Jorge Walter chegaram à região com 120 homens, para se dedicarem à criação de gado. Eles também fizeram os primeiros contatos com duas tribos de índios, uma de chefe Gembre e a outra liderada por Capitão índio Bandeira, que, ao que consta, seria um mestiço.

Até a década de 1960 o município de Campo Mourão compreendia toda a Microrregião 12 e os municípios que hoje a integram eram seus distritos administrativos. Na década de 80, foram desmembrados dois dos seus últimos distritos administrativos: Luiziana e Farol do Oeste, ficando sobre sua tutela apenas o distrito de Piquirivaí.

Tem suas origens também em antigas estradas onde se passavam circos e lojas voadoras vindo de Mato Grosso e São Paulo com destino ao oeste do Paraná. A partir de então começou a receber migrantes gaúchos e catarinenses que vinham atraídos pela fertilidade da terra roxa e por problemas políticos na região, formando assim a base da sociedade mourãoense.

As famílias que chegaram no início do século passado e deram início a uma vila nos campos que serviam de ponto de descanso de vaqueiros que passavam tocando boiadas para negociar no Mato Grosso e de tropeiros que usavam o chamado Caminho de Peabiru em direção às Missões no Rio Grande do Sul, Paraguai, Uruguai e Argentina, ainda têm seus descendentes morando na cidade, como os Teodoro, os Custódio, Oliveira, Mendes, Paula Xavier e Marcondes.

Personagens decisivos para a criação de Campo Mourão

Há 70 anos, os paranaenses elegiam o empresário Moysés Lupion como governador. Quebrava-se um jejum de anos, sem eleições imposta pela ditadura Vargas. Em março daquele ano, a Assembleia Legislativa iniciava seus trabalhos para a elaboração da nova Constituição do Estado. Meses depois, em agosto, com a Carta Magna já promulgada, o deputado Lopes Munhoz reivindicava a criação de novos municípios, cujo dispositivo foi inserido na Constituição recém aprovada.

 

A cidade de Campo Mourão no início da década de 60

 

A notícia correu o Paraná. Em Campo Mourão, Francisco Albuquerque ouviu a novidade pelo rádio. Assim que terminou de ouvir, de imediato procurou o fazendeiro Pedro Viriato de Souza Filho, que tinha ligações políticas em Curitiba. Entusiasmados com a possibilidade da criação do município, Pedro Viriato viajou no dia seguinte para Curitiba.

Na Capital, conseguiu uma audiência com o governador. No Palácio São Francisco – hoje sede do majestoso Museu Paranaense – expôs a Moysés Lupion a necessidade da criação de mais um município no projeto que tramitava na Assembleia Legislativa.

Enquanto atenciosamente Lupion ouvia a explanação, um assessor palaciano interrompeu o diálogo e mencionou que naquele momento era impossível a criação do município de Campo Mourão. E foi mais adiante: Campo Mourão somente poderia virar município 15 anos depois. Pedro Viriato ficou furioso e desacatou o assessor na presença do governador. Ânimos acirrados, o governador concordou com a criação do município, desde que Pedro Viriato fosse o prefeito. Ou seja, a cidade somente se tornou município graças a uma discussão e articulação política.

Outro detalhe que a história omite é que foi o deputado estadual Lacerda Werneck que defendeu a criação do município de Campo Mourão na Assembleia Legislativa. O projeto já estava tramitando e não previa a criação de outros municípios. Campo Mourão tem ainda uma dívida histórica com a memória deste parlamentar que articulou a sua criação.

O projeto de lei que criou o município de Campo Mourão foi aprovado com a emenda prevendo a criação da cidade. Enviado ao governador o projeto, tornou-se a Lei nº 2, sancionada em 11 de outubro de 1947. (Informações de Jair Elias).

Campo Mourão, a cidade dos sonhos coletivos

Campo Mourão é uma cidade em constante construção. Ela caminha para a modernidade sem perder os encantos de uma cidade do interior do Brasil. A cidade que conhecemos hoje é fruto do trabalho de todos, do envolvimento de cada cidadão, de cada trabalhador. É fruto de um sonho coletivo.

Antes mesmo da emancipação, os moradores se uniram e ergueram o prédio da escola, que ficava localizada na avenida Capitão Índio Bandeira com a rua Francisco Albuquerque. Após a emancipação, as instalações serviram para abrigar a Prefeitura e a Câmara de Vereadores.

Para o lançamento da pedra fundamental da Usina Mourão, em agosto de 1951, com a presença do governador Moysés Lupion, foi necessário à abertura de uma estrada. Assim que foi definida a data da visita do governador, no dia seguinte, todo cidadão útil de Campo Mourão, deveria estar na encruzilhada da estrada de Pitanga, com a fazenda Santa Maria, quem tinha carroça que a levasse e outros que não tivessem carroças, que levassem as ferramentas que pudessem e tivessem, no ponto indicado e assim, em três dias estava à estrada pronta até o salto.

 

Lançamento da pedra fundamental da Usina Mourão, em agosto de 1951

 

Para esse trabalho, segundo o primeiro prefeito, Pedro Viriato de Souza Filho, em depoimento em 1977, relatou que não faltou ninguém, prefeito, dentista, farmacêutico, comerciantes, sitiantes, todos deram sua valiosa colaboração, assim Moysés Lupion e a comitiva pode ir de automóvel, por ótima estrada, fazer o lançamento da pedra fundamental da Usina.

Na mesma época, o brigadeiro Geraldo de Aquino, esteve em Campo Mourão com a intenção de adquirir um pedaço de terra. Nas conversas mantidas entre ele e o prefeito Pedro Viriato de Souza Filho, nasceu a ideia de um campo de aviação para incluir a cidade na rota do correio aéreo. Ficou combinado, assim que o aeroporto tivesse pronto, o brigadeiro Aquino viria inaugurar.

Novamente todos os mourãoenses foram convocados a ajudar. Alguns arrumaram alimentação, ferramentas e acomodações. Assim, em três dias e meio de serviço, que responderam quatrocentos homens num dia, ficou o campo de aviação pronto e foi inaugurado pelo brigadeiro Aquino.

Em 1951, outra convocação para outro sonho coletivo. Nesse ano foi fundado o Clube 10 de Outubro, ideia do juiz Dr. Sinval Reis, que tinha intenção não somente de construí-lo, mas também de dar os primeiros passos para torna-lo realidade. A comunidade inteira participou. Ação coletiva de vontade. Em poucos meses, no mesmo local onde está a atual sede do Clube, foi erguido um barracão de madeira, onde a sociedade passou a se encontrar e se divertir.

Superando dificuldades imensas, aos poucos, ia crescendo e a medida que isso acontecia, necessidades outras iam surgindo. Tinham que ser enfrentadas. Tinham que ser vencidas. E foi o que aconteceu com o Ginásio, uma necessidade premente, todos percebiam isso, ansiavam por tê-lo, mas ninguém sabia equacionar o problema. A ausência de lideranças políticas influentes dificultava ou impedia que o assunto levado, como reivindicação aos órgãos públicos. Acrescente-se a isso, o fato de que Campo Mourão nada ou quase nada representava no mapa administrativo, político ou cultural do Estado. Outra alternativa não havia, senão entregar a tarefa à vontade, disposição e iniciativa da comunidade. E isso foi feito. Foi neste intervalo que chegou a cidade o professor Ephigênio José Carneiro. Trazia consigo, não só a ideia, como também o firme propósito de criar o ginásio tão desejado e esperado pela população. Era um entendido no assunto. Faltavam-lhe, porém, condições materiais e financeiras. Foi um movimento comunitário de sucesso. Uniram-se novamente todos. A Prefeitura fez a doação do terreno. A sociedade, conscientizada da importância do fato, não regateou ajuda e aplausos. Em pouco tempo, recursos foram levantados, a obra concluída, e o ginásio legalmente instalado.

Outra obra que teve a participação da comunidade foi a construção da Catedral São José, hoje um dos cartões postais da cidade. O mentor deste empreendimento foi o vigário da Paróquia, padre João Asmann. Graças ao seu idealismo, esforço, dinamismo e persistência, foi possível, não somente enfrentar, como vencer a empreitada. Foi uma obra demorada, árdua, dispendiosa, mas a Catedral foi erguida e, posteriormente entregue ao bispado. O ex-deputado Armando Queiroz de Moraes foi o tesoureiro de inúmeras campanhas que se fizeram, para levantamento de recursos. Ele também foi o orador na recepção ao bispo Dom Eliseu Simões Mendes, por ocasião de sua posse, em 23 de abril de 1960.

Outro sonho coletivo foi à luta pelo ensino superior. Ela começou em 1964 e foi concretizada em 24 de agosto de 1972, com a criação da Fundação de Ensino Superior de Campo Mourão (Fundescam) pelo prefeito Horácio Amaral.

Duas personalidades foram fundamentais para a concretização da Fundescam: Horácio Amaral e Dom Eliseu Simões Mendes. O bispo usou sua influencia política para a aprovação dos cursos. Horácio Amaral, prefeito de Campo Mourão, entre 1969 a 1972, fez da Fundescam, a meta síntese da sua administração.

Tanto que o prédio da faculdade foi construído com recursos próprios do município, sem um centavo do Estado ou da União. A sua inauguração ocorreu em 28 de janeiro de 1973, com conferência inaugural ministrada pelo professor Bento Munhoz da Rocha Netto, ex-governador e uma das maiores inteligências do Estado.

Durante o processo de instalação da faculdade, comerciantes se uniram, tendo o Rotary como referência, e doaram todos os livros necessários para a biblioteca da Fundescam. Os estudantes também tiveram papel fundamental: eles organizaram a Comissão Pro-criação da Faculdade de Campo Mourão, que teve papel decisivo para a conquista deste sonho do povo mourãoense.

As atuais instalações do Hospital Santa Casa também foi construído no começo da década de 1990, com a força do povo, liderados por Dilmar Daleffe. A somatória de doações da comunidade, verbas destinadas pela prefeitura e recursos captados pela administração municipal juntos aos governos Estadual e Federal. A obra foi erguida, mesmo com a saraivada de críticas, incompreensões e ignorâncias. As novas instalações da Santa Casa possibilitaram a expansão urbana, com a criação de novos loteamentos e do Hospital da Unimed. Por Jair Elias.