A ‘arte com as palavras’ de Dilmércio Daleffe: há quase três décadas contando histórias no jornalismo
Dilmércio Daleffe, nome de destaque na TRIBUNA, afinal, há quase 30 anos, ele iniciava sua carreira no jornalismo neste mesmo veículo de comunicação de circulação regional, em Campo Mourão. Reconhecido por suas histórias e relatos de vida de pessoas emblemáticas, ele agora se torna a “personagem” central desta reportagem. Nesta segunda-feira (7), Dia do Jornalista, Daleffe é reconhecido como um dos grandes nomes do jornalismo local e regional, cuja influência ultrapassa fronteiras de Campo Mourão. Seu trabalho, que abrange tanto a escrita quanto a fotografia, leva a marca dele a todos os cantos por onde passa.
Com uma redação característica, o jornalista cativa seus leitores com histórias diversas, sempre buscando deixar vivas ‘grandes histórias’. “Já entrevistei bruxas, magos, profetas, coveiros, políticos, prostitutas, famosos. Gente simples, pessoas honestas, canalhas, assassinos. Injustiçados, presos, traficantes, atletas”, resumiu. “Como jornalista, acabei sendo conhecido como um contador de histórias. Consequentemente, fui rotulado como cronista. Sem problemas”, justificou.
Quem influenciou a escrita de Daleffe foi Renan Antunes Oliveira (em memória), um “clássico jornalista”, conforme descreveu, que se tornou um grande amigo. Eles trabalharam juntos na Gazeta do Povo, de Curitiba, mas Oliveira de lá e Daleffe de cá, como correspondente do jornal em Campo Mourão. Oliveira era editor no veículo de comunicação. O colega era poliglota e já havia rodado o mundo, adquirindo grande experiência. Não é à toa que o mentor e grande inspiração do jornalista recebeu, inclusive, o Prêmio Esso, maior honraria do jornalismo brasileiro.
O antigo editor, que se tornou um grande amigo, faleceu na pandemia de Covid-19, no entanto, deixou grandes lições ao jornalista mourãoense. “Ele me deu dicas de formar frases curtas. Ser ousado. Fazer um lead inteligente. Ir direto ao assunto. Ou seja, não enrolar. Aprendi muito com ele. E tenho a humildade em dizer que não consigo escrever nem 10% do que Renan era capaz”, expressou. Os ensinamentos de Oliveira não se restringiram à escrita, mas também fizeram Daleffe perceber a importância de narrar a complexidade humana, encontrando boas personagens para tornar histórias conhecidas e eternizadas nas reportagens que produz.

Histórias marcantes
Todo bom jornalista tem histórias marcantes ao longo de sua trajetória. Com toda a bagagem que tem, para o profissional mourãoense, não seria diferente. Apesar de procurar não se envolver emocionalmente com as situações relatadas por ele, há algumas exceções.
Entre as histórias marcantes que já produziu, o jornalista lembrou de um pai que foi morto pela polícia no Dia dos Pais. Outra foi sobre um picareta conhecido como X9, que enganou um comandante. Teve, ainda, a de um alemão que, após a Primeira Guerra Mundial, veio ao Brasil para não servir Hitler. Um homem simples, acamado em sua casa – uma tapera – que teve os pés comidos por ratos, foi outra narrativa que desafiou Daleffe a levar a público.
Os destaques não param por aí. Em meio a incontáveis produções que ele já fez, recordou-se, ainda, de um caso envolvendo dois amigos que, após um desentendimento, pegaram as armas e fizeram um duelo – os dois morreram e acabaram sepultados a menos de 10 metros um do outro, com uma placa no cemitério que dizia: “Aqui somos todos iguais”. Uma das matérias mais recentes e marcantes para o jornalista foi a história de Miro, um dos melhores amigos do ex-presidente João Goulart, que morou em Peabiru.
A natureza das produções de Daleffe e os envolvidos são os mais diversos possíveis, porém a essência é a mesma: “Em todas elas havia uma grande personagem. Uma grande história. E, em todas, o enredo continuará para sempre. Todos iremos. As histórias ficarão”, afirmou, refletindo sobre o impacto que o jornalismo proporciona na vida das pessoas – sejam elas protagonistas dos relatos ou leitores.

Desafios
Apesar de ser apaixonado pelo jornalismo, Daleffe é realista ao falar da profissão. “Ser jornalista não é escolha. Acho que está no sangue. Uma linda profissão que não paga bem. E a cada dia com o mercado de trabalho menor”, ponderou. Ele não tem a intenção, com isso, de desmotivar novos e futuros profissionais da área. Apesar de ser uma realidade da profissão, ele considera que sempre haverá espaço para os determinados.
Ele próprio é exemplo de perseverança no ramo. Mesmo já tendo passado por grandes desafios enquanto jornalista, inclusive por agressões físicas por conta da profissão, Daleffe jamais abandonou, de fato, o jornalismo. “Nunca consegui deixar o jornalismo. É uma espécie de vício, sei lá”, pontuou.
“Já passei por algumas situações complicadas. Cobrindo uma disputa de terras entre o produtor rural e o MST, em Luiziana, levei um cacete do movimento. Apanhei com facão. Quebraram minha máquina [fotográfica]. Acabei saindo em toda a imprensa internacional. Já o líder do MST, preso”, relatou. “No gabinete de um prefeito da região, fui ameaçado. Trancaram a porta e começaram a fazer ameaças. Consegui escapar à força”, comentou outro fato.
Uma situação inusitada também já foi motivo de tensão entre seus escritos, mas, dessa vez, acabou terminando de forma descontraída. “Também já ‘matei’ um homem. Sem apurar corretamente a notícia, coloquei que o fulano após um acidente havia morrido. Acordei no outro dia com o ‘morto’ me ligando. Acabamos rindo da situação”, narrou.
Experiências como essas o fizeram crescer dentro do jornalismo também. Isso porque, conforme considera, nem sempre é possível estar certo, mesmo nesse ramo, que exige tanta cautela e responsabilidade. “Acredito que o jornalista também deve ter humildade para reconhecer seus erros. Admiti-los é divino”, aconselhou.
Inclusive, para Daleffe, o papel mais importante no jornalismo deve ser falar a verdade, transcorrendo o fato como ele é. Mas o mourãoense admite que, entre os seres humanos, não existe imparcialidade. “Até tentamos isso. Mas o sangue nas veias sempre terá um lado”, afirmou. Por isso, para ele, o principal desafio dessa área é passar ao leitor um registro fiel da notícia.

Motivação e trajetória no jornalismo
Daleffe comentou que desde sempre gostou de “brincar com as palavras”. “A facilidade com as palavras. A necessidade em contar histórias. Já tinha comigo uma missão em mostrar a realidade de um país atrasado política e economicamente”, comentou. Mas foi nos anos 90 que ele deu os primeiros passos para entrar no jornalismo, preparando-se para o vestibular. Em 1996, já estava com a graduação concluída em Comunicação Social, com habilitação em Jornalismo, pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG).
Antes mesmo de se formar, quando vinha para Campo Mourão, já iniciava na TRIBUNA, até então, como estagiário, a prática do que seria posteriormente sua atividade profissional principal pelos próximos anos. “Um tempo em que utilizávamos máquinas de escrever e revelávamos os filmes em preto e branco no laboratório do próprio jornal. Uma época de extremo romantismo e elegância do jornalismo. Cujo tempo, infelizmente, não volta mais”, recordou-se ele, com nostalgia.
Em 1997, entrou oficialmente para o jornal. “A bem da verdade fui ‘adotado’ pelos donos, Nery e Dorlly”, brincou ele, que continua prestando serviços até hoje ao veículo de imprensa mourãoense. Nesse meio tempo, teve “idas e vindas”. Em 1998, o jornalista foi convidado a integrar a equipe do Jornal Indústria e Comércio, em Curitiba, onde atuou por apenas oito meses, pois logo surgiu outra proposta.
Destacando-se cada vez mais na área, as oportunidades não paravam de “bater à sua porta”. Com isso, ele passou a ser correspondente da Gazeta do Povo, em Campo Mourão. Naquele momento, o jovem jornalista se via “voltando para a casa”. Até 2008, ele também se desdobrou para fazer assessorias à Sabarálcool, de Engenheiro Beltrão, e à Coopermibra, de Campo Mourão. Os elos com a TRIBUNA também continuaram.
Apesar de nunca parar de escrever definitivamente, em 2009, Daleffe se distanciou do jornalismo. Ele iniciava, nesse momento, um empreendimento no ramo da gastronomia com a esposa, Ana. As histórias de importantes personagens continuaram sendo relatadas em seu blog: “Humanos”. O gosto pela fotografia também o fez lançar seu primeiro livro, de mesmo nome do seu portal de conteúdos on-line. A obra contém quase 200 fotos.
O jornalista se viu retornando à área de formação de origem durante a pandemia, em 2020, quando precisou suspender as atividades em suas duas empresas no ramo gastronômico que já tinha conquistado até então. Os momentos sombrios pelos quais o mundo passou durante o período pandêmico o deram repertório suficiente para narrar diferentes histórias, que continuaram sendo impressas nas páginas da TRIBUNA. Isso também o instigou a transformar seu antigo blog em um site: “noshumanos.com.br”.
Naqueles tempos, ele também decidiu levar seus escritos a um livro: “No Caminho sem Direção”, lançado em 2022. No mesmo ano, o jornalista e escritor foi reconhecido pela Câmara Municipal de Vereadores de Campo Mourão pelos importantes trabalhos realizados no município, recebendo uma moção, como forma de homenageá-lo.
Atualmente, aos 53 anos, Daleffe segue a parceria fiel com a TRIBUNA, além de continuar atuando como empresário ao lado da esposa. Enquanto escritor, também está se dedicando à conclusão de seu terceiro livro, “Ozires”, um grande novo personagem. “Uma cara que morreu em 22. Um propenso grande jogador de futebol que aos 13 ficou tetraplégico. Mas deu a volta por cima. Se reinventou. Nunca se vitimizou. Dominou a informática. Passou no concurso federal. E virou o homem da casa”, revelou ele, com um breve resumo do que está por vir. “Hoje, acho que passo mais tempo me dedicando aos livros do que ao jornalismo. Outra consequência da procura de grandes personagens”, refletiu.