A depressão ofuscou a alegria de “Garrincha”

Ele sempre foi a cara da alegria. Por muitos anos, era o símbolo do Carnaval de Campo Mourão. Baixinho, engraçado, e com uma vasta coleção de bons companheiros, todos queriam estar ao seu lado. Mas uma parte desta felicidade plena, se perdeu. Ou melhor, foi mascarada por uma doença perversa. Cruel. Divonzir Rodrigues de Souza, o “Garrincha”, sofre pela depressão. Desde os 40 anos de idade, vem travando uma batalha desigual. Ela é mais forte. Não avisa quando chega. Na verdade, é como uma luta entre o bem e o mal. Uma guerra interior. Por duas vezes, o mal tentou levar Divonzir. Mas o bem, prevaleceu. 

Hoje, aos 61 anos, “Garrincha” continua sua jornada pela vida. Trabalha no Hotel da família desde os 16. Ainda sorri. Visita os amigos. Toma um chopp. Fala de política. Se preocupa com a economia. Leva uma vida, aparentemente, normal. Para isso, é submetido a remédios controlados. Capsulazinhas do bem. Aquelas que evitam a chegada do “mal”. “Essa doença nunca avisa quando chega. É desesperador”, diz.

Foi no ano de 2000, quando descobriu os sintomas. Estava em casa, sozinho. Veio uma angústia avassaladora. Tinha vontade de abrir o peito para tirá-la. Não podendo controlá-la, tomou veneno de rato. Quase morreu. Uma cunhada o visitou. E o salvou. Levado ao hospital, venceu a primeira batalha. Começava aí a descoberta da chegada de um mal ainda desconhecido. Era a tão famosa depressão. 

No mesmo ano, “Garrincha” foi encaminhado a uma clínica especializada em Curitiba. Por lá permaneceu 25 longos meses. E, de certa forma, aprendeu a conviver com o próprio drama. Na capital, arrumou emprego e buscou continuar a vida. Mas em 2005, a vontade em tirar a vida, voltou. Desta vez, a depressão havia retornado em sua forma mais violenta. Morando sozinho, a angústia foi cruel. E tomou o veneno de rato novamente. Foi do paraíso ao inferno em segundos. 

“Eu tomei porque alguma coisa inexplicável me obrigou a isso. Mas ainda consciente, não queria morrer. Não dá pra explicar”, disse. Naquele momento, “Garrincha” reuniu forças e pediu ajuda a um vizinho. Foi levado a um hospital. E salvo pela segunda vez. Diante da guerra travada, venceu a segunda batalha. Mas sabia que, ainda era cedo demais para cantar vitória. A doença não se vence de um dia para o outro. Aliás, não se vence. Se controla.

Divonzir nunca casou. Jamais teve filhos. Simplesmente, por assim querer o destino. “Não aconteceu de fazer uma família. Foi natural”, revela. Filho adotivo dos Deitos, é o caçula de dez irmãos. Nasceu em Congoinhas, Norte Pioneiro, em 1960. Desde então, veio a Campo Mourão, onde, segundo ele, recebeu o maior presente terreno que alguém pode ganhar: uma família. “Essa família é tudo pra mim. Meu deu educação. Carinho. Colo. É a minha mega sena”, garante. Dos dez irmãos, seis já morreram. Até hoje, ele mora sozinho. Já se acostumou. Mas não sofre pela solidão. Afinal, trata-se de “Garrincha”, uma das personalidades mais conhecidas da cidade. 

Depois da segunda crise, em 2005, “Garrincha” continuou na capital, até 2011. Em seguida, retornou a Campo Mourão, onde continuou a trabalhar no hotel da família. No ano passado, uma nova angústia abateu sobre ele. Não pensou em suicídio. Mas se submeteu a um isolamento desumano. Ficou dois meses trancado em casa. Não saía. Não recebia ninguém. Não tomava banho. Não fazia a barba. Praticamente, um indigente dentro da própria casa. Comia porque familiares levavam comida e a deixavam ao lado da porta. “Você não é dono de você. A depressão está fora do nosso controle. E tudo o que ela nos apresenta é o suicídio”, explicou.

Preocupados, familiares mais uma vez estenderam a mão. E o levaram pela segunda vez a clínica da capital. Lá, ficou mais quatro meses. E, de certa forma, aprendeu a encontrar novas saídas. Saídas de emergência. De volta a terrinha, “Garrincha” luta dia a dia contra a doença. Segundo ele, mesmo aparentando estar bem, desejos do mal continuam a aparecer. “Tudo vem me ajudando. O trabalho. As pessoas. A família. Deus”, disse. Ele explica que, do nada, muitas vezes se encontra chorando. Parece que forças ocultas o levam para baixo, numa tentativa em diminuí-lo. 

“Garrincha” conta que começou a gostar do Carnaval ainda em 1977. Tinha 17 anos quando foi ao seu primeiro baile, à noite. Desde então, jamais parou. Folião raiz, ajudou a fundar blocos na cidade. Ao lado dos companheiros, fez acontecer as folias de rua. Apesar de baixinho, foi um gigante da alegria. Tornou-se conhecido. Virou mito. Todos o queriam em seus blocos. Era a alma do Carnaval mourãoense.  

“No Carnaval todo mundo se solta. Ninguém é de ninguém. E todo mundo é de todo mundo. Na verdade, é uma confraternização da alegria. Da amizade”, diz. Para ele, é no Carnaval onde o brasileiro se esquece um pouco do sofrimento. Torna a vida mais doce. Fora os bailes e folias que, praticamente, desapareceram da cidade, “Garrincha” tem um excelente gosto musical. E adora curtir músicas em seu apartamento. Adepto ao velho e bom rock and roll, ainda escuta bandas como “O Terço”, da década de 70. Sem contar, é claro, da coleção de sambas enredo. Ele ama o samba. 

Em 2013, o Bloco Cai Nessa o homenageou. Foi tema do enredo. “Garrincha, o eterno folião” dizia: “Garrincha, nosso irmão camarada, eterno folião. Sangue bom. Com amigos assim, enfrentamos as barreiras. Forças pra lutar. Sua linda humildade, nos traz esperança. De tudo que há de bom”. Na época, ainda vivo, o irmão, Darci Deitos, foi ao desfile. E contou a um dos filhos, ter sido uma das maiores emoções, por ele, já presenciadas.  

Divonzir estudou somente até o segundo grau. Não quis ir adiante. Sempre gostou de futebol. Era peladeiro das antigas. Daí surgiu o apelido. Torce ao Palmeiras. E mais do que tudo, acredita em Deus. Possivelmente, sua principal “saída de emergência”, frente ao problema que o aflige. Diante de uma doença incompreendida, buscar a luz vem sendo o caminho a seguir. E, fugir dos próprios demônios, é a árdua missão. Em resumo, uma guerra declarada entre o bem e o mal. Concentrada no cérebro dos humanos de carne e osso.     

Depressão

O transtorno depressivo tem um potencial significativo de morbidade e mortalidade, contribuindo para o suicídio, a incidência e os resultados adversos de doenças médicas, a interrupção das relações interpessoais, o abuso de substâncias e o tempo de trabalho perdido. Em pesquisa realizada durante 2009-2012, 7,6% dos americanos com 12 anos ou mais tiveram depressão (sintomas depressivos moderados ou graves). A depressão foi mais prevalente entre mulheres com idade entre 40 e 59 anos. Com o tratamento adequado, 70-80% dos indivíduos com transtorno depressivo maior podem alcançar uma redução significativa nos sintomas.

A maioria das pessoas com transtorno depressivo não aparenta estar doente. Em pacientes com sintomas mais graves, pode-se observar um declínio na higiene, bem como uma mudança no peso. As pessoas com esse diagnóstico também podem mostrar retardo psicomotor. Entre os critérios para a depressão, pelo menos cinco sintomas devem estar presentes durante o mesmo período de duas semanas. 

1 – Humor deprimido: para crianças e adolescentes, isso também pode ser um humor irritável.

2 – Interesse diminuído ou perda de prazer em quase todas as atividades. 

3 – Alteração significativa de peso ou distúrbio de apetite: para crianças, isso pode significar falha no ganho de peso esperado. 

4 – Distúrbio do sono (insônia ou hipersonia). 

5 – Agitação ou retardo psicomotor. 

6 – Fadiga ou perda de energia. 

7 – Sentimentos de inutilidade. 

8 – Diminuição da capacidade de pensar ou se concentrar; indecisão. 

9 – Pensamentos recorrentes de morte, ideação suicida recorrente sem um plano específico ou uma tentativa de suicídio ou plano específico para cometer suicídio.

Em todas as populações de pacientes, a combinação de medicação e psicoterapia, geralmente fornece a resposta mais rápida e sustentada para o tratamento.