À sombra da compaixão pelos animais

Todos os dias a cena se repete. Por volta das 20h, um homem de 60 e poucos anos para o carro em um estacionamento no centro da cidade. Do veículo retira uma ou duas porções de ração, e uma garrafa de água. Em seguida, vai até um abrigo de madeira, dentro do pátio. E ali, três “amigos” seus, gatos de rua, já o aguardam à espera da refeição. A tarefa não é uma obrigação. Se trata de um prazer. A bem da verdade uma compaixão a quem sempre esteve à mercê das ruas. Distante do calor e carinho humanos.

O homem em questão prefere não ser identificado. Trata-se de um ser humano infestado de gentilezas, educação e boas vontades. Ele é um engenheiro aposentado. Já trabalhou muito. Enquanto a esposa, uma professora. Casados, possuem três filhos, humanos. Além de mais sete “filhos”, felinos, além de outro, canino. O casal sempre gostou muito de animais. E por este motivo, colabora anonimamente à luta da causa animal.

A rotina de sua ida até o estacionamento já tem quase quatro anos. E o motivo é bastante compreensível. Certa vez, quando lá estacionou, notou a presença de uma gata prenha, a quem nomeou de “Judite”. Estava prestes a ter os filhotes. Sensibilizado e com medo dela não ter comida, passou a visitá-la. Nunca mais parou. Nas idas viu a família crescer. E não suportou a vontade em ajudar ainda mais. “Eu tentei pegar toda a família e levar pra minha casa. Mas não consegui. Adotei dois filhotes”, disse. Os gatos se chamam “Chulé” e “Trovão“. E são os xodós da casa.

Mesmo os adotando, o casal não deixou de contribuir com “Judite”. Passados quase três anos, eles ainda a visitam. Todos os dias. No mesmo horário. Chova ou não. E ela já se acostumou aos dengos. Não há um só dia em que a “amiga” não os esperem. “Temos tanto amor aos dois filhos dela que, de certo modo, também a amamos. Ela nos proporcionou o que temos em casa”, explicou a esposa.

Conta ela que desde menina adora animais. Ainda aos nove, com pena de um cãozinho de rua, abandonado e maltratado, o levou para casa. Com medo da reação da mãe, o escondeu no guarda roupas por dois dias. Só que havia um grande problema: o bicho não parava de babar. Foi quando a mãe o descobriu. E a seguir, também descobriu se tratar de uma doença: a raiva. “Graças a Deus ninguém foi infectado”, disse ela, agora sorrindo.

Até a década de 80, o casal vivia em Maringá. Mas quis o destino que a vida os trouxessem à Campo Mourão, ainda em 87. O marido veio a trabalho. Desde então, nunca mais deixou a cidade. E é por aqui, onde executa sua ajuda anônima à causa animal. Tramitando em quase todos os abrigos, faz suas doações sem que ninguém perceba. Além disso, ele e a esposa sempre carregam água e rações no carro. Basta ver um “amigo” de rua e lá vão eles ajudar.