Abençoada, Luana ganhou o rim da mãe. E o filho da irmã

Luana tem 39 anos. É dentista, em Campo Grande. No decorrer da vida, acabou descobrindo o verdadeiro sentido da palavra família. Ainda aos 16, foi diagnosticada por uma doença nos rins. Após mais de um ano em sessões de hemodiálise, recebeu o órgão da mãe. Com o transplante, uma dose a mais de esperança. O tempo passou. Se casou. Mas os riscos de uma gravidez eram gigantescos. Foi então que apareceram suas duas irmãs. Sensibilizadas com o desejo em ser mãe, aceitaram o desafio em gerar o filho. Após quatro tentativas, o menino veio ao mundo. Uma nova vida. Gerada com o máximo de amor de uma irmã, a outra. Luana está viva e é mãe, definitivamente, por causa da família. De sua própria família.

Mais velha de três irmãs, Luana nasceu em um berço forrado por carinho e ternura. Na capital do Mato Grosso do Sul, teve pais pecuaristas. Na caminhada com boa educação e exemplos por seguir, foi pega de surpresa ainda adolescente. Aos 16, numa simples consulta ao ginecologista, relatou ter câimbras regulares. Em seguida, exames revelaram índices elevados de potássio. Preocupada, realizou outro exame, agora o de creatinina, que mede a função renal. O normal seria 0.8. Mas estava 13. Uma alteração absurda. Pronto. Era a deixa às más notícias.

Quase que imediatamente, os pais a levaram até Londrina. Luana havia iniciado a hemodiálise, permanecendo às sessões por um ano e três meses. Mesmo sem sintomas, ela já havia perdido os dois rins. Era uma doença autoimune, conhecida como Granulomatose de Wegener. Então, aos 18, num ato de extremo amor, a mãe doou um dos rins à filha. Ela foi salva e pode levar adiante a própria vida. O problema é que as consequências seriam vistas à frente. Mais especificamente, no desejo em ser mãe.

Como tinha que ser, a moça bonita não demorou a se casar. E logo, veio o desejo dos dois, se transformarem em três. Mas os riscos eram grandes. Ela poderia engravidar, sim. Mas as consequências, devido ao transplante, eram gritantes. Como a família era muito unida, as duas irmãs mais novas, Janaína e Melissa, prontamente ofereceram os ventres para gerar o filho. O que parecia um enredo de novela, estava prestes a acontecer. “Foi difícil convencê-la não engravidar. Mas em 2014, conseguimos que ela aceitasse a ideia. Foi por amor de irmã. Pela preocupação com ela e por querer vê-la como mãe”, disse Janaína, a filha do meio.

Janaína, 36, hoje, é cirurgiã dentista em Campo Mourão. Ao lado do marido, tem três filhos. Conta que desde 2014 se colocou a emprestar a barriga. Foram três tentativas, com a última, bem sucedida. Além dela, a outra irmã mais nova, Melissa, também tentou uma vez. Luana começou a preparação da fertilização em uma clínica em São Paulo. Depois de tudo pronto, era a vez de Janaína viajar e receber o embrião da irmã.

Em 2017, a gravidez finalmente aconteceu. Mês a mês, a barriga foi crescendo. E uma “vidinha”, iniciando o seu ciclo. Unidas num só propósito, as duas irmãs se falavam todos os dias. Preocupações, dúvidas, conversas sobre a gestação. Dias, semanas, meses se passaram.

Então, no dia 30 de maio de 2018, os céus soaram as trombetas. Após nove meses de uma gestação normal, Janaína pôs ao mundo o pequeno Matheus, um menino saudável e fruto de muito amor. Um amor de família. “Foi muito natural. Assim que deixamos o hospital, ele seguiu com minha irmã. Tenho por ele um carinho enorme, mas como um amor de sobrinho. Ele sempre foi filho da minha irmã”, disse. Janaína já tinha três filhos quando gerou o filho de Luana.

Hoje, vivendo a plena felicidade, Luana vive ao lado do marido e do pequeno Matheus, de três anos. “Minha família realmente é diferenciada. Sou quem sou e, estou onde estou – inclusive viva -, devido a eles”, afirma. Para ela, o sentimento é de uma gratidão infinita. Eterna. Não há o que possa fazer para retribuir o que fizeram. “Eu lembro que no dia, o marido da Janaína me agradeceu. Agradeceu dizendo o privilégio de terem trazido uma vida ao mundo. Não esqueço do que me falou”, disse.     Janaína sempre foi destemida. Muito disso, pelas razões de um amor incontestável a irmã. Embora já com três filhos, ela não teve medo. Receios. Ao contrário, sempre foi otimista. Dizia que tudo iria dar certo. Como deu. Luana diz que as três irmãs têm uma ligação única. Diferente. Uma espécie de irmandade de outras vidas. Algo ainda não explicado. Ou melhor, explicado apenas pelo amor. O fato é que nem todo mundo pode se orgulhar de sua família. No caso de Luana, ela tem motivos de sobra. Ela tem duas vidas para se orgulhar: a dela e a do pequeno Matheus. O amor torna tudo mais doce.