Agronomia, a ciência da agricultura

Nesta quinta-feira (28) é comemorado o Dia do Agricultor. Ele tem papel fundamental na vida de todos. Pois, além de cuidar da terra, produz o nosso alimento de cada dia. Mas o que seria da Agricultura sem a Agronomia? Difícil até imaginar. O Engenheiro Agrônomo, doutor em Agronomia, coordenador do curso de Agronomia no Centro Universitário Integrado, Marcelo Henrique Savoldi Picoli, explica que os sistemas produtivos agrícolas atuais são extremamente dependentes dos profissionais Engenheiros Agrônomos.

De acordo com Picolli, são sistemas altamente tecnificados, que exigem muito conhecimento e habilidades para tomadas de decisão de forma assertiva. “Os conhecimentos gerados pela pesquisa científica e tecnológica só chegam ao campo, para tornar os sistemas produtivos mais eficientes, pelas mãos destes profissionais extensionistas, que são responsáveis pela difusão dessas tecnologias para o campo”, diz. Em suma, a Agronomia é a ciência da Agricultura. E ambas caminham juntas.

No cenário atual, em que uma das principais discussões é a produção mundial de alimentos devido ao aumento da demanda e projeção de crescimento populacional nos próximos anos, doutor Picolli destaca a importância do Agricultor neste processo. Para ele, o agricultor é o agente principal de todo o processo de produção agropecuária. “Trabalhar no campo, diariamente, preparando o solo, manejando as pragas e doenças nas lavouras, com o propósito de aumentar a produtividade, é um trabalho árduo que exercem com respeito e dignidade, para alimentar não somente a sociedade brasileira, mas a população ao redor do mundo. Pequenos, médios e grandes produtores trabalham sob sol e chuva para produzir grãos, proteínas, frutas, verduras, que chegam frescos às cidades todos os dias”, afirmou. Leia a entrevista completa abaixo.

Tribuna do Interior – O que é a agronomia?

Marcelo Henrique Savoldi Picoli – Todos os dias, todo mundo é afetado diretamente pela Agronomia. A comida que ingerimos, o café que bebemos, o etanol que utilizamos nos carros, as fibras naturais que vestimos, e até mesmo a grama do futebol do final de semana, todos são produtos da Agronomia e do trabalho dos Engenheiros Agrônomos e de agricultores engajados em seu trabalho. Agronomia é a ciência e a prática que olha para a agricultura de forma integrada, em uma perspectiva holística. Enquanto ciência, estes estudos se baseiam nas propriedades dos solos e como estes solos interagem com o crescimento das culturas; quais nutrientes as plantas precisam, bem como quanto e quando aplicar; as formas que as culturas crescem e se desenvolvem; como o clima e outros fatores ambientais influenciam os vegetais em todos as suas etapas de crescimento e desenvolvimento; como controlar de forma eficiente plantas invasoras, pragas e doenças nestes cultivos. É importante salientar que todos esses aspectos levam em consideração o cultivo de forma eficiente, de modo a conservar os recursos naturais e proteger o meio ambiente.

Qual o papel de um engenheiro agrônomo em uma propriedade rural?

Engenheiros Agrônomos atuam no campo da agricultura e pecuária e possuem um amplo leque de atuação em seu trabalho. De forma simplificada, podemos dizer que o Engenheiro Agrônomo é o doutor das plantas, trabalhando em prol da saúde e bem estar das culturas usadas para a produção de alimentos combustíveis, fibras, etc. Desta forma, estes profissionais têm papel relevante na difusão de novas tecnologias para o campo, usando seu conhecimento para recomendar soluções para os produtores rurais, em seus diferentes sistemas produtivos.

Agricultura vive sem a agronomia nos dias de hoje?

Os sistemas produtivos agrícolas atuais são extremamente dependentes dos profissionais Engenheiros Agrônomos. São sistemas altamente tecnificados, que exigem muito conhecimento e habilidades para tomadas de decisão de forma assertiva. Os conhecimentos gerados pela pesquisa científica e tecnológica só chegam ao campo, para tornar os sistemas produtivos mais eficientes, pelas mãos destes profissionais extensionistas, que são responsáveis pela difusão dessas tecnologias para o campo.

Nesta quinta-feira (28) é comemorado o Dia do Agricultor. Qual a importância dele para a sociedade?

O Agricultor é o agente principal de todo o processo de produção agropecuária. Trabalhar no campo, diariamente, preparando o solo, manejando as pragas e doenças nas lavouras, com o propósito de aumentar a produtividade, é um trabalho árduo que exercem com respeito e dignidade, para alimentar não somente a sociedade brasileira, mas a população ao redor do mundo. Pequenos, médios e grandes produtores trabalham sob sol e chuva para produzir grãos, proteínas, frutas e verduras, que chegam frescos às cidades todos os dias.

Como o senhor analisa os avanços tecnológicos na agricultura brasileira nos últimos anos?

Investir em inovação no agronegócio é primordial, dada a demanda de alimentos em escala global, onde se tem uma projeção de chegarmos a 9,8 bilhões de pessoas em 2050. A produção agrícola e pecuária brasileira tem se modernizado rapidamente com os avanços tecnológicos disponíveis para o campo. Nos últimos anos, a tecnologia ganhou espaço no meio rural, permeando vários segmentos dos sistemas produtivos, bem como em processos de gestão da produção e comercialização de produtos ou commodities. Estes avanços são positivos, e garantem maior eficiência produtiva e economia de recursos, resultando em maior retorno financeiro aos produtores rurais e maior sustentabilidade às lavouras.

Na sua opinião, quais as principais inovações tecnológicas no setor?

As diferentes inovações tecnológicas estão transformando a realidade no campo. Dentre as principais, podemos destacar a Internet das Coisas (IoT – Sigla que vem do inglês Internet of Things), onde cada vez mais, os sistemas estão integrados à internet. Em sintonia, temos as smart machines, ou máquinas inteligentes, que são as principais inovações tecnológicas no campo que mais devem impactar a produtividade agropecuária. Estes são equipamentos autônomos que podem ser programados ou controlados à distância, com o auxílio e com os avanços da robótica, implantação de sensores, inteligência artificial e algoritmos cada vez mais potentes. Softwares que otimizam a produção e a gestão no campo, também estão entre os principais avanços, além de novas ferramentas para sensoriamento remoto, uso de drones em mapeamentos e aplicações.

De que forma estas tecnologias têm impactado o agro?

As tecnologias ajudam desde o preparo do solo, plantio, controle de pragas, doenças, plantas daninhas, até a colheita e comercialização destes produtos. Estamos vivendo uma grande revolução tecnológica com o avanço dessas inovações no meio rural. Programas de gestão automatizada e eficientes proporcionam melhorias nos processos produtivos, eliminando trabalhos manuais e diminuindo grande parte dos erros operacionais. Neste sentido, os sistemas se tornam muito mais integrados com diferentes áreas, sendo possível identificar com mais rapidez onde estão os gargalos da produção e otimizá-los para que a atividade se torne mais rentável e produtiva.

A tecnologia na agricultura brasileira está aquém de países desenvolvidos ou se iguala? Por sua experiência, que análise faz?

Sabemos que a ciência aliada à sustentabilidade é o caminho para a segurança alimentar global. O modelo de agricultura brasileira, baseado em ciência, tecnologia e inovação, tornou o país um dos principais atores mundiais na produção de alimentos e biocombustíveis. A tecnologia utilizada nos sistemas produtivos brasileiro se iguala àquelas utilizadas em países desenvolvidos. O diferencial é que, muitas vezes, em países desenvolvidos, essas tecnologias estão mais acessíveis a diferentes grupos de produtores, incluindo pequenos produtores e aqueles de agricultura familiar. No Brasil, grande parte dessas tecnologias são economicamente viáveis e acessíveis somente aos grandes produtores.

A guerra entre na Ucrânia agravou a crise alimentar mundial com a falta de fertilizantes. O senhor acredita que pode se chegar a ponto de haver falta de alimentos? Se sim, isso pode refletir por aqui no Brasil também?

Sim, o cenário geopolítico atual, com a guerra entre a Rússia e a Ucrânia, afeta diretamente a produção e distribuição de alimentos no mundo. Esta segurança alimentar é influenciada principalmente pela falta de fertilizantes, uma vez que a Rússia é o principal exportador destes insumos para o Brasil, e sofreu sanções comerciais significativas desde o início da guerra. Embora o governo brasileiro esteja buscando fontes alternativas para solucionar essa demanda, a alta no preço destes produtos impacta na quantidade de alimentos produzida, e consequentemente no preço destes alimentos para o consumidor final. Neste cenário, políticas públicas coerentes são necessárias para amenizar essas consequências.

Hoje, quando se fala em agricultura o foco é geralmente voltado ao grande produtor. Mas e a pequena agricultura como caminha nos dias de hoje? Ainda há espaço para ela?

Pequenos produtores rurais e agricultura familiar são tão importantes e fundamentais quanto os grandes produtores. Grande parte das unidades produtivas são de propriedades rurais, que empregam uma significativa porção da mão de obra no campo, e produzem a maioria dos alimentos de mesa que consumimos todos os dias. São estruturas produzindo hortaliças, frutas, carne suína, frangos, entre outros alimentos. Muitos destes pequenos produtores utilizam-se de canais mais diretos de comercialização, ou fazem parte de associações e cooperativas, que facilitam o processo de comercialização, uma vez que estas organizações sociais garantem uma melhor visibilidade e capacidade competitiva no mercado. Vale ressaltar que é papel de toda a sociedade estimular e colaborar com os pequenos produtores rurais.

Como o senhor vê o futuro do agro no Brasil?

O Brasil ocupa um papel importante na produção de alimentos, garantindo a segurança alimentar global. Este protagonismo na produção de comida só deve aumentar nos próximos anos, principalmente por conta do aumento populacional. Este crescimento está alinhado com a demanda mundial por alimentos, o que só pode ser alcançado com sistemas produtivos mais eficientes. A sustentabilidade da produção é uma preocupação cada vez mais visível, evidenciando a necessidade de aplicação de práticas mais sustentáveis, sendo este o grande desafio do agronegócio brasileiro para os próximos anos. Outro desafio que permeará o agronegócio brasileiro é a interação com os avanços tecnológicos. Cada vez mais, é essencial que áreas produtivas utilizem tecnologias para conectar a produção no campo com os processos de distribuição destes produtos. Muitas destas tecnologias ainda estão em desenvolvimento e devem crescer muito no Brasil nos próximos anos. Nós conseguiremos acompanhar este crescimento e esta demanda somente se investirmos na formação de profissionais capacitados e em pesquisas científicas pautadas no desenvolvimento de tecnologias mais limpas e sustentáveis para os nossos sistemas produtivos.