Alunos de comunidades rurais ainda estudam no sistema antigo

Uma única professora dando aulas para duas ou até três turmas de diferentes séries ao mesmo tempo e na mesma sala. O que parece coisa do passado ainda é uma realidade em três comunidades rurais do município de Campo Mourão. A principal justificativa da Secretaria Municipal de Educação para manter esse antigo sistema, conhecido como multianual, é o número reduzido de alunos por turma e a resistência das próprias comunidades em desativar as chamadas escolas do campo e mandar os alunos estudarem na sede do município. 

Quem visita as salas de aula nas escolas Manoel da Nóbrega (Km 128 – Estrada Boiadeira), Caetano Munhoz da Rocha (Alto Alegre) e Narciso Simão (no distrito de Piquirivaí) tem a impressão que o tempo não passou. Duas e até três turmas do ensino fundamental são atendidas, ao mesmo tempo, por uma mesma professora. 

A reportagem da TRIBUNA visitou a Escola Manoel da Nóbrega, no Km 128 (cerca de 15 km da sede), onde trabalham três professoras. Uma delas, Jasmine Souza Godoi, atende ao mesmo tempo alunos de 4 e 5 anos da educação infantil 1 e 2. É um desafio pra gente como profissional, pois é um sistema que dá mais trabalho. Em compensação, por ter poucos alunos, é possível atender melhor, afirma a professora.

No total, a escola conta com 23 alunos, todos residentes na zona rural, que estudam em período integral (das 8 às 17 horas). São 9 alunos na sala de educação infantil 1 e 2; outros 5 no 1º e 2º anos e 9 no 3º, 4º e 5º anos. Mesmo com poucos alunos o município tem que proporcionar a estrutura de qualquer outra escola, explica a secretária municipal de Educação, Tânia Caetano. São duas professoras para cada sala, uma funcionária da limpeza, outra na cozinha, uma orientadora e uma diretora.

A diretora, Marineide da Luz, reconhece que pedagogicamente o sistema multianual entra em conflito com os métodos modernos de  formação dos professores. Mas ela também destaca os pontos positivos. Aqui é possível fazer um trabalho praticamente individualizado, o nível disciplinar é muito melhor e a comunidade participa mais, ressalta. A comprovação do que ela diz veio na recente avaliação da gestão escolar, onde a escola ficou entre as melhores avaliações.

Ela explica que nas comunidades rurais a escola acaba funcionando como um ponto de encontro social, utilizada também pelos pais dos alunos. A escola é o ponto de referência da comunidade e por isso os moradores também ajudam a cuidar do patrimônio, afirma a diretora. 

A secretária Tânia Caetano diz que em Campo Mourão o sistema é a única maneira de ainda manter funcionando as três escolas rurais. Já tentamos trazê-los para estudar na sede, mas os pais não aceitam porque entendem que a manutenção da escola também é uma forma de manter a comunidade, justifica. Além da escola, a comunidade KM 128 conta com posto de saúde, uma capela, associação de moradores e campo de futebol. 

Em 2017, foi desativada a escola do campo Zacarias de Paula Xavier, na Comunidade Fazenda Boa Esperança, onde havia apenas cinco alunos. A cada ano que passa vem diminuindo o número de alunos nas escolas do campo e para o município o investimento feito daria para atender muito mais alunos. Mas em termos de resultado para o aluno, tem sido positivo, completa a secretária.