Após sete anos, Justiça marca julgamento de suspeito da morte de Silvio Ribeiro da Silva

A justiça marcou para 29 de fevereiro do próximo ano, o julgamento do agricultor Hildeson Sambati. Ele é acusado pela morte do ex funcionário da Santa Casa de Campo Mourão, Silvio Ribeiro da Silva, no dia 21 de abril de 2016. A vítima foi morta por dois disparos de arma de fogo, pelas costas, após deixar a casa da namorada, no Jardim Albuquerque.

Silvio tinha uma vida tranquila. Divorciado e com dois filhos, vinha traçando os seus próprios objetivos. Não dependia de ninguém. Trabalhava há mais de duas décadas no setor administrativo do Hospital Santa Casa. E, em plena liberdade, arrumou uma namorada. Mais adiante, com um bom relacionamento, passou a dormir na casa dela. Uma rotina diária.

Mas, naquela manhã de 2016, Silvio não apareceu para trabalhar. Possivelmente, a única falta em mais de 20 anos de trabalho. Ao deixar a casa da namorada, não mais que alguns passos, na Avenida Parigot de Souza, acabou morto por disparos. O primeiro tiro veio pelas costas, direto na nuca. Caído, já praticamente sem vida, recebeu o segundo. Agora na cabeça, como uma espécie de execução. Um crime passional. Recheado de ódio e ciúme.

Na época, populares afirmaram terem visto um homem vestido de preto, utilizando uma motocicleta. Ele teria esperado a vítima chegar até a esquina e efetuado os disparos. A polícia constatou que o crime teve motivação passional e teria sido cometido pelo agricultor, e ex namorado da mulher, Hildeson Sambati, também conhecido como Hildo. Após o crime, ele fugiu. Mas dias depois, após deixar o flagrante, acabou se apresentando à polícia, quando teria confessado a autoria, em legítima defesa. Depois disso, saiu em liberdade, conforme as leis brasileiras.

Já são mais de sete anos da morte de Silvio. Hildeson jamais foi preso. A família vitimada clama por justiça. Há quatro anos, em entrevista à TRIBUNA, a mãe de Silvio, Lourdes Onhibene da Silva, lamentou a morte do filho. “Queremos Justiça, isso não pode ficar impune. Um pedaço da família se foi com a morte dele. Uma parte do meu corpo parece que foi embora. A Justiça tem que fazer a parte dela”, clamou. A dor da mãe foi tamanha que ela não suportou tanta espera. Ela morreu há um ano. E sem ver a justiça ser feita.

Segundo as investigações da polícia, à época dos fatos, Hildeson não aceitava o fim do relacionamento com a mulher. Acabou perdendo a cabeça e, com ela, todas as demais razões. Familiares da vítima também revelaram que o mesmo vinha ameaçando Silvio há mais de uma semana antes do homicídio. A polícia também encontrou a arma do crime dentro do guarda roupas, na casa de Hildeson.

“É um caso passional. Por questões de ciúmes depois do fim do relacionamento do casal, o autor dos tiros passou a acompanhar a rotina da ex namorada. Inclusive, pulando o muro da casa dela. Também vinha passando em frente à casa da vítima de moto ou de caminhonete. Identificamos a moto usada no dia do crime e já temos a arma e munições que foram usadas no homicídio. Enfim, todas essas informações já estão no inquérito e as medidas necessárias foram tomadas”, disse na época, à imprensa, o delegado que conduzia o inquérito, Nagib Nassif Palma.

“Queremos justiça. Meu irmão foi covardemente assassinado. E o criminoso, réu confesso, até hoje não foi preso”, cobrou o mecânico industrial, Dionísio Ribeiro da Silva, irmão de Silvio. Segundo ele, a impunidade só aumenta o sofrimento da família. Dionísio reconheceu que a polícia fez a sua parte, identificando o autor do crime, elucidando também a causa do mesmo.

Silvio era o irmão do ‘meio’ de sete irmãos, quatro homens e três mulheres. Segundo Dionísio, ele deixou um filho tetraplégico que dependia dele para tudo. “O meu irmão hoje está enterrado. E o cara que o matou vive numa boa, curtindo a vida”, disse Dionísio. Silvio foi descrito por ele como uma pessoa especial. “Todo mundo o conhecia na cidade, era uma excelente pessoa. Mas parece que estamos vivendo em um mundo de faroeste. O sujeito mata, foge, o advogado usa sua estratégia de esconder o réu. Depois ele aparece e fica respondendo pelo crime que praticou em liberdade, como se nada tivesse acontecido”, desabafou.

Na época, Hildo confessou a autoria à polícia. Mas anos depois, em audiência à justiça, exerceu seu direito de ficar em silêncio. O recurso está com o relator do TJ desde 16 de fevereiro de 2023.

O que diz a defesa de Hildeson

De acordo com o advogado Márcio Berbet, Hildeson Sambati se apresentou espontaneamente à autoridade policial, confessando a autoria do delito. Por sua vez, alegou uma ação de legítima defesa. “Ele é pessoa conhecida, e não possuía antecedentes criminais quando da ocorrência do delito”, explicou.

Segundo ele, o processo teve sentença de pronúncia, que é a decisão que, por indícios de materialidade e autoria, levam o denunciado a Júri Popular. Da referida decisão houve recurso junto ao TJPR, a qual foi negada.