Bombeiro de Campo Mourão compôs força-tarefa no RS em busca de desaparecidos por enchentes

Destemido, o Subtenente do quartel do Corpo de Bombeiros de Campo Mourão, José Carlos De Souza, compôs uma força tarefa de 52 bombeiros militares do Paraná enviados pelo Governo do Estado para a cidade de Arroio do Meio, no Rio Grande do Sul, para as buscas de pessoas desaparecidas na maior enchente já registrada na história do Rio Taquari.

De acordo com os últimos dados atualizados pela Defesa Civil do Rio Grande do Sul, foram 48 mortes até o momento. Outras 9 pessoas ainda estão desaparecidas: 4 em Muçum, duas em Lajeado, Arroio do Meio, Roca Sales e Encantando contabilizam 1 desaparecido cada.

De Souza que seguiu em um comboio de 15 viaturas no dia 10 deste mês já está de volta a Campo Mourão. E contou a experiência de sua participação na missão à TRIBUNA. O bombeiro está na corporação há mais de 30 anos. É formado em Educação Física pela UEM e especialista em Gestão Pública, além de possuir Curso de Guarda-Vidas, Curso de Sistema de Comando de Incidentes, Curso de Socorrista, Curso de Salvamento em Altura e Estágio em Operações de Busca e Salvamento.

Segundo ele, em alguns locais, as enchentes do Taquari atingiram até 29 metros de altura. Ou seja, em locais mais baixos a água foi muito longe provocando muita destruição, arrastando tudo o que encontrava pela frente como casas, plantações, animais, maquinários, entre outras estruturas inteiras. “Um cenário de devastação total e tristeza”, classificou.

De Souza disse que a missão do grupo no local era encontrar as vítimas do desastre, vivas ou mortas. Ele lembrou que inicialmente o Paraná enviou alguns bombeiros e 3 cães, mas que posteriormente encaminhou outra força tarefa a qual ele fez parte. “Ficamos por sete dias fazendo buscas nas encostas onde o rio empurrou tudo o que se possa imaginar. Pelo caminho encontramos muitos animais mortos, móveis e destroços de casas”, disse. O bombeiro relatou que alguns moradores informaram que em 2020, já houve uma enchente no Vale do Taquari, porém de magnitude bem menor.

Até a permanência do subtenente na missão, as equipes do Paraná tinham localizado dois corpos durante as buscas. Ele disse que o município de Arroio do Meio, onde o grupo ficou concentrado, tem uma população estimada em 20 mil habitantes, sendo que mais de 4 mil pessoas foram diretamente atingidas. Desta cidade, havia apenas um morador desaparecido. Porém, como moradores de cidades próximas foram arrastadas pelas enchentes, haviam chances de estarem na localidade.

O subtenente disse que as buscas – que ainda continuam – são feitas por ar, com drones; água, onde equipes, com uso de embarcações, buscam por possíveis corpos boiando; e terra, com maquinário pesado, na escavação de escombros. “A força tarefa retornou esta semana, mas o Paraná já encaminhou outra com cães de buscas de outros grupamentos”, falou o bombeiro.

Em meio a tanta tragédia e dor, De Souza disse que foi possível perceber um grande esforço conjunto da comunidade em geral e órgãos públicos na busca de normalizar a situação. “Nas regiões atingidas é enorme a quantidade de lama, entulhos, escombros de casas, e muita sujeira. Mas a gente pôde perceber um esforço coletivo para o restabelecimento da normalidade”, comentou, ao citar que muitas pessoas continuam desalojadas ou desabrigadas. “Estas necessitam atenção especial por parte dos órgãos públicos”, observou.

Além de toda a lama, entulhos de casas e vegetação levada pelas águas do Taquari, entre outros riscos operacionais, outro grande desafio das equipes, segundo De Souza, foi enfrentar o frio no local. Segundo ele, houve dias em que os bombeiros iniciaram os trabalhos pela manhã com temperatura a 3 graus. Nas buscas, os profissionais utilizam um traje especial de borracha de 3 milímetros para facilitar a locomoção em meio aos obstáculos e remoção da sujeira posteriormente.

Além disso, durante as buscas, houve um dia de chuva intensa, o que tornou a operação ainda mais arriscada. “Mas conseguimos cumprir nossa missão fazendo a varredura de toda a área para a qual fomos designados. Foi uma experiência incrível”, resumiu o bombeiro ao se solidarizar com o povo gaúcho. “Que possam se reerguer o mais rápido possível. Foi triste ver toda aquela devastação e famílias chorando por perdas de parentes e tudo o que tinham”, acrescentou. O quartel de Campo Mourão é subordinado ao 5º Grupamento dos Bombeiros, com sede em Maringá.