Campo Mourão: Os desafios de uma “senhora” de 76 anos

Uma cidade planejada. Com quase 100% de suas vias asfaltadas. Bem arborizada e, ainda cercada por parques e lagos. Inserida a ela, uma população alegre, calorosa, receptiva, trabalhadora, com praticamente 100 mil habitantes. Esta é Campo Mourão. Completando 76 anos de emancipação política, o município comemora avanços. Mas também, repensa sobre novos desafios surgidos com o seu crescimento.

Prefeito de Campo Mourão, Tauillo Tezelli explica que, hoje, possivelmente, o maior desafio do município é a continuidade de programas lançados pelo governo federal. “É preciso que o governo pense mais na parte humana. Falta o acompanhamento para que aqueles projetos de ontem, tenham sua prorrogação no futuro”, disse. Ele cita como exemplo, o caso do asilo. “As verbas que vinham para ele há 20 anos, são as mesmas de hoje. E é por isso que o município e a própria sociedade têm que fazer de tudo pra que lá não feche”, concluiu.

Tezelli diz que, mesmo com uma arrecadação por volta de R$500 milhões, todos os dias o município enfrenta problemas nos mais diversos setores e áreas. “Às vezes não sabemos nem por onde começar”, disse. Para isso ele tem ao seu lado 3092 servidores travando diariamente os desafios em manter a cidade como está. De acordo com a Secretaria de Fazenda, a previsão para 2024, é um orçamento de R$567 milhões.

Campo Mourão cada vez mais tecnológica

É comum escutar relatos sobre os bons ares de Campo Mourão. Pessoas que aqui chegaram, jamais retornaram. E as que saíram, não se esquecem, com gostinho de voltar. E isso se explica por vários motivos. A começar com a boa e eterna receptividade da população. De certa forma, calor humano se tem em cada esquina. Mas, nos últimos anos, tornou-se comum o cenário de profissionais de outras cidades, estados e, até países, ancorarem por estas bandas. Neste caso, oportunidades de emprego, principalmente, com a criação de novas empresas. A maioria, de tecnologias, nascidas e criadas em solo mourãoense.

Nichollas Marsell chegou à cidade em 2016. Deixou a grande São Paulo em busca de novas oportunidades. E conseguiu. Hoje, aos 31, diz ter um milhão de motivos pra nunca mais ir embora. “Um lugar que me acolheu e onde construí minha família. É uma terra de oportunidades e abraça todos aqueles que querem empreender. Uma cidade segura para morar e se viver”, disse. Conta que chegou ainda aos 23. E foi idealizando sonhos quando alçou voos. Desde aquela época trazia na bagagem planos para empreender tecnologicamente. Não só realizou tudo o que imaginou como,
atualmente, emprega novos possíveis empreendedores.

Aos 76 anos de emancipação política, Campo Mourão continua a crescer. E colhendo os frutos de seu povo. De seus filhos. Gente que apostou na cidade. E os números são impressionantes. De acordo com a Secretaria de Desenvolvimento Econômico, atualmente são 1,5 mil pessoas empregadas diretamente em empresas com novas tecnologias. O resultado destaca a cidade como a maior geradora de empregos neste setor, no Paraná. E a colocando na sexta posição, no país. “Também estamos em segundo lugar em todo Paraná no número de startups”, disse o secretário Akira Azuma.

O resultado destas novas empresas, ao lado de outros segmentos, é exemplificado através da geração de emprego. Pelo 7º mês consecutivo, o município teve saldo positivo, apontou o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). Somente no último mês, foram 199 vagas criadas. Ou seja, no ano, Campo Mourão teve saldo positivo em todo o período. O acumulado de 2023 é de 1.058 postos de trabalho gerados. Akira também destaca a atuação de duas empresas de tecnologia na agricultura. Sediadas na cidade, juntas, detém 50% do mercado de todo o país.

Trânsito da cidade precisa de avanços

Mas se a geração de empregos está seguindo os bons ventos, é fato que em outros aspectos, a cidade precisa avançar. E isso se mostra no trânsito. Mesmo fazendo uma série de adequações nas vias, empregando o estacionamento rotativo e, ainda, colocando semáforos em alguns bairros, o município precisa de um plano emergencial, principalmente, na área central. Ali, veículos se amontoam ao virar esquinas ou para atravessar avenidas. “Temos uma cidade de 100 mil habitantes, com 80 mil veículos. Acredito que tenhamos sim que repensar a área central”, disse o prefeito Tauillo Tezelli.

Ele explica que a preocupação com o trânsito fez com que a administração criasse, há pouco tempo, a Diretran. “Antes dela, não existia nenhum órgão que pensasse nisso”, explicou. Hoje, além de novos semáforos, devem ser implantados pardais em pontos críticos da cidade. E, enquanto as mudanças não ocorrem, regulando onde os carros podem ou não atravessar avenidas, a prefeitura planeja atuar diretamente nas escolas, através de campanhas educacionais voltadas ao trânsito.

Com o tema “No trânsito, escolha a vida”, a cidade promoveu no último mês, a Semana Nacional do Trânsito. Além de uma audiência pública na Câmara de Vereadores, foram realizadas duas blitz educativas com alunos das redes particular e municipal, com apoio da Polícia Militar e Diretoria de Trânsito.

O número de acidentes registrados na cidade reforça a necessidade da campanha, intensificada nos meses de maio e setembro. Somente no dia 15 de setembro, ocorreram cinco acidentes de trânsito na área urbana, que resultaram na morte de duas pessoas. No ano passado a Polícia Militar atendeu 350 acidentes, com 28 óbitos. Em 2023, já foram registrados 24 óbitos.

“Temos um trabalho permanente de educação no trânsito e de melhorias na sinalização, com implantação de semáforos, faixas elevadas, ruas com sentido único. Mas infelizmente é alto o número de autuações diárias por desrespeito a legislação”, observa o secretário municipal da Seimob, Ireno dos Reis Pereira. Em 2023, até o mês de agosto, foram 17.850 multas por parte dos agentes de trânsito.

A guerra contra o tráfico de drogas é outro desafio

Não é novidade a ninguém o sangue derramado pelo tráfico de drogas em Campo Mourão. E a distribuição – compra e venda -, parece só aumentar. Resultado direto desta comercialização, 21 pessoas, a maioria jovens, foram assassinadas em 2023 – um aumento de 34% em relação ao mesmo período de 2022. “O tráfico de drogas na cidade é bastante ativo. Temos que combatê-lo. E isso não é uma realidade apenas de Campo Mourão”, afirmou o Tenente Coronel, Willian Silveira, Comandante do 11º Batalhão de Polícia Militar.

Ciente do problema, o Batalhão vem recebendo recursos do governo do Paraná – cerca de R$1,5 milhão -, para colocar em prática novos sistemas de tecnologia. De acordo com Silveira, exemplo disso é a chegada do sistema “Olho Vivo”. Com câmeras instaladas em pontos estratégicos da cidade, deve começar a operar até o final do ano. Com ele, mesmo que uma viatura não esteja por perto, a instituição poderá acompanhar qualquer situação através de telas instaladas na corporação. “Campo Mourão é uma das primeiras cidades do estado a receber o sistema”, disse.

Além disso, novas tecnologias, principalmente, através de celulares, estão sendo introduzidas para agilizar a atuação das equipes. “Com a aplicação de novos programas, acreditamos que conseguiremos diminuir os casos de homicídios na cidade”, disse Silveira. Hoje, quase a totalidade dos homicídios e tentativas de homicídio, são reflexos do tráfico de drogas em Campo Mourão.

Silveira também comemora a chegada de mais 73 novos soldados ao Batalhão, formados pela própria escola da PM, o que colabora com a intensificação das abordagens, principalmente, em regiões onde há tráfico. “Além deles, o governo também abrirá novo concurso para a chegada de novos policiais”.

DADOS COMPARATIVOS JANEIRO A SETEMBRO 2023/JANEIRO A SETEMBRO 2022

FURTOS – 42%
ROUBOS -49%
PRISÕES +1,87%
MANDADOS DE PRISÃO +31,6%
HOMICÍDIOS +34%

2023

83 ARMAS APREENDIDAS
136 VEÍCULOS RECUPERADOS
1.268.143 KG MACONHA APREENDIDA