Cigarrinha do milho ameaça segunda safra; produtor deve ficar em alerta

Com a semeadura do milho 2ª safra praticamente concluída na região de Campo Mourão, os produtores rurais devem ficar atentos agora para o controle de pragas. Uma das principais preocupações é a cigarrinha do milho (Dalbulus maidis) que coloca em risco a produção da cultura. A região já vem registrando a ocorrência da praga em safras anteriores.

O inseto se esconde no cartucho da planta, inoculando agentes que causam doenças, causando sérios prejuízos para o agricultor. Em alguns casos pode haver perda de até 100% da lavoura. Para controlar a cigarrinha, ou conviver com a praga, o produtor deve adotar uma série de recomendações técnicas que vão da escolha das sementes híbridas, ao monitoramento da lavoura e uso de produtos mais eficientes nos cultivos, conforme explica o engenheiro agrônomo do IDR-PR, Claudinei Antonio Minchio; doutor em fitossanidade.

Na Comcam o milho segunda safra ocupa uma área de 343.600 hectares, enquanto no Paraná são 2,4 milhões. A produção estadual corresponde a 14,7 % da produção nacional de milho. “A cultura do milho enfrenta hoje um dos seus maiores problemas fitossanitários causados pelo aumento da pressão de pragas e doenças, tendo como causa o crescimento da área de milho safrinha e pela adoção de sistemas irrigados, quebrando o intervalo de plantio, pois é cultivado praticamente o ano todo, e em todo o Brasil. Um dos fatores limitantes à produção de milho hoje no País é a cigarrinha do milho”, disse Minchio.

Segundo ele, na região de Campo Mourão a situação não é diferente, haja vista que este inseto já está disseminado por toda a área de produção. “Seus danos são diretos, quando a praga, em população muito elevada, suga a seiva continuamente da planta do milho, levando a planta à exaustão e ao desenvolvimento de fumagina sobre as suas folhas. Também produz danos indiretos quando a cigarrinha do milho se torna vetor de transmissão de doenças do complexo dos enfezamentos, causados por microrganismos:  molicutes (semelhantes a bactérias) e vírus”, explicou.

Segundo o agrônomo, este complexo de doenças provocadas por molicutes e vírus tem um histórico relatado de prejuízos da ordem de 80 milhões de dólares para os produtores de sementes no sul da Flórida, nos Estados Unidos em 1979 e 1980. “Não é de hoje que esta praga é estudada e também seu surgimento não é tão recente assim”, afirmou.

De acordo com o IDR-PR, há pelo menos dois anos a ocorrência da cigarrinha vem aumentando no Estado. O órgão acredita que neste ano o estado não repita os resultados da safra 2019/2020, quando colheu 15,5 milhões de toneladas do cereal, devido aos prejuízos causados pela praga. 

Minchio explicou que, de acordo com a Associação Brasileira de Produtores de Milho, a incidência da cigarrinha cresce nas lavouras do país e preocupa o setor produtivo, visto que há relatos de produtores que seguem todas as recomendações técnicas preconizadas, como eliminação de milho tiguera, uso de híbridos tolerantes, tratamento de sementes e mesmo assim, chegaram a realizar até 20 aplicações de inseticidas, porém sem sucesso no controle da praga, com informações de perdas da ordem de 50 a 100 % da produção.

Milho tiguera

“A pergunta é: o que aconteceu para um inseto antes considerado praga secundária, pois sempre existiu nas lavouras de milho, para de repente, se tornar na principal praga do milho, desbancando o terrível percevejo barriga verde?Aparentemente, a culpa por tudo isso que está acontecendo tem sido colocada no milho tiguera (aquele milho que fica de uma safra para outra, que nasce no meio da cultura da soja, que germina na beira das estradas) e, também se culpam os híbridos de milho mais sensíveis às doenças transmitidas pelo inseto”, falou o engenheiro agrônomo.

De acordo com Minchio, as recomendações técnicas para a região, para o controle de pragas do milho, colocam o percevejo barriga verde na linha de controle na fase inicial, com cerca de 3 aplicações de inseticidas até a planta atingir o estádio de 5 folhas definitivas, e num intervalo de 2 a 3 dias, aplicações de inseticidas para o controle de cigarrinha do milho, caso ela apareça nas plantas. “Nas amostragens, a simples presença do inseto já é indicativo para a aplicação ou não de inseticida. O que na maioria das vezes, se opta pela aplicação, pois o inseto sempre vai estar presente, uma vez que ele pode migrar de uma lavoura para outra”, destacou. 

Com isso, observou o agrônomo, estão se recomendando pelo menos 5 aplicações para cigarrinha até que o milho esteja na altura máxima de entrada do trator na lavoura. “Somando às três primeiras aplicações para percevejo mais cinco  para cigarrinha, o produtor já está fazendo oito aplicações para o controle de pragas iniciais, mais uma aplicação para pulgão e pelo uma aplicação de fungicida para o controle preventivo de doenças, o que pode totalizar dez aplicações, no mínimo para a cultura do milho”, frisou.

Gastos com inseticida

Conforme dados da Adapar/Saigro, comparando os gastos com inseticidas das safras 2016/2017 com a safra 2019/2020, houve um incremento de 180% na aplicação de inseticidas na primeira safra e de 640% na quantidade de inseticidas aplicados na segunda safra de milho no Paraná. “Mesmo assim, a praga está evoluindo sem controle, provocando grandes perdas. Todos na agronomia sabem que o que faz uma praga sair do patamar de praga secundária (eventual) para atingir o patamar de praga principal de uma cultura é algum tipo de desequilíbrio ambiental que favorece o aumento da pressão desta praga na cultura”, alertou Minchio. 

Segundo ele, o maior gasto com inseticida não quer dizer que o produtor está fazendo sua parte para o controle. “O aumento do uso de inseticida pode estar sim sendo ligado ao desequilíbrio populacional do inseto, causado pelo uso intenso dos inseticidas à base de neonicotinóides e piretróides tanto para o controle dos percevejos e cigarrinhas. A ciência confirma que estes produtos são altamente tóxicos e letais aos principais inimigos naturais das cigarrinhas e percevejos. Noventa por cento do controle de cigarrinhas é feito por controle biológico. Se você utiliza um produto letal aos inimigos naturais, você desequilibra o sistema, provocando o aumento da população de cigarrinhas pelo fato de que os inseticidas não atingem os seus ovos, que são colocados dentro da folha. As aplicações sucessivas possibilitam o surgimento de populações de cigarrinhas resistentes a estes inseticidas”, explicou.

Monitoramento intenso

Minchio ressaltou que o controle da cigarrinha do milho deverá passar por monitoramento intenso e que não pode ficar mais restrito a apenas uma propriedade. “Toda a comunidade de produtores deverá ser envolvida para se evitar migrações de cigarrinha de uma área para outra. Além do controle do milho tiguera, do híbrido suscetível a enfezamentos, deve-se incorporar às causas do aumento populacional da cigarrinha o fato de estarmos utilizando excessivamente o controle químico”, acrescentou.