Claudair e Ana vivem há quatro anos sem energia elétrica

Claudair, Ana e o três filhos pequenos não viram aos jogos da Copa do Mundo. Nem agora, nem em 2018. As notícias do selecionado brasileiro vieram pelo velho rádio, à pilha. Há quatro anos, eles também compraram uma geladeira nova. Mas ela continua zero. Jamais foi usada. Isso porque, neste tempo, se mudaram à comunidade rural Ney Braga, nos rincões do município de Corumbataí do Sul. E, desde então, mesmo com a fiação da Companhia Elétrica do Paraná (Copel), passando a 300 metros da casa, nunca tiveram energia no imóvel.

Levando a vida na ponta dos bicos, Claudair tem renda mensal média de R$750. Ele trabalha como lavrador e, vez em quando, na construção civil. Não é registrado. A grana vem da própria correria do dia a dia. De cada gota de suor. E, enquanto ele busca o pão, Ana, a esposa, fica em casa. Juntos, mantém três filhos, 9, 7 e 1. E a vida não tem sido nada gentil sem a tão almejada energia elétrica.

Para tomar banho, em dias de frio, esquentam água e depois a colocam em um balde improvisado no banheiro. Nele, fizeram uma espécie de torneira. E assim, lavam as partes. Na casa também têm uma tv. Mas nunca foi ligada. Também têm um videogame às crianças. Mas que não serve a nada. Isso sem contar com a geladeira. Nova, jamais recebeu um único alimento. “Não podemos armazenar leite, iogurte, queijo. Nada. É bastante difícil. Ainda mais com três crianças”, disse Claudair.

Com os dias de sol escaldantes dos últimos dias, a rotina se transformou, literalmente, num inferno. Não há como resfriar a água ou um simples suco ou refrigerante às crianças. Gelo é artigo de luxo na casa. Mas quando trazido da cidade, derrete já nos três quilômetros do trajeto, na garupa da moto da família.

Para amenizar o drama, Claudair comprou uma placa solar. Com ela, consegue abastecer duas baterias de carro. Juntas, são capazes de alimentar duas lâmpadas e dois celulares. E só. “Nós nunca pudemos ter alimentos frescos. Não temos onde guardar. E mesmo a carne suína, da nossa criação, temos que defumá-la para não perder”, disse Ana.

Todo o drama dos últimos quatro anos se reflete num único motivo: grana. Segundo a família, a Copel exige cerca de R$20 mil para puxar a rede. “Eles dizem que, se nossa propriedade tivesse mais de 20 mil metros quadrados, não precisaríamos investir essa quantia. Mas como temos apenas 12 mil, o investimento é necessário”, explicou Claudair. Mas a família alega não dispor dos valores. De uma certa forma estão reféns já, há quatro anos.

A vida da família é movida dia após dia. Sem grana certa, não existem planos. Antes de conquistarem o pedaço de terra, moravam num terreno público. Então, com a possibilidade de terem um cantinho, venderam o carro e adquiriram a terra. Com recursos escassos, fizeram na nova propriedade um imóvel de madeira, da maneira como podiam. Aos poucos, economizando R$20, R$50 por mês, iniciaram a substituição por alvenaria.

Hoje, a casa está somente no tijolo. De vez em quando, Claudair faz um reboco aqui. Outro ali. Tudo é muito difícil. Embora, sempre com esperanças de dias melhores. Sempre, com esperanças em usufruir de energia elétrica. E, quem sabe um dia, poder inaugurar a geladeira zero quilômetro, de quatro anos.

Mas o que diz a Copel?

A Companhia Paranaense de Energia Elétrica (Copel) resume toda a história com a Lei Federal 4504/64. Trata-se de uma norma que dificulta a viabilidade às propriedades rurais menores que 20 mil metros quadrados, ou dois hectares, conforme portaria 36/1997 do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). Portanto, qualquer lote rural inferior a isso, não possui número individual de matrícula, uma vez que está atrelado ao lote matriz.

Desta maneira, qualquer fracionamento menor é irregular e não possui a possibilidade de instalação de benfeitorias, entre elas, a instalação de energia elétrica. Respeitando a Lei, a empresa prevê a cobrança. No entanto, mesmo assim, a Copel solicitou o número de protocolo da família para verificar a situação. Mas eles nunca o fizeram. “Como era caro demais, nem pegamos esse protocolo”, informou Claudair. Nos próximos dias, ele irá solicitar à Copel uma visita ao lote. E mediante ao protocolo, deverá, desta vez, receber um parecer.