CM tem ‘carta branca’ para intervenção na Santa Casa. ‘Lamentável’, diz presidente do hospital

Em uma reunião de pouco mais de três horas, na manhã desta sexta-feira (9), a portas fechadas entre prefeitos da Comcam e representantes da Saúde, os gestores municipais decidiram, por unanimidade, dar ‘carta branca’ ao prefeito de Campo Mourão, Tauillo Tezelli, para qualquer que seja a decisão do município, inclusive, processo de intervenção no hospital Santa Casa, que vive atualmente uma crise financeira, prejudicando os serviços oferecidos à população. O prefeito anfitrião deixou o local sem falar com a imprensa. Uma decisão deve ser divulgada até o fim da tarde.

A presidente do hospital, Mariceli Bronoski esteve na Comcam com outros membros da diretoria, mas também não teve permissão para participar da reunião. Apesar de o presidente do Consórcio Intermunicipal de Saúde da Comunidade dos Municípios da Região de Campo Mourão (Cis-Comcam), Rafael Brito do Prado, prefeito de Moreira Sales, ter informado à imprensa, durante uma coletiva, que não se tratava de uma audiência pública, ela contradisse o gestor. “Temos inclusive um vídeo dele convidando para o que seria uma audiência pública”, contrariou.

Rafael Bolacha, como é mais conhecido o presidente do Cicomcam, disse à imprensa que a crise da Santa Casa vem se arrastando há tempos, mas que de ontem para cá ‘se agravou de uma forma muito grande com a interrupção do serviço de UTI Neonatal’. “Neste exato momento que estamos aqui na reunião, helicópteros do Samu e aeronaves do Governo do Estado estão transferindo nossos pacientes para outras regiões por causa da interrupção do serviço que é contratado pelos municípios com a a Santa Casa”, falou.

Ao ser questionado se haveria ou não intervenção, o presidente foi enfático ao afirmar que a região deu autonomia ao município de Campo Mourão, que tem a gestão plena dos recursos direcionados ao hospital, para tomar a medida necessária para o restabelecimento dos serviços. “A região sinalizou para Campo Mourão que se o município entender que a intervenção é o melhor caminho, que ela seja feita”, ressaltou, ao comentar que a reunião dos prefeitos foi construtiva, com objetivo único de tratar qual caminho que a região irá conduzir em relação ao trato financeiro e sobre a interrupção dos serviços pela Santa Casa.

Bolacha disse ainda que nessa quinta-feira (8), participou de reunião com o prefeito Tauillo Tezelli e o Promotor de Justiça Lincoln Luiz Pereira que está ‘inserido neste contexto’. “Ele faz parte como ator mediador de tudo que está acontecendo na saúde pública”, argumentou, ao ressaltar que o objetivo é melhorar a prestação dos serviços. “Precisamos focar no restabelecimento dos serviços. Não podemos estar aqui e nossos pacientes sendo transferidos para outros hospitais ou sendo mandados de volta para casa”, reafirmou.

 

Presidente da Santa Casa se disse surpresa com ‘carta branca’ a CM

Por outro lado, a presidente do hospital, Mariceli Bronoski, disse que vê com surpresa a decisão dos municípios em dar ‘carta branca’ para qualquer que seja a decisão de Campo Mourão. Isso porque, conforme ela, vem conversando há mais de quatro meses com os municípios sobre a atual situação financeira do hospital.

“Tivemos reuniões com os municípios, tanto presenciais como através de ofícios apresentando valores e documentos. Temos toda uma tratativa que fizemos bem formalmente e profissionalmente”, argumentou, ao informar que as tratativas foram com reuniões abertas convidando os municípios para irem à Santa Casa, inclusive, com acompanhamento do próprio Ministério Público e CRM (Conselho Regional de Medicina do Paraná).

“Isso que está acontecendo agora já tínhamos alertado lá atrás com nosso planejamento de fluxo. Então porque não deram carta branca para Campo Mourão naquele momento, quando informamos que a situação ficaria insustentável”, questionou.

Sobre as transferências de pacientes da UTI Neonatal a outras regionais, Mariceli informou que já havia comunicado os municípios e a central de leitos que o hospital estava sem insumos e sem médicos para o plantão do fim de semana.

“Quando é fim de semana, que tem feriados, normalmente precisamos chamar profissionais da região. E eles só vêm com o pagamento à vista. Os municípios sabem dessa nossa deficiência”, informou. “Se não temos médicos e insumos como vamos ter uma criança lá? Isso não é uma coisa colocada agora também”, comentou, complementando que a transferência foi feita em cumprimento a um protocolo de segurança para resguardar a vida dos pacientes.

A presidente do hospital criticou também o fato de os representantes da diretoria serem impedidos de participarem da reunião. “A reunião seria hoje entre os municípios e a Santa Casa e nós não pudemos entrar, ou seja, nem tivemos chances de apresentar aos municípios toda nossa questão. Hoje tínhamos, por exemplo, os nossos balanços e detalhamento dos nossos custos. Tínhamos tudo, mas não tivemos oportunidade de apresentar”, lamentou, ao acrescentar que o próprio Ministério Público deveria ter participado da reunião para explicar aos municípios ‘a questão da legalidade e qual o procedimento para uma intervenção’. “Onde serão enviados, por exemplo, os pacientes. Tem todo um procedimento técnico, nós sabemos, mas será que os municípios sabem”, questionou.