Com médicos sem receber há vários meses, UTI Neonatal da Santa Casa corre risco de fechar

A UTI Neonatal da Santa Casa de Campo Mourão pode estar com os dias de funcionamento contados. É que com a falta de pagamento nos últimos meses ao corpo clínico, médicos responsáveis pelo setor vão deixar de trabalhar. Caso isso realmente ocorra, a UTI Neo será fechada.

Os profissionais, inclusive, já assinaram uma carta de desligamento. Permanecerão na unidade somente até o dia 28 deste mês. A informação foi repassada na noite desta quinta-feira (10), durante assembleia geral extraordinária da nova diretoria, pela médica intensivista neonatologista, Débora Poliana Silva, responsável técnica da UTI Neonatal.

Débora informou que ela, por exemplo, está sem receber há 3 meses, mas tem médicos que está há 8 meses e até um ano trabalhando sem receber. “Chegamos a conclusão que não tem como trabalhar deste jeito. Estamos pagando para trabalhar. Todo mundo [da UTI] já entregou a carta de desligamento. Deu 30 dias [o prazo encerra no dia 28 deste mês] não temos mais obrigação com o hospital. Não vamos vir aqui por falta de pagamento”, avisou.

A médica foi enfática ao afirmar que atualmente os residentes médicos é que estão ‘carregando’ o quadro médico da Santa Casa devido a falta de médicos no hospital, devido a falta de pagamento. “Temos crise na obstetrícia também. Tem hora que tem médico e tem hora que não tem”, disse ela ao ressaltar que após o dia 28 não ‘exigirá mais nada’ de sua equipe médica. “Não vou exigir mais nada da equipe porque não tenho mais o que exigir. Já trabalharam ao máximo”, argumentou.

A médica informou que atualmente há 10 crianças internadas na UTI Neonatal. Entre estes, um prematuro extremo em risco gravíssimo de morte, uma bebê cardiopata com síndrome de Down, e outra com pneumonia gravíssima. “A UTI funciona 24 horas por dia todos os dias do ano. A Santa Casa é alto risco, ou seja, toda mãe que tiver uma gravidez de risco ou problema com o bebê vem para cá para nascer”, explicou.

Poliana informou que além dos 10 bebês internados na UTI há ainda outros 6 na UCI (Unidade de Cuidados Intensivos). Além do mais, a UTI Neonatal é mista, ou seja, com crianças de todas as idades. “Só vem para UTI quem está com risco de morte. A situação é muito séria”, alertou, ao afirmar à diretoria que só conseguirá reunir a equipe médica intensivista novamente após um acordo sobre os salários atrasados.

A médica relatou ainda que a UTI Neo da Santa Casa foi construída para receber 8 pacientes, mas já houve momentos de receber até 24 pacientes. Ela lembrou ainda que o Regime Diferenciado de Contratações Públicas, instituído por lei, prevê um intensivista para cada 10 pacientes. “Neste momento tenho 10 na UTI Neonatal e mais 6 na UCI. São 16 pacientes. Imagine vocês, 16 pacientes sem um médico intensivista lá dentro. É o que vai acontecer sexta-feira à noite e sábado. Já avisei o motorista está todo mundo sabendo que não tem plantonista. Só para vocês saberem são 10 crianças, sendo 3 com risco de morte eminente”, alertou.

Só promessas

Poliana, disse que gestões passadas haviam prometido a continuidade do pagamento futuro e os atrasados seriam negociados. O que não aconteceu, frisou. “Cada gestão que entrou fez isso. Mas agora nossa equipe médica da UTI Neonatal chegou a conclusão de que vai continuar a mesma coisa. Não temos perspectiva nenhuma. Para nós não dá mais. É muito melhor trabalhar em qualquer outro lugar”, desabafou. A médica informou ainda que é de Maringá e vem todos os dias a Campo Mourão e que atualmente está ‘pagando’ para trabalhar.

Sem o básico

A nova presidente eleita da Santa Casa, Mariceli Bronoski, está apreensiva com a situação do hospital. Ela afirmou que neste momento pacientes e vidas estão em risco, ao revelar que o hospital está ‘sem o básico’.

“Muitas vezes tem faltado o atendimento porque não temos o básico. Tem faltado coisas básicas. E precisamos de solução. Caso contrário, daqui a alguns dias vai chegar uma mãe para ganhar bebê e não vai ter atendimento”, preocupou-se.

A presidente informou, por exemplo, que o hospital está sem nenhuma máquina na lavanderia. “Faz dois meses que não há pagamento da lavanderia. E quando não pagamos o fornecimento é cortado. Isso é básico. Quem trabalha quer receber. E aí como vamos atender sem lençol”, observou.

Campanha de mobilização

Durante a reunião desta quinta-feira, a Santa Casa aprovou uma mobilização junto à comunidade em busca de recursos emergenciais. O objetivo será evitar o possível fechamento da maternidade e da UTI neonatal. A campanha vai incluir uma cobrança às prefeituras da região. O pedido será de R$ 2,50 por habitante, informou o tesoureiro do hospital, Carlos Rogério Alves.

Foto: Irineu Ricardo