Combustível caríssimo já faz motoristas deixarem de usar veículos em Campo Mourão

Há pelo menos três semanas o servente de pedreiro, Manoel Henrique de Oliveira, morador do jardim Aeroporto, vem deixando sua Belina, ano 85 encostada na garagem de casa. Com os preços caríssimos dos combustíveis, o único jeito foi apelar para sua Monark Barra Circular, que até então só usava nos fins de semana para visitar o pai no Jardim Lar Paraná, outro lado da cidade.

Em Campo Mourão, o litro do etanol varia de R$ 5,09 a R$ 5,39. Em um posto pesquisado pela reportagem, o litro do combustível que nesse domingo (31) estava sendo comercializado a R$ 4,99, nesta segunda-feira (1º) amanheceu já pelo preço de R$ 5,14, um aumento de R$ 0,15 centavos da noite para o dia.

Já o preço da gasolina dói ainda mais no bolso do consumidor. Pode ser encontrado a R$ 6,09; R$ 6,14; R$ 6,39 e, acreditem, salgados R$ 6,79. Oliveira disse que os preços praticados na cidade tornaram impossível ele se deslocar de carro todos os dias para o trabalho.

 

 

O servente é diarista, recebe R$ 80,00 a diária. Por mês, ganha de R$ 1.400,00 a R$ 1.600,00. Quando os trabalhos se estendem também aos fins de semana, o ganho aumenta um pouco. Se fosse para ir todos os dias de carro ao trabalho gastaria mais de R$ 500,00 com os preços atuais nas bombas. “Como fica para pagar o aluguel, água, luz e alimentação?”, questiona. Ele mora em uma casa simples com a esposa e uma filha de 5 anos.

Sua Belina é abastecida a etanol, mas pelo valor do combustível que ultrapassa em até 79% do preço da gasolina já não compensa mais abastecer com álcool. “Todo mundo deveria fazer como eu, deixar de usar carro para não precisar abastecer. Queria ver se assim os postos não baixavam os combustíveis”, criticou.

Alguns motoristas de aplicativos ouvidos pela TRIBUNA também estão preocupados. Informaram que vão deixar a profissão. Um deles é o estudante Michel Olegário, que adotou a atividade após perder o emprego durante a pandemia. “As altas seguidas dos combustíveis tornaram a profissão inviável. Se colocado na ponta da caneta, já estamos saindo no prejuízo porque temos ainda a manutenção do veículo”, falou. Ele disse que está buscando emprego em outra área.

Congelamento do ICMS

Na última sexta-feira, o Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz), formado pelo governo e representantes dos estados, aprovou o congelamento por 90 dias do chamado “preço médio ponderado ao consumidor final”. É sobre esse preço médio que incide o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) estadual cobrado nas vendas de combustíveis. No Paraná, a alíquota do ICMS sobre a gasolina corresponde a 29% e 12% sobre o óleo diesel. A medida ocorre em meio à forte alta dos combustíveis, provocada pelo aumento do petróleo no mercado internacional e pela disparada do dólar – fatores levados em conta pela Petrobras para calcular o preço do nas refinarias.

Entretanto, esse congelamento do preço médio ponderado não impedirá que eventuais reajustes anunciados pela Petrobras nas refinarias sejam repassados aos preços dos combustíveis na bomba. Como o ICMS não é o único fator que encarece o preço na bomba, a mudança dos outros fatores pode continuar elevando o preço para o consumidor final, como a cotação do dólar, por exemplo.

Na última semana, a Petrobras anunciou um novo reajuste no preço da gasolina e do diesel para as suas distribuidoras. O aumento foi de 7,04% para o litro de gasolina nas refinarias e de 9,15% para o diesel.

Com a alta, o preço médio de venda da gasolina na refinaria passou de R$ 2,98 para R$ 3,19 por litro e do diesel de R$ 3,06 para R$ 3,34.