Conselheira diz que muitos pais deixam filhos sem cuidados para usar o celular

De janeiro a outubro deste ano, o Conselho Tutelar de Campo Mourão registrou 142 atendimentos a crianças ou adolescentes vítimas de negligência ou abandono. Entre esses casos, a presidente do Conselho, Vera Zagoto, chama a atenção para uma situação que as conselheiras têm observado com frequência: pais ou responsáveis estão deixando crianças sem os devidos cuidados para usar o telefone celular.

“A gente observa nos atendimentos e já vi até nos supermercados, a criança chorando ou chamando a mãe, mas ela está no celular. Está faltando diálogo, as pessoas estão vivendo num mundo virtual. Muitos pais, no pouco tempo que ficam em casa, não estão dedicando a devida atenção aos filhos porque estão interagindo com quem não está ali”, pondera a conselheira.

Ela afirma que é comum nos atendimentos as conselheiras constatarem que a criança está com a alimentação e até higiene em atraso porque os pais estão navegando nas redes sociais. Ela ainda ressalta que a maioria dos atendidos são famílias em situação financeira precária. “Mas é muito raro quem não tem celular e não é qualquer celular. São aparelhos modernos, conectados na internet e eles ainda gravam o nosso atendimento”, acrescenta. 

Dos vários casos atendidos, ela cita uma situação em que a criança de apenas dois anos se queimou com leite porque a mãe se distraiu enquanto usava o telefone celular. “Isso é muito sério, parece que a pessoa fica em outro mundo quando está com o celular na mão. É preciso que os pais ou responsáveis estejam mais atentos com as crianças”, enfatiza.

Evasão escolar chama atenção do Conselho Tutelar

Outro dado que chama atenção é a evasão escolar, que só neste ano, até outubro, foram 231 registros de atendimento. Segundo a presidente Vera Zagoto, o Conselho é acionado quando a escola esgota as tentativas, depois que a criança ou adolescente tem três faltas consecutivas ou cinco alternadas sem justificativa.

Segundo a conselheira, quando isso acontece os pais são chamados junto com o aluno e são questionados sobre os motivos das faltas. “Se a causa for doença, encaminhamos para a rede, assim como a escola também faz isso. Mas na maioria das vezes a criança não quer ir e os pais dizem que não tem o que fazer”, afirma Vera. 

A maioria, segundo ela, retorna à escola depois da atuação do Conselho. Caso contrário, segundo ela, é aplicada a medida de advertência e se mesmo assim a criança não comparecer às aulas os responsáveis são encaminhados para audiência no Fórum. “É preciso que fique claro que a criança não tem querer, quem é responsável por ela tem que garantir o acesso aos estudos”, esclarece.

Também tem aumentado os casos de violência intrafamiliar (física, sexual e psicológica). Até outubro, foram 145 atendimentos desta natureza. No mesmo período, foram atendidos ainda 17 casos de estupro, além de 12 de exploração sexual. “Temos feito um trabalho constante para tentar reverter essa situação, mas são números que chocam”, completa a presidente.