Criança faz cirurgia após procedimento em UPA atingir nervo ciático

Campo Mourão, madrugada de 04 de dezembro de 2022. Na Unidade de Pronto Atendimento (UPA), Alessandra dos Santos chega com o filho de quatro anos. Ela estava preocupada. O menino aparentava estar resfriado, mantendo ainda um quadro febril. Então, recebeu uma injeção para abaixar a febre. Juntos, mãe e filho permaneceram no local por 40 minutos até que a temperatura caísse. E caiu. Mas, ao chegar em casa, os sintomas agora eram outros: ele não conseguia se manter em pé.

“Quando chegamos em casa o colocamos no chão. E ele caiu. Não tinha forças no pé direito. Aí se levantou e, em seguida, caiu de novo”, disse a mãe. No momento, ela acreditou que a perna estivesse amortecida por ter ficado muito tempo em seu colo. Mas a preocupação aumentou no dia seguinte, quando o menino continuou sem conseguir andar. Foi então que Alessandra o levou novamente à UPA. “Lá, a doutora que estava de plantão disse que a injeção poderia ter atingido o nervo ciático”, explicou.

A médica também a tranquilizou, enfatizando que, com três dias, o menino voltaria a ter os movimentos do pé, normalizados. Mas isso não aconteceu. Buscando informações sobre o problema, Alessandra agora procurou um pediatra. E, o mesmo, a encaminhou a um neurocirurgião. A criança passou por diversos exames, constatando, segundo ela, que a injeção havia mesmo atingido o nervo ciático. “O procedimento feito na UPA desligou o nervo fibular, que faz levantar o pé para caminhar. No fim de semana, meu filho fez uma cirurgia em Curitiba para descomprimir o nervo”, revelou.

Um dia após receber a injeção na UPA, os pais, Alessandra e Itamar, retornaram ao órgão. Lá, segundo eles, após relatar o caso à triagem, os profissionais agiram como “se fosse algo normal”. O menino permanecerá os próximos 30 dias se recuperando da cirurgia que, a princípio, foi bem sucedida.

Os pais são trabalhadores simples. Alessandra, aos 38 anos, trabalha como diarista. Já o marido, Itamar Ribeiro de Souza, 47, em uma grande empresa da cidade. No entanto, está afastado do serviço desde setembro, devido a um problema de hérnia. Ele acompanhou o filho por dez dias na capital. Para não ficarem sem nenhuma renda, a mãe continuou trabalhando em Campo Mourão. E esteve presente em Curitiba apenas no dia da cirurgia.

“Nós não procuramos a prefeitura, porque ficamos muito preocupados, com pressa de cuidar dele. Fui apenas na Upa tentar conversar. Mas a enfermeira não mostrou preocupação com o meu filho. Ele acabou de fazer uma cirurgia. O caso foi grave. Foi um descaso o que fizeram”, afirmou Itamar.

Todo o procedimento do menino foi custeado pelo plano de saúde do pai. Um dos benefícios da empresa onde trabalha. Agora, a criança terá que usar uma órtese no pé, até o final do tratamento, que será lento. Alessandra também procurou uma advogada. Nos próximos dias, a família pretende entrar com denúncia junto ao Ministério Público.

Município
Através de uma nota oficial, a Secretaria Municipal de Saúde informou que tomou conhecimento do caso recentemente, por um grupo de aplicativo de mensagens. Nele, constava que a mãe de uma criança teria denunciado que o filho de quatro anos teve problemas de movimento em uma das pernas após tomar uma injeção na UPA, em dezembro de 2022.

De acordo com a nota, a Saúde não foi procurada pela família para abertura de qualquer procedimento em relação ao caso. A Lei de Proteção de Dados (LPD) restringe a publicação de informações sobre qualquer paciente sem autorização expressa, que no caso de criança é de responsabilidade dos pais.

Ainda ontem, o secretário municipal de Saúde, Sérgio Henrique dos Santos reafirmou não ter sido procurado pela família. “Tomamos conhecimento através do grupo da imprensa. Portanto não temos informações mais detalhadas sobre o caso”, disse. Segundo ele, assim que chegar algum pedido de informação, feito pela família, o município irá abrir, com certeza, um processo para averiguação.