Dia dos Povos Indígenas: Assistência Social de Campo Mourão atende duas etnias

Nesta sexta-feira (19), é comemorado o Dia dos Povos Indígenas, como forma de a população brasileira refletir sobre a importância da cultura e das tradições desse povo na construção da identidade do país. Para conhecer a população indígena existente em Campo Mourão, a TRIBUNA levantou informações com a Secretaria de Assistência Social (Seaso), que atende, hoje, duas etnias no município: Guaranis e Kaingangs. Além disso, a equipe de reportagem também entrevistou Nilza Maria Rodriguesem Guarani, Jacy Rendy –, presidente da Associação Indígena Arandu Aty, representante da aldeia Verá Tupã, no município.

O primeiro grupo, que é fixo no município, é acompanhado pelo Centro de Referência de Assistência Social (Cras). Já o outro, que residente em uma aldeia em Manoel Ribas e vêm para Campo Mourão vender o artesanato produzido pelos próprios indígenas, é acompanhado e amparado pelo Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas). Os servidores da Seaso têm procurado, ao longo dos anos, proporcionar a assistência desses povos em Campo Mourão, visando à melhoria da qualidade e das condições de vida deles.

Cinco casas estão em fase de construção, mediante recursos do Fundo de Habitação, para atender a população indígena fixa do município
O principal meio de substância dos povos Guaranis vem de atividades agrícolas, por meio da plantação de mandioca, batatas, milho Guarani, além de criação de galinhas e patos, tudo para uso próprio

Guarani: população fixa em território indígena em Campo Mourão

Os Guaranis que residem em Campo Mourão vivem na aldeia Verá Tupã, na área rural da comunidade do Barreiro das Frutas, há 15 anos. As terras são provenientes de reserva dominial. Eles têm como principal meio de subsistência atividades agrícolas, por meio da plantação de mandioca, batatas, milho Guarani, além de criação de galinhas e patos, tudo para uso próprio.

São 22 pessoas da família que vivem no local, distribuídas em sete moradias atualmente. Jacy Rendy, que é graduada em Artes, pela Universidade Estadual de Londrina (UEL), e especialista em Antropologia Brasileira, também é responsável pela educação escolar indígena. “Os adolescentes estudam nos colégios estaduais, e as crianças estudam na escola municipal. Aqui na aldeia, temos uma sala de aula somente para estudar a língua Guarani, mantida pelo estado”, explicou. A indígena é esposa do cacique Guilherme Kunumi Poty Acosta.

A equipe técnica do Cras faz o acompanhamento dessa população e a concessão de eventuais benefícios, como para auxiliar com despesas de água, luz e alimentação. De acordo com Márcia Calderan de Moraes, secretária da Seaso, no ano passado, foram entregues 31 cotas do Cartão da Família Mourãoense às famílias residentes na comunidade.

Com o intuito de melhorar ainda mais as condições dessa população, que vivia, até pouco tempo, por exemplo, com água cedida por vizinhos, foi feita a perfuração de um poço na comunidade, com recursos do governo estadual, e a instalação, pela prefeitura, de água encanada.

Outro benefício que tem sido possível por meio desse acompanhamento pelo Cras é a concessão de cinco casas, que já estão em fase de construção, mediante recursos do Fundo de Habitação, no próprio território indígena. “Essa construção traz mais dignidade às famílias”, disse Jacy Rendy. “A minha antiga casa vou deixar para receber as escolas e universidades quando forem fazer pesquisa e visitas”, emendou.

A presidente da Associação comentou sobre o sentido do dia comemorado nesta sexta-feira. “Dia dezenove de abril para nós é como qualquer outro dia. Mas aproveitamos o momento para conversar com os adolescentes e crianças e celebrar nossos antepassados, os nossos guerreiros que deram a vida em defesa dos territórios indígenas, como Marçal Tupã ‘i, Sepé Tiaraju, Kretã, e tantos outros. É mais celebração mesmo”, destacou.

Márcia também ressaltou que a Política de Assistência Social no município tem como premissa o respeito e promoção à diversidade cultural e étnica. “Trabalha em prol de difundir conhecimentos acerca da cultura de comunidades tradicionais e busca integrá-los aos demais munícipes, através da participação em conselhos, comitês, conferências e demais reuniões para debates de interesse público”, disse.

Kaingangs

Os povos indígenas Kaingangs que passam por Campo Mourão mensalmente para a comercialização do artesanato produzidos por eles já vêm frequentando o município desde, pelo menos, 2022. São grupos de até 25 pessoas, entre adultos e crianças, que é a capacidade da Casa de Passagem Indígena, onde eles se instalam durante o período de cerca de 30 dias em que ficam na cidade, quando há uma “rotação” dos grupos. Desde que a casa foi estabelecida, já recebeu mais de 550 Kaingangs.

Os indígenas são selecionados pelo cacique da aldeia em que residem. A casa, em Campo Mourão, foi cedida pelo município, por meio do Creas, após diversas denúncias que a população fazia. “Essa demanda dos indígenas já existia”, disse, Fernanda, Pizolio Garcia Ribeiro, assistente social e coordenadora do Creas de Campo Mourão. Ela também comentou que, antigamente, havia muita denúncia de que eles ficavam próximo à antiga Casa da Música, na Perimetral Tancredo Neves.

Por não terem, até então, local adequado para as necessidades fisiológicas, acabavam, até mesmo, invadindo os quintais de algumas residências nas proximidades. O lixo que acumulavam no local também era grande. Diante disso, uma das atitudes tomadas pelo município foi, juntamente, a implantação de um local que os grupos pudessem ficar enquanto estivessem na cidade. “Era uma demanda que estava aqui na cidade e a gente tinha que resolver”, complementou, lembrando que a casa é mantida integralmente com recursos próprios do município.

Além da Casa de Passagem e do Cartão da Família Mourãoense, a prefeitura fornece materiais de limpeza e higiene. No entanto, a manutenção da residência e dos pertences de cada família é responsabilidade dos próprios indígenas.

Apesar dos avanços em relação ao suporte que o município tem dado à população indígena Kaingangs, ainda é comum ver famílias, inclusive com crianças, pedindo comida e dinheiro pelas ruas da cidade. “O nosso trabalho do Creas, como a gente atende abordagem, quando tem denúncia de indígena pedindo ou expondo a criança a riscos, a população liga aqui no Creas, e a gente vai até o local fazer essas orientações”, explicou.

Mesmo que haja alguns casos como esse, a assistente social salientou que os pedidos nas portas do comércio já reduziram bastante ao longo do tempo e avaliou a contribuição do município, por meio da Seaso, para esses avanços. “A casa oferece esse espaço digno. Então, eles não têm mais que ficar em barracas, fazendo as necessidades em qualquer lugar. As crianças têm um espaço também para brincar com segurança”, falou, reforçando que, apesar das melhorias, ainda é um trabalho bastante desafiador. “Porque é uma cultura muito diferente. Então, a gente também tem que entender a cultura deles e respeitar”, acrescentou.