Em Campo Mourão, Álvaro Dias fala sobre corrida ao Senado e evita tocar no nome de Moro

O Senador Álvaro Dias (Podemos) cumpriu agenda na manhã desta quinta-feira (8) em Campo Mourão. Ele fez uma prestação de contas a prefeitos e autoridades municipais e regionais na sede da Comcam. Dias, que tenta o quinto mandato para representar o Paraná no Congresso Nacional, concedeu entrevista à TRIBUNA.

O Senador defendeu sua experiência em Brasília como ponto forte da sua candidatura, falou sobre a necessidade de uma Reforma Política ‘profunda’ e como ela se conecta com as outras reformas que devem estar na pauta nos próximos anos no Congresso Nacional.

Dias foi o principal responsável por articular a filiação do ex-ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, ao Podemos. Agora o ex-juiz confirmou a pré-candidatura ao senado pelo União Brasil e vai enfrentar justamente Dias.

Ao ser questionado sobre a situação, Dias evitou falar de Moro, apenas afirmando não ‘guardar rancor ou ressentimento’. Disse que respeitará o ex-juiz como candidato e que não cabe a ele fazer julgamento da candidatura dele. “Essa análise, esta decisão, que fique ao povo que é o juiz soberano na hora do voto. Respeitaremos ele como candidato assim como todos os demais sem distinção”, comentou.

Quem é Álvaro Dias?

Álvaro Fernandes Dias é historiador, professor e político. Filiado ao Podemos (PODE), exerce atualmente o cargo de Senador da República. É autor do projeto que propõe o fim do foro especial por prerrogativa de função, conhecido como foro privilegiado, autor da Proposta de Emenda Constitucional (PEC s/n/2017), para legitimar a prisão após condenação em segunda instância, para redução do número de Deputados e Senadores, fim do voto obrigatório no Brasil e em 2005 presidiu a CPI da Terra, que analisou os conflitos fundiários no país.

Dias Iniciou sua carreira política elegendo-se vereador de Londrina em 1968 pelo Movimento Democrático Brasileiro (MDB), exercendo o mandato até 1971. Nas eleições de 1970, concorreu ao cargo de deputado estadual, tendo sido eleito e exercendo o cargo até 1974. Nas eleições de 1974, foi eleito deputado federal com 175. 434 votos, sendo reeleito nas eleições de 1978 com 127. 903 votos.

Em 1982, foi eleito senador pelo PMDB, com 1. 668.495 votos, ao derrotar o ex-governador paranaense Ney Braga, candidato do Partido Democrático Social (PDS). Em 1986, foi eleito governador do Paraná com 2. 347.795 votos, na legenda do PMDB, derrotando o candidato da Frente Popular de Oposição, o ex-deputado federal Alencar Furtado. Em 1989, disputou (com Ulysses Guimarães, Waldir Pires e Iris Rezende) e perdeu as prévias para ser o candidato do PMDB à presidência da República. No mesmo ano, desfiliou-se do PMDB e se juntou ao PST. Após a extinção deste, se filiou, em 1994, ao PP e perdeu as eleições para o governo do estado, obtendo 1.455.648 votos contra Jaime Lerner.

Em 1998, elegeu-se senador da República pela segunda vez – a primeira desde a redemocratização – com 2.532.010 votos. Em 2002, foi expulso do PSDB, junto com seu irmão Osmar Dias, por assinar requerimento de abertura pela CPI da Corrupção durante o governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, e se filiou ao PDT. No mesmo ano, foi derrotado nas eleições para governador do Paraná, perdendo no segundo turno para Roberto Requião. Após menos de dois anos no PDT, retornou ao PSDB em 2003.

Foi reeleito ao cargo de senador em 2006 pela terceira vez, com 2.572.481 votos. Em 2010, foi apontado pelo PSDB para ser candidato a vice-presidente na chapa de José Serra, porém foi rejeitado pelos outros partidos da coalizão. Foi líder do PSDB no Senado Federal de fevereiro de 2011 a janeiro de 2013. Nas eleições 2014, Alvaro Dias foi reeleito para o terceiro mandato consecutivo – quarto mandato da sua carreira- como senador da República com 4.10.1848 votos. No segundo semestre de 2015, Álvaro Dias desfiliou-se do PSDB, partido onde permaneceu por mais de dez anos, para entrar no PV, assim almejando concorrer para presidente nas eleições de 2018, mas não obteve êxito. Leia abaixo a entrevista completa.

Tribuna do Interior – O que levou o senhor a concorrer mais uma vez ao cargo de Senador da República pelo Estado do Paraná?

Álvaro Dias – É uma obrigação, um dever nosso. Seria uma traição e ingratidão se eu desistisse agora. O País vive um momento delicado com expectativa de aprofundamento da crise decorrente da pandemia [Covid-19] e de uma crise internacional que se abate também sobre o País. Por isso teremos que promover reformas importantes.

Porque seria uma ‘traição’ não disputar a reeleição?

Eu digo que seria uma traição porque o Paraná investiu em mim desde vereador, governador e agora Senador. Isso é um investimento para o preparo, o aprendizado e a experiência que se adquire. Se eu fosse embora agora certamente seria egoísmo da minha parte. Então tenho que continuar na atividade à disposição do Paraná para um projeto de construção. Já fiz oposição muito tempo atrás, não no governo Bolsonaro porque logo no início tivemos os problemas com a pandemia, que se agravaram e nós optamos pela solidariedade e contribuição. Perdemos até protagonismo porque não fiz oposição e o Podemos, meu partido político, foi o que mais votou e apoiou os projetos do Governo. Como Senador, com a experiência adquirida, quero ser construtor e não destruidor.

E como ser ‘construtor’ neste momento político e econômico tão delicado?

Primeiramente encorajar o presidente da República para que adote as medidas necessárias. E depois, no Senado, se possível aprimorar a legislação e buscar consenso para aprovação pensando nas pessoas, em abrir uma janela de oportunidade para todos os brasileiros para melhorar a qualidade de vida. Este é o nosso objetivo.

Porque o senhor não aceitou convite do Podemos para disputar a presidência da República?

Por acreditarmos que este não era o momento certo. Um pouco tarde, mas por unanimidade o Podemos fez uma apelo para que eu disputasse a presidência. Entendi que já há uma polarização [Lula e Bolsonaro] fato consumado. A população olha para um lado e olha para o outro. Pelo caminho do meio eu certamente seria atropelado facilmente. Por esta razão o partido nos ouviu. E achamos que nossa missão agora é realmente continuar no Senado para dar continuidade às causas que estamos defendendo há muito tempo.

Quais suas propostas como candidato à reeleição?

Além daquilo que a população se acostumou a ver que é o combate implacável à corrupção, combate aos privilégios, abrindo mão dos meus privilégios para ter autoridade de combater os dos outros, tenho projetos importantes já aprovados no Senado que aguardam aprovação da Câmara como fim do foro privilegiado, a prisão em segunda instância e corrupção como crime hediondo. Eu acredito que agora a questão social e econômica são questões essenciais. Um projeto estratégico de desenvolvimento para o País é elevarmos os índices de produtividade colocando o País num patamar de desenvolvimento que nos permita escapar dessa armadilha da pobreza. É aquilo que eu dizia em 2018, a refundação da República. Mais ou menos isso. O que será? Será a aprovação de reformas importantes como Administrativa, Tributária, substituição do atual sistema com a Reforma Política que reduz o índice de corrupção no processo eleitoral e fique melhor a qualidade dos quadros na política.

Como o senhor vê esta crise instalada entre os poderes Executivo e Judicial – Governo Federal x STF?

Sobre isso também vamos nos empenhar para melhorar este relacionamento entre poderes. Na verdade estamos tendo uma exacerbação que não é bom para a democracia e nem para o País. Para melhorar temos que mudar o modelo de escolha dos ministros do Supremo, substituindo a indicação política por meritocracia. Para isso elegeríamos uma lista tríplice: a magistratura elegeria um, o Ministério Público outro, a advocacia um e o presidente escolheria outro. E o Senado aprovaria e definiria um mandato de oito a dez anos. Com isso eliminaríamos essa suspeição que prevalece sempre no Supremo. Qualquer decisão de ministro fica sob suspeição porque ele está lá por uma indicação política. O Supremo só será respeitado se mudarmos este sistema de escolha.

O senhor foi o principal responsável por articular a filiação de Moro ao Podemos. Agora ele vai enfrentar o senhor na vaga ao Senado. Fica algum ressentimento. Isso gera desconforto entre os senhores?

Não gosto de comentar sobre isso. Mas já que você perguntou, eu gosto muito de uma frase que diz o seguinte: o esquecimento é a maior vingança e pode ser também o maior perdão. Como tenho um coração grande eu prefiro que seja o perdão. Cabe ao povo julgar. Eu não vou desqualificar nenhum dos meus concorrentes. Coloco todos em pé de igualdade sem distinção. O povo é soberano, juiz na hora do voto. E é ele que vai julgar o comportamento daqueles que se dispuseram a disputar esta eleição. Eu prefiro construir a minha estrada até a vitória pavimentando-a com o rol de realizações que tenho a oferecer ao Paraná que ninguém tem igual.

Há um grande temor neste ano que a campanha eleitoral seja movida por extremismos. Como o analisa esta situação?

O extremismo sempre preocupa, mas não podemos temê-lo porque a cabeça boa, a população de bom senso e consciente é maior. Então há uma supremacia das pessoas conscientes. Os extremismos devem ser repudiados por todos nós. Eu não tenho receio de nenhum risco porque há uma consciência cívica nacional impregnada e nada vai impedir que continuemos a caminhar nestes caminhos da liberdade, da democracia e da Justiça.

Quem o senhor apoia para presidente?

O meu partido coligou-se com a Simone Tebet (MDB). Mas há uma liberdade na minha coligação e a maior parte dela apoia sim o Bolsonaro.