Empregado vira prestador de serviço e muda conceitos de geração de emprego

Quem costuma reclamar que a cidade não atrai empresas ou indústrias para geração de empregos tem que começar a atualizar seus conhecimentos sobre mão-de-obra. Aquele conceito de medir o desenvolvimento do município pelo número de grandes empresas com centenas de trabalhadores uniformizados na linha de produção, recebendo salários com carteira assinada, está ficando cada vez mais no passado. 

O empresário Davi Panucci, por exemplo, proprietário de uma empresa que fabrica uniformes em Campo Mourão, já experimenta essa nova realidade. Ele mantinha cerca de 100 funcionários devidamente registrados para produzir 16 mil peças. Hoje, no prédio da empresa trabalham entre 40 a 50 colaboradores. Os demais abriram microempresas individuais (MEIS) e passaram a prestar serviços. “Terceirizei a produção com os próprios funcionários e seis meses depois a produtividade dobrou”, afirma o empresário.

O que aconteceu na empresa de Panucci é uma tendência. Ainda no primeiro semestre de 2020 o número de MEIs no Brasil já havia ultrapassado a marca de 10 milhões. Somente em abril, o número de brasileiros que decidiram optar por essa modalidade de atuação no mercado de trabalho chegou a 98 mil. 

“O MEI não é só em uma opção de ocupação temporária ou estratégia de sobrevivência, mas uma maneira de prestar serviços a terceiros, realizar diferentes trabalhos e obter renda atuando como pessoa jurídica a um custo baixo”, observa o secretário municipal de Desenvolvimento Econômico de Campo Mourão, Carlos Alberto Facco.

Em Campo Mourão, a abertura de MEIs também vem crescendo. Dados da Casa do Empreendedor mostram que em 2017 eram 418; em 2018 subiu para 617 e em 2019 para 852. Um crescimento superior a 50 por cento em dois anos. Atualmente mais 6 mil pessoas são microempreendedoras individuais e pelo menos metade teve que contratar colaboradores. “São pessoas que não estão no ambiente de uma empresa como funcionário, mas estão trabalhando, ganhando e gerando renda”, analisa o secretário.

Segundo ele, as principais áreas de atuação são beleza (cabeleireiros, manicures), construção civil (pedreiros, encanadores, eletricistas, pintores), comércio de vestuário, lanchonetes, entre outros. Um percentual de 40,48% dos MEIs têm estabelecimento próprio e outros 40,19% atende porta a porta. 

Na visão do secretário, três fatores principais têm levado a esse novo cenário. Primeiro a desindustrialização nacional, que já acontece há algum tempo em função dos diferenciais competitivos de países asiáticos, principalmente. 

“Outro é a legislação, que tem levado as empresas a encolherem suas estruturas fabris e comerciais, descentralizando suas operações e  contratando pessoas jurídicas com regime de pagamento por produção e resultado, fugindo dos custos trabalhistas”, argumenta. O terceiro fator é a tecnologia, que permite a prestação de serviço à distância com teletrabalho, desenvolvimento de softwares, aplicativos e vendas.