Especialista alerta para desequilíbrio climático e eventos extremos cada vez mais frequentes

Campo Mourão e região, assim como grande parte do Brasil, vêm sentindo o que estudiosos do clima, como o professor Victor da Assunção Borsato, entendem como ‘primeiras consequências das mudanças climáticas’, que vem provocando eventos extremos cada vez mais frequentes. O docente da Unespar (Universidade Estadual do Paraná, campus de Campo Mourão) e coordenador da Estação Climatológica do município não desconsidera os fenômenos naturais como possíveis causas, mas também chama a atenção para os fatores antropogênicos, ou seja, que têm ação direta do homem.

Com formação superior na área e diversos estudos sobre clima, Borsato explica por que fenômenos como oscilações entre altas e baixas temperaturas em diferentes períodos do ano e grandes volumes de chuva se manifestam na região de Campo Mourão. “Quando as mudanças climáticas ocorrem e se processam no tempo, os extremos vão se evidenciando”, destaca, exemplificando que uma tempestade é uma onda de calor que gera um bloqueio atmosférico, perdurando por mais de 4 dias e ocasionando o aumento da temperatura.

Para o docente, há diversas formas de atuação do homem que podem contribuir para esse desequilíbrio. “Se propaga nos meios científicos que essas mudanças climáticas são antropogênicas, quer dizer, consequências das atividades do homem”, comenta, ao acrescentar que isso não envolve ‘apenas’ o desmatamento.

Ele explica que esse é um primeiro fator, mas há outros, como a urbanização, construção de cidades, de hidrelétricas, entre outros. Consequentemente, a energia vai sendo transferida para a atmosfera. “O homem prega muito a preservação das florestas, porque é o único ponto vulnerável que nós temos uma ação direta ainda. Preservando a Amazônia nós vamos conseguir, talvez não reverter o problema, mas pode ser amenizado”, orienta.

De acordo com o professor, nem sempre é possível observar as 4 estações do ano bem delimitadas no município e região. Há uma razão para isso. “Campo Mourão é praticamente atravessado pelo Trópico de Capricórnio, então, é uma zona de transição. Nós vamos ter anos que as estações serão bem definidas, como nós vamos ter anos que elas vão ser bastante perturbadas por essas correntes de ventos que vêm da Amazônia, as ondas de calor fora de época”, diz Borsato, ao esclarecer que essa é uma característica marcante na zona de transição, onde se localiza o município.

Ele chama a atenção para um agravante este ano: o fenômeno El Niño. “Nos últimos três anos, nós tivemos a La Niña”, acrescenta. O especialista explica que esse último fenômeno deixa o inverno mais seco no sul do país. Já no El Niño, ocorre o contrário: a tendência é haver ‘maior ocorrência’ de precipitações no sul, esclarece.

Segundo Borsato, a região de Campo Mourão não é tão afetada com esse evento. “Essas chuvas mais intensas já são mais consequência das mudanças climáticas do que do próprio El Niño”, sinaliza. O professor informa, ainda, a necessidade de a população ficar em alerta, pois, com as mudanças climáticas, esses eventos intensos podem retornar para a região.

Estação Climatológica

Os dados do tempo são coletados e armazenados diariamente na Estação Cimatológica. O sistema é automático, e os registros são acessados remotamente pelo Simepar (Sistema Meteorológico do Paraná), em Curitiba. O professor Victor Borsato explica que esses dados são disponibilizados, principalmente, para pesquisa.

Além disso, tais informações podem ser importantes para a comunidade em geral, caso seja necessário, por exemplo, comprovar a ocorrência de algum fenômeno que pode levar a prejuízos. “Até pouco tempo atrás, ocorria, por exemplo, o destelhamento de uma casa, aí o seguro exigia um laudo”, disse, acrescentando que, para comprovar o evento, a Estação é acionada pela seguradora e deve responder oficialmente se ocorreu, de fato, o fenômeno.

O professor dimensiona centenas de estudos que já foram desenvolvidos utilizando dados da Estação. “Só eu mesmo já produzi mais de cem artigos científicos, de 2006 até hoje”, falou, ao completar que, na grande maioria, foram utilizadas informações coletadas na Estação.

Currículo

Victor Borsato concluiu a graduação em Geografia em 1987, pela Universidade Estadual de Maringá. Também fez mestrado em Geografia em 2001, pela Universidade Estadual de Maringá, e doutorado em Ciências Ambientais (Nupelia) Ecologia de Ambientes Aquáticos Continentais em 2006, pela Universidade Estadual de Maringá. Finalizou o pós-doutorado em Geografia em 2013, pela Universidade Federal do Paraná.

Ele é professor adjunto na Unespar (Universidade Estadual do Paraná), campus de Campo Mourão. Desenvolve pesquisas nas áreas de geociências, especialmente, e climatologia geográfica (dinâmica atmosférica). É, ainda, sócio da ABClima e coordenador da Estação Climatológica de Campo Mourão.