Ezília clama aos ladrões: “Devolvam o meu carro”

No dia 18 de junho, Ezília acordou por volta das seis da manhã, como faz todos os dias. Depois de se arrumar, foi a garagem e apanhou o carro, um Corsa ano 96, verde metálico. Em seguida, se pôs nas ruas, até chegar ao trabalho, no Supermercados Carreira. Lá, há três anos, é zeladora. Na hora do almoço, viu o veículo pela última vez. Ele estava estacionado na rua. De volta ao trabalho, enquanto limpava o interior da empresa, ladrões levaram o carro. Ela não acredita no que aconteceu. E pede clemência aos ladrões: “Em nome de Deus, o devolvam pra mim”. 

Sem seguro, o veículo foi o maior sonho terreno de Ezília. Ela juntou economias por 12 anos, apenas, com o desejo em tê-lo. Após reunir R$8 mil, o pagou à vista. A aquisição aconteceu há quatro meses. Ela conta que estava feliz com o bem. Era uma espécie de superação humana, principalmente, por ter conseguido obter o automóvel. Foram anos trabalhando como zeladora, doméstica e numa empresa de aves da cidade. “Fiz uma poupança justamente com esse propósito. Foram mais de dez anos juntando até moedas. Às vezes, depositava apenas R$5. Mas nunca deixei de depositar um só mês”, revelou.    

Agora, sem o Corsa, o chão parece ter desaparecido. Ezília está depressiva, triste. Diz estar em pé apenas pelo trabalho, que necessita. Está revoltada. Angustiada pelo drama da mãe, a filha Marcela, apelou às redes sociais. Foram milhares de compartilhamentos com a foto do carro. Mas até agora, sem pistas. “Minha mãe está despedaçada. Pálida. Triste. E fica chorando. Eu tenho que encontrar esse carro pra ela”, disse.     

Ezília da Silva Santos tem 52 anos. Nasceu em Iretama em 69. Filha de pais lavradores, trabalhou na roça ainda menina. Plantou, colheu, tirou leite. Veio a Campo Mourão há 28 anos. Casou e teve dois filhos. Ela sempre foi pobre. Não tivesse arregaçado as mangas e trabalhado, nem mesmo o carro teria. Mas agora, ele se foi. E foi levado, muito possivelmente, por alguém que não trabalhou nem a metade dela. Ezília não sabe contar quantas vassouras já passaram por suas mãos. Sempre, numa jornada de suor e honestidade.     

Pensando em ajudar a mãe, Marcela iniciou uma campanha nas redes sociais. Lá, colocou a conta e o número do Pix. Uma espécie de “vaquinha” pra ajudar Ezília a comprar outro veículo. Até hoje, a nova poupança já contabilizava R$400. “Eu nunca quis ter o carro como luxo. Era por necessidade. Por vezes, deixei o trabalho sob chuva à noite. Tenho medo em andar sozinha”, disse. 

A façanha em comprar o Corsa dava gosto à filha. Desde a vinda do carro, via o olhar da mãe mais radiante. Era a tal chamada conquista. Ezília cuidava do veículo como um xodó. As manhãs de domingo, ao acordar, ela já sabia o que fazer. Comprou cera e produtos automotivos. E com eles, lavava e encerava o carrinho. Tudo, com muito zelo. 

Além da luta financeira, Elízia também batalhou pela vida, no sentido mais puro da palavra. Em outubro de 2014, foi diagnosticada com câncer no ovário. Por quase um ano, se submeteu às sessões de quimioterapia. Ficou fragilizada. Perdeu os cabelos. No entanto, a esperança gritou mais alto. Ela foi salva, embora até hoje, tenha cuidados de rotina. Guerreira, Ezília também teve uma hemorragia nos olhos. Perdeu 50% da visão e teve que realizar uma operação em Curitiba. Durante meses, o tratamento foi na capital.

Mas agora, a guerra é outra. E contra o sonho interrompido. Na cadeira da varanda de casa, em frente a garagem vazia, Elízia chora. Ela ainda não acredita que o carro não está mais ali. Não era um veículo de luxo, muito menos novo. Era apenas o resultado do trabalho de uma vida inteira. Um meio a sua locomoção. Mas a esperança não morre. Ela acredita que, cedo ou tarde, os ladrões devolverão o veículo.      

Serviço
O Corsa verde metálico, ano 96, placas CPY – 2662 foi roubado. Se você souber de informações sobre o seu paradeiro, ligue à polícia. Ou ao telefone (44) 99862-3590. Doações a Ezília podem ser feitas através do PIX 4499058464