Fim de uma era: Country Club é leiloado e arrematado pela metade do valor

A história do Country Club de Campo Mourão chegou ao fim. Após intermináveis ações na justiça, principalmente, em razão de dívidas trabalhistas e impostos em atraso, o imóvel foi leiloado em julho do ano passado. E arrematado por R$ 2,8 milhões.

Fundado na década de 60, foi nos anos 80 quando atingiu o ápice do glamour. Era o clube mais visitado da cidade. O responsável pelos melhores bailes. O melhor carnaval. E detinha as mais disputadas quadras esportivas. Hoje, após anos em uma espécie de “estado de coma”, o imóvel cheira a ruínas. Não é nem de perto o que já foi um dia. Mas agora, não há mais tempo a lamentações.

Eleito como o vice presidente do Country, em assembleia em março de 2022, Diogo Macowski está triste. Ele não queria que o destino do clube fosse este. Ele explica que o leilão ocorreu, em particular, por tributos federais em atraso. “Uma juntada de 16 dívidas que tinham penhora sobre o terreno”, disse. Ele não gosta do termo “vendido”. “Dá impressão de que os sócios venderam o clube por decisão própria. O que não aconteceu”, explica. A bem da verdade, o Country foi leiloado. E pela metade da pedida inicial, de R$ 5,6 milhões.

O que era o Country agora será agora um parque de demolições. Quase tudo virá abaixo. E, em alguns anos, será a moradia de algumas centenas de pessoas. “Vamos fazer um condomínio residencial”, afirma o administrador da Kwitschal Incorporadora, Gilmar Kwitschal. Segundo ele o leilão compreendeu uma área de 34 mil metros quadrados. A empresa já iniciou medições e documentações. Em breve virão as demolições.

“É triste ver o fim do clube. Eu mesmo já fui sócio. Participei ativamente do local. Mas infelizmente, assim como outros, o Country vinha passando por grandes dificuldades. Reflexo direto do surgimento de muitas associações na cidade”, disse Gilmar.

Diogo Macowski: “Lutamos com as armas que tínhamos”

Última tentativa

No final de 2020, um grupo de 19 abnegados iniciou uma nova gestão frente ao Country Club. E, mesmo diante de um quadro desolador, estavam certos que a missão seria cumprida. Na época, com apenas 50 sócios, fizeram campanha pedindo a adesão de novos associados. Chegaram a 150, número ainda pequeno diante às batalhas que viriam pela frente. “Precisaríamos de 350 para conseguir manter o clube em ordem”, destacou Diogo. Nas décadas de 80 e 90, o Country chegou a contabilizar 1,7 mil associados.

Fundado em 1962, o Country viveu o auge na década de 80. Naquela época, com muitos frequentadores, havia dinheiro para reformas e, consequentemente, a sua manutenção. Com o salão de eventos inaugurado, o local abrigou grandes casamentos. Tomou para si, um charme não mais visto na cidade. Foi um tempo em que realizava os melhores bailes de Carnaval. Sem contar, com os famosos e memoráveis bailes do Havaí e Anos Dourados. Mas isso tudo, acabou se perdendo. E, o glamour, transformou-se em nada.

Fechado desde o início da pandemia, o clube retornou. Mas em estado de “coma”. Tudo ali precisava ser melhorado. Mas faltava grana. E o principal: gente. Sem sócios, não entrava dinheiro. E isso era o que a nova diretoria mais necessitava.
Aos poucos, algumas áreas foram reabertas. Como a academia. Lá, tudo funcionava. Isso também aconteceu com as duas quadras de tênis. Além do problema financeiro, o clube também teve pela frente outro obstáculo: a tal Covid 19. Para não haver aglomerações, a diretoria vinha realizando um planejamento sanitário. E, vontade, não faltava aos abnegados.

Diogo contou que o grupo tirou dinheiro do próprio bolso para voltar as atividades. “Fizemos uma arrecadação para pagar a luz. Juntamos uma parte. A outra, parcelamos”, disse. Ao todo, era devido R$18 mil à Copel. Até a luz havia sido cortada.

Além disso, era visível o esforço de cada um para “ressuscitar” o Country. Diogo lembra que o grupo vinha fazendo tarefas braçais. Como a função de cortar grama, ou aparar o mato. Em 2020, o clube mantinha apenas quatro funcionários. Só para se ter ideia, na década de 80, eram 45.

Ações

Não se sabe exatamente em quais gestões as dívidas do clube tiveram início. Com exceção do IPTU. O imposto deixou de ser pago em 1993, sendo hoje, o maior rombo da instituição: R$4,7 milhões. Com o tempo, uma área do clube foi dada em troca de uma dívida trabalhista. Ela foi paga. Mas restavam outras, nas esferas federal, estadual e municipal.

Ao todo, segundo a diretoria, eram mais de R$6 milhões em dívidas, ainda a saldar. Nos últimos 20 anos, o lugar também foi alvo de leilões judiciais. Por volta de 2017, o Country realmente chegou a ser arrematado. Na época, a diretoria entrou com recurso de embargo. E reverteu a venda.

Em outras duas oportunidades, o imóvel também foi a leilão. Mas sem ofertas, não foi vendido. Por último, no final de 2021, a gestão conseguir tirar o Country de outro leilão. Era uma dívida particular, com valor de R$24 mil. Em entendimento com a empresa, o valor foi parcelado e quitado.

Atualmente, a renda mensal do clube era ínfima diante de um “cenário de guerra”. Mal pagava os funcionários. Aliás, há alguns meses não existiam mais colaboradores registrados. Todos eram terceirizados. “Diferente de outras gestões, a nossa não aumentou nenhuma dívida. É verdade que ainda restam salários a pagar. Mas estamos dando um jeito. Temos itens do clube a vender”, disse Diogo.

A batalha final

Levado a leilão por dívidas de impostos federais – R$1,7 milhão -, em julho do ano passado, o imóvel foi adquirido pela Kwitschal. A diretoria entrou com recurso contra o arremate, principalmente, alegando valor abaixo do mercado. Não adiantou. Para piorar, a justiça deu posse imediata ao comprador. Ou seja, era hora dos sócios “desapegarem”.

Não satisfeitos, adentraram à justiça, agora em 8 de fevereiro, com liminar contra a posse da empresa. Mas a liminar suspensiva foi também indeferida. Sem mais nada a fazer, uma reunião entre os associados foi marcada para o final de fevereiro. Nem dez pessoas compareceram. Então, num ar saudosista, a gestão comunicou a derrota e, consequentemente, o fim de uma história.

Diogo conta que a atual gestão fez de tudo para restabelecer o clube. Lutou com as armas que tinham. Mas foi pouco perante a guerra travada. “Não sinto que foi uma missão cumprida. Tenho um sentimento de derrota. Nos doamos demais. No entanto, não conseguimos o mínimo que precisávamos: sócios”, afirmou.

Country Club: o leilão ocorreu, em particular, por tributos federais em atraso