Fraternidade O Caminho, leva “alma” à Casa de Passagem de Campo Mourão

Até o começo do ano, o albergue de Campo Mourão era apenas uma casa de passagem. Ou seja, um local para acolher pessoas desassistidas. Moradores de rua, andarilhos, gente sem rumo. “Invisíveis”. Elas eram recebidas e alimentadas. Pernoitavam e, depois, rumavam seus caminhos. Mas, agora, além de manter a mesma função, o local possui “alma”. Coordenada por freis franciscanos, da ordem “Fraternidade, o Caminho”, a casa está mais humanizada. Existe uma preocupação maior com o ser humano. A começar, pelo simples gesto em escutar os dramas pessoais de cada um. E, por fim, tentar, de alguma maneira, reascender a esperança. 

Frei Galileu, conta que a maioria das pessoas que ali chega, possui histórico de vício. Seja em álcool ou outros tipos de droga. Deixaram as famílias e acabaram destruindo vínculos familiares. Acabaram sós. Numa estrada cujo caminho é, quase sempre, sem volta. “Vemos que quase todos deixaram suas casas. Preferiram a liberdade do vício. Uma vez que, em casa, o uso seria repreendido”, explicou.

Mais que recebê-los, os freis os assistem. Conversam. Escutam. Oram. E, tentam direcioná-los a um caminho de volta à vida. “Quem aceita sair do vício recebe nossa ajuda. Os levamos a uma casa da nossa fraternidade em Corbélia”, disse. Todas as pessoas que por ali passam, são tratadas com humanidade. Recebem a palavra de Deus. E passam a executar tarefas coletivas. “Quando a mente está ocupada, não há tempo para se pensar no vício. Eles têm que estar em atividade”, explicou.  

Mas, sem recursos, não se pode fazer muita coisa. Galileu diz que o espaço físico do prédio é mal aproveitado. Existe área, mas pra nada. “Precisávamos ampliar a construção. Fazer mais quartos. Uma academia. Melhorar os acessos”, diz. Hoje, para se locomover para qualquer canto, a passagem pela cozinha é obrigatória. Não há outra maneira. Além disso, a lavanderia está quase ao relento. Em dias de chuva, a situação é caótica. “As melhorias nas instalações só viriam a melhorar a acolhida”, explica. Hoje, a casa é mantida através de convênios com o município.  

A coordenação também pede à população doações. Seja com camas, lençóis, roupas, sapatos ou quaisquer outros objetos. Tudo serve a quem nada possuí. A casa está sempre lotada. Principalmente, agora, quando o número de camas foi diminuído, devido ao Covid. Embora os freis mantenham estoque de comida, não existem cozinheiros fixos. Para isso, contam com a ajuda voluntária da própria sociedade. Esta semana, três mulheres se propuseram a cozinhar. Fizeram de coração. “Quando as mãos se unem, a fé aumenta e a dor diminui”, enfatiza Galileu.   

Um fato bastante curioso no local é a presença de cães. É comum caninos se transformarem em acompanhantes de andarilhos nas estradas. Uma espécie de melhores amigos, em tempos difíceis. Então, quando algum morador de rua chega acompanhado do cão, os dois permanecem, juntos. A pessoa no quarto. E o amigo, no jardim. “O bicho fica quietinho. Quando o seu amigo decide ir embora, ele vai junto”, disse Galileu. 

Ajuda necessária

Aos 29 anos, Elvis da Silva está só. E deve passar o seu primeiro Natal distante da família.  Chegou ao abrigo faz 23 dias. E se sentiu acolhido. De verdade. Conta que morava em Santa Catarina, quando passou pela morte dos pais, ainda aos 18 anos. Os dois morreram juntos, num acidente rodoviário. Desde então, a angústia transformou-se em pesadelo. Caiu no álcool e nas drogas. 

Com a ajuda da família, passou por clínicas de tratamento. Chegou a ficar cinco anos sem nada usar. Foi quando conseguiu emprego no Mato Grosso. Lá casou. Tinha uma casa. Emprego. Estava tudo certo. Mas veio a pandemia. E foi despedido. Desde então, o mundo desmoronou. Viu o casamento ir a falência. Saiu de casa e caiu no mundo. O vício, novamente, despertou. 

Morando nas ruas de Maringá, decidiu caminhar até Campo Mourão. E, numa ida até o abrigo, encontrou a palavra dos freis. Isso foi o suficiente para que encontrasse forças para lutar, mais uma vez, contra a doença. “Nenhum dos meus irmãos sabe que eu estou aqui. Pretendo sair dessa sozinho. Não quero afligir nenhum deles. Entrei sozinho. Vou sair sozinho”, disse Elvis. 

O rapaz, com traços e trejeitos de bom menino, não está só. Ele conta com a “Fraternidade, o Caminho”. Em alguns dias, será levado até a casa de recuperação de dependentes químicos, em Corbélia. E ele está feliz com a ajuda. Ser libertado do vício, agora, é o primeiro passo para deixar de ser um “invisível”.

Serviço

Doações podem ser feitas através do fone (44) 98439-8765