Historiador aponta erro no nome de uma das principais avenidas de Campo Mourão

Norberto Marcondes ou Norberto Mendes Cordeiro? Quem passa diariamente em uma das principais avenidas de Campo Mourão possivelmente não sabe que a denominação tem um erro histórico grave. Quem aponta essa falha é o historiador Jair Elias dos Santos Júnior, autor de 16 livros sobre a história de Campo Mourão e do Paraná, e finalizou recentemente a segunda edição do livro “Campo Mourão, a construção de uma cidade” que vai ser lançado em breve.

Segundo o historiador, com a emancipação de Campo Mourão de Pitanga em 1947, uma das preocupações do Poder Público era dotar o pequeno núcleo urbano de condições para o seu desenvolvimento. Preocupado com a questão de organização administrativa, em 1952, o advogado Nelson Bittencourt Prado — um dos maiores estudiosos da história mourãoense — fez uma indicação a Câmara de Vereadores sugerindo os nomes para os logradouros públicos. Para uma das avenidas indicou o nome do Comendador Norberto Mendes Cordeiro. “Obviamente que a prefeitura na época acolheu a sugestão de Nelson Prado, e assim, as ruas da cidade que se abria foram denominadas, homenageando pessoas que participaram da sua colonização”, explica Jair Elias.

No ano de 1954, ocorreu algumas alterações de denominações das ruas da área central. O nome da avenida Comendador Norberto Cordeiro foi mantido. Para Jair Elias, Norberto Mendes Cordeiro é um personagem icônico da história mourãoense. “No final do século XIX, ele esteve por aqui. A primeira viagem foi para reconhecer os Campos do Mourão, que eram famosos em Guarapuava. A segunda viagem, ao lado do Capitão Índio Bandeira, terminou nas Sete Quedas, de saudosa lembrança”. Mendes Cordeiro demorou um ano para realizar o que hoje pode-se considerar como “proeza”. Os índios, agradecidos pelo apoio de Cordeiro chegaram a fazer uma “maloca”, com cana-de-açúcar, colhidas de suas lavouras, para que Norberto Mendes Cordeiro pudesse morar.

Conta ainda o historiador Jair Elias, que Norberto era inquieto, e conseguiu uma audiência com o Imperador Dom Pedro II, para relatar o que viu nos Campos do Mourão. Em reconhecimento, o imperador lhe outorgou o título de Comendador da Ordem da Rosa em 1881. A Ordem da Rosa é uma ordem honorífica brasileira criada em 1829 pelo Imperador D. Pedro I para perpetuar a memória de seu matrimônio com Dona Amélia de Leuchtenberg. No final do império foi usada por D. Pedro II como moeda de troca para incentivar fazendeiros a alforriar escravos. “Além dos feitos nos Campos do Mourão, Norberto Mendes Cordeiro tinha escravos e deu liberdade a eles. Talvez foi mais um ponto que o fez merecedor da homenagem de Dom Pedro II”. Jair Elias revela que a imprensa no Rio de Janeiro, então corte do Império do Brasil, publicou várias notas sobre a viagem homérica de Mendes Cordeiro. Até mesmo um poema foi escrito em sua homenagem.

Em pesquisas realizadas em Guarapuava, o historiador Jair Elias, em companhia de Dérik Moreira da Silva, conseguiu descobrir talvez a origem do erro do nome de uma das principais avenidas da cidade. “Norberto Mendes Cordeiro morreu possivelmente antes de 1915, ano que a Câmara de Guarapuava denominou uma das ruas da cidade como ‘Comendador Norberto’, que existe até hoje”, explica Jair. Na década de 1920, a família Marcondes em Guarapuava era numerosa e teve papel importante na época. “Somente em Guarapuava existem as ruas Norberto Marcondes, Prof. Carlos Norberto Marcondes e Coronel Manoel Marcondes. Além da Comendador Norberto. Ou seja, muito fácil para gerar uma grande confusão”.

Norberto Mendes Cordeiro e esposa, o Comendadar da Ordem da Rosa

Jair Elias ainda cita que no primeiro mapa da cidade, desenhado no final dos anos de 1950, aparece a denominação correta da avenida “Comendador Norberto Mendes Cordeiro”. “Acredito que no começo dos anos de 1960 que foi gerada a confusão. Alguém de Guarapuava esteve aqui e disse para a Prefeitura que o nome era Norberto Marcondes. O poder público então, tirou o Mendes Cordeiro e colocou o Marcondes. E assim nasceu o grande erro”.

Para o historiador é “um erro grave numa cidade que presta homenagem a um personagem que teve seu sobrenome trocado de maneira equivocada”. Segundo Jair Elias, o nome de uma rua é uma história. “Estamos então rememorando um sobrenome que não deveria ter sido colocado numa homenagem a um personagem que aqui esteve no final do século XIX. Perpetuar esses erros é desserviço a memória local”.