Na cidade que mais parece um eterno domingo, o Pare Azul continua dando o que falar

Desde o início do estacionamento rotativo, em Campo Mourão, o centro da cidade se parece a um domingo, todos os dias. Os carros sumiram e as queixas, aumentaram. Pelo menos, para uma parte da população. Agora, os veículos passaram a se concentrar nas avenidas e ruas fora do limite de cobrança. Se por um lado a medida melhorou a oferta de estacionamento, por outro, desagradou pela grana. E o reflexo direto é sentido pelos empresários. Uns mais, outros menos e até, quem garanta que o movimento melhorou.

Sócio diretor da Auto Peças Cometa – uma das empresas mais tradicionais da cidade, Denir Daleffe revela que antes das novas medidas, a maioria dos seus funcionários deixava o carro próximo da loja. Desde então, passaram a estacionar no interior da própria oficina, abrindo vagas aos clientes. “Mas mesmo com as vagas na frente do prédio, infelizmente o movimento caiu. Os clientes querem estacionar em lojas que possuam vagas particulares aos carros. Evitando o rotativo”, disse.

Proprietária do Restaurante do Moacir, na rua Santa Catarina, Gisele Coelho diz que o movimento caiu. Mas não necessariamente, em decorrência do rotativo. “Não sei precisar se a queda dos consumidores está diretamente relacionada ao Pare Azul. Acredito que possa estar atrelado à crise econômica”, revela. De acordo com ela, alguns clientes reclamam sobre o pagamento. Já, outros, não. De um modo geral, a empresária acha que é apenas questão de tempo, até que a população se habitue ao novo processo.

Empresa tradicional na cidade, a Brinquedolândia não foi afetada pelas novas medidas. Ao contrário. Munir Karim, responsável pela loja, garante que até hoje, nenhum cliente reclamou sobre o pagamento do estacionamento. “Eles até elogiam. Antes não conseguiam parar aqui. Hoje tem vaga sobrando”, explicou. Para melhor atender o consumidor, a empresa também paga o aplicativo ao motorista. “Quando um cliente diz que não tem o Pare Azul eu mesmo pago pra ele. É um custo muito baixo. Além do que, ele sai feliz”, disse. Em tempo: um funcionário da Brinquedolândia está deixando o carro nas ruas abaixo do limite de cobrança. Antes, o deixava quase em frente à loja.

Outro lado

Se por um lado parte dos motoristas e empresários continua a reclamar, “azulzinhos” – nome dos profissionais contratados pelo Pare Azul -, só agradecem. São pelo menos 20 novos empregos gerados com o rotativo. Há quatro anos desempregada, Francielly dos Santos, 36, não via a hora de conseguir um novo emprego. Foram 48 meses batendo nas portas de inúmeras empresas, sempre recebendo um não como resposta. Mas o vento soprou em seu favor. “Tenho três filhos. Precisava muito deste emprego. Minha vida melhorou”, disse.

Como Francielly, Angélica da Silva, 34, buscava uma oportunidade. E ela chegou em junho, com o estacionamento rotativo. “Eu era registrada numa outra empresa. Mas saí de licença maternidade. Quando voltei, fui dispensada”, disse. A partir daí, foram 24 meses de incertezas, até ser contratada mais uma vez. “Graças a Deus estou registrada de novo”, garantiu.

Implantado há pouco mais de um mês, o Pare Azul alcançou o principal objetivo: abrir novas vagas no centro. No entanto, uma pequena parte dos motoristas ainda não aprendeu a respeitar quem nele, trabalha. Já são seis boletins de ocorrência contra pessoas que agrediram ou ameaçaram monitores. Um deles acabou se transformando em processo de calúnia. “Os monitores sofreram muito no começo. Mas mesmo assim, estamos recebendo um feedback muito positivo. De um modo geral, a população está a favor do rotativo”, disse Nichollas Marshell, diretor do Pare Azul.