Nas esquinas da vida, Vitor buscou inspiração

A cena se tornou comum em Campo Mourão. Nas esquinas, ou praças, um jovem bem vestido. De colete e camisa social. Cabelo penteado, debruçado sobre uma folha de papel. Em posse de uma caneta, passa o dia a escrever. Somente este ano, está prestes a finalizar a segunda obra. Seu nome é Vitor. Aos 20 anos, mora numa pensão. Mas prefere criar na rua. Ora está na praça do Fórum. Ora em alguma esquina. E, pasmem. Ao invés de Letras, faz Matemática. 

Vítor é um sujeito determinado. Saiu de Iretama há dois anos em busca de uma faculdade. Em Campo Mourão, passou a viver só. Mora numa pensão. O curso é de graça. Mas a moradia não. Então, o jeito foi se virar. Conseguiu emprego como cuidador de uma senhora. Trabalha de noite. Ganha R$550. Para dormir, vão R$360 ao mês. Outros R$190, o que sobra, é para comer. E ele diz que é o suficiente. 

Diferenciado, o jovem mostra uma sede por cultura. Durante a pandemia, já foram, segundo ele, 205 livros “devorados”. Empresta a maioria na Biblioteca Municipal. É uma espécie de fantasma local. Mesmo quando está fechada, ele continua a rondar. Sua sede é insaciável. E, nos momentos em que não lê, escreve. “Aproveitei que tranquei a faculdade para me dedicar a criar. Escrevo sobre o fim do mundo. Fantasias. Magias”, disse ele. No entanto, sem um notebook, vai na base dos “garranchos”. Caneta que rola macia sobre o papel.

Vitor dos Anjos Suntak nasceu em Guarulhos, na grande São Paulo. A mãe tinha 15. O pai, 25. De tão jovens, não rolou uma vida a dois. Então, o menino acabou criado pelo genitor. Mas isso somente até os 11. Foi quando veio a Iretama, “jogado” ao colo da avó paterna. Ali, cresceu e estudou o magistério. E, centrado, decidiu que queria ser alguém. 

Em Campo Mourão, está sozinho. Nem mesmo em Iretama possui mais a avó. Ela se mudou ao Ceará. Também, segundo ele, não tem ajuda dos pais. Aliás, nem contato tem muito. Embora “forçado” a fazer a catequese, Vitor é ateu. Mas não é daqueles que embatem discursos contra religiões, ou deuses. Prefere ficar na dele. Mas acredita na existência do bem e do mal. Respeito faz parte de sua cultura.     

Agora, apegado pela escrita, já pensa se voltará a cursar Matemática. “Sempre fui bom em exatas. Mas não sabia que curtiria tanto escrever”, revelou. Em breve, deve buscar recursos para publicar uma de suas obras. Enquanto isso não acontece, as esquinas continuam sendo sua fonte de inspiração.