No aniversário do golpe militar de 1964, a análise do deputado Rubens Bueno

O dia 31 de março de 1964 foi marcado pelo Golpe Militar no Brasil, onde o então presidente João Goulart foi deposto do poder e militares tomaram o controle de locais estratégicos do país. Pouco tempo depois, o marechal Humberto Castelo Branco foi colocado na presidência por eleição indireta. O golpe de 1964 deu início à chamada Ditadura Militar, que se estendeu até 1985.

Na época o deputado federal Rubens Bueno tinha 15 anos de idade. Em entrevista à TRIBUNA, ele relata um pouco sobre como viveu esse período da história do Brasil. “A decretação de um regime de exceção, de uma ditadura, foi um grande baque. Uma decisão que interferiu na minha vida e de todos aqueles que sempre defenderam a liberdade, a livre manifestação de pensamento, enfim, a democracia”, ressalta Bueno.

Crítico ferrenho do regime, para ele qualquer medida que possa superar a instalação de uma ditadura e a manutenção da democracia teria sido melhor para o país. “Perdemos, naquele momento, por exemplo, a possibilidade de se instalar um regime parlamentarista, tese que nosso partido defende até hoje”, enfatiza o parlamentar. 

Ele reconhece que era um momento conturbado da política. “Jânio Quadros havia acabado de renunciar, numa espécie de auto golpe, esperando voltar nos braços do povo. Isso não ocorreu. João Goulart assumiu o comando do país com a desconfiança em torno de sua ligação com partidos de esquerda. Instalou-se, então, como em qualquer crise política, uma desconfiança e a economia se desequilibrou”, contextualiza. 

Rubens Bueno conta que enquanto jovem continuou buscando estudar e compreender melhor o Brasil e o mundo. De 1978 a 1981 estudou e formou-se em Letras no Centro de Ensino Unificado de Brasília. Em 1983 foi eleito para o primeiro mandato de deputado estadual no Paraná, disputando o cargo pelo MDB, principal força política que aglutinava os que se opunham à ditadura.

“A ditatura trouxe prisões arbitrárias, mortes, execuções daqueles que pensavam diferentemente do regime. Em um país, no mundo inteiro, toda vida é importante e precisa ser protegida. Também trouxe a restrição da liberdade e o medo para aqueles que tinham projetos progressistas para o país e que pretendiam que o Brasil desse um salto em seu desenvolvimento. Nosso mercado foi completamente fechado, o que atrasou nosso desenvolvimento científico, tecnológico e econômico. Ao fim, nossa economia ruiu”, sintetiza.

Ao lembrar do período, o deputado enaltece a união daqueles que lutaram pela liberdade e pela democracia, sem uma única bala. Para ele, alguns grupos que atualmente defendem a volta de regime parecido são essencialmente fundamentalistas e seque conhecem o mínimo sobre as tragédias provocadas por ditaduras mundo afora. “Essa possibilidade não existe hoje”, afirma, ao acrescentar que atualmente não há qualquer interesse das Forças Armadas em participar de qualquer tipo de golpe. 

Regime influenciou de cassação de suplente a nomeação de bispo

Pesquisas do historiador Jair Elias dos Santos Junior mostram alguns episódios da história de Campo Mourão influenciados pelo regime militar. Um deles foi a cassação do suplente de vereador Moacir Reis Ferraz, em 1964, por ter sido considerado simpático ao movimento comunista. “Fizeram um processo sem fundamentação, atropelando as normas regimentais da Câmara na época”, conta o historiador.

Até mesmo a nomeação do bispo Dom Virgílio de Pauli, em 1981, segundo Elias, teve influência do regime. “O bispo auxiliar de Vitória (ES), Dom Luís Gonzaga Fernandes, era o preferido do núncio apostólico Dom Carmine Rocco, que quis ouvir a opinião do arcebispo de Curitiba, Dom Pedro Fedalto”, afirma o historiador. A resposta de dom Fedalto teria sido “oponho-me totalmente”, ao alegar que Dom Fernandes era “radicalista” e iria “tumultuar a pastoral”.

Segundo Jair Elias, além de perseguições, a espionagem atingiu políticos, religiosos e pessoas comuns. Para a ditadura militar, o prefeito José Pochapski (1983/88) estimulava o comunismo em Campo Mourão. Foi o que descobriu o historiador por meio de um documento de novembro de 1984, quatro meses antes do fim o regime. 

“O relatório traz uma lista de pessoas que estariam divulgando a ideologia comunista na cidade e conclui que o prefeito Pochapski deixou a máquina administrativa ser manipulada por simpatizantes e militantes do comunismo”, relata Jair Elias. Outro fato marcante foi a visita a Campo Mourão do último presidente militar, João Figueiredo, em 4 de novembro de 1982.