Ofício sobre suspensão de atendimentos eletivos era interno e intenção não era polemizar, diz Santa Casa

Médicos do corpo clínico da Santa Casa de Campo Mourão e a superintendência do hospital concederam uma entrevista coletiva à imprensa no fim da tarde desta quarta-feira (22), para esclarecer a suspensão de serviços eletivos.

Estão suspensos desde segunda-feira (20) cirurgias eletivas (SUS e Convênios), serviços ambulatoriais – todas as especialidades incluindo Ciscomcam, estágio curricular (todas as especialidades), além do centro cirúrgico geral que foi desativado provisoriamente transferindo todo o fluxo de urgência e obstetrícia serão redirecionados ao centro cirúrgico obstétrico.

A medida gerou críticas à Santa Casa por parte do poder público (prefeituras da região e Campo Mourão e Câmara de Vereadores da cidade) de que a decisão não havia sido comunicada aos municípios. Portanto, teria sido unilateral.

O médico Eder Fortes, diretor clínico do hospital, informou que o ofício sobre o corte de atendimentos eletivos era interno, mas que acabou vazando deixando a situação ainda mais delicada, passando a impressão de que a entidade queria polemizar o assunto. Segundo ele, houve ‘um mal entendido’.

“O documento é oficial do hospital. É como uma ata de uma reunião que foi comunicada aos médicos, enfermeiros e prestadores de serviços sobre o que discutimos. A questão de ter vazado este documento para outros grupos não foi intenção nenhuma tanto dos médicos quanto da Santa Casa porque não há interesse de criar polêmica ainda mais neste momento. Sabemos que saúde não é brincadeira. O comunicado é muito preciso e certo”, explicou o médico. Ele não soube informar quem vazou o documento.

Já o médico Wanderlister Duque Tavares, diretor técnico da Santa Casa, informou que a suspensão dos serviços eletivos foi definida pelo corpo clínico em conjunto com a diretoria para resguardar os pacientes da urgência e emergência. “Bom que fique claro que todo atendimento de urgência e emergência está sendo realizado. O nosso pronto atendimento está funcionando com 100% de sua capacidade, assim como a maternidade e a oncologia”, disse.

Tavares explicou que a decisão de suspender as cirurgias eletivas e ambulatórios neste momento tem unicamente como causa o estoque reduzido de insumos hospitalares. “Comunicamos o CRM [Conselho Regional de Medicina] para nos orientar frente a isso. Temos um número de insumos para atender nossos pacientes de urgência e emergência com qualidade, UTI com 20 leitos, cirurgias de urgências e emergências, atendimento às gestantes que venham precisar de cesária. Estes pacientes continuarão sendo atendidos com qualidade”, falou. Vários hospitais do Paraná enfrentam o mesmo problema com falta de insumos.

O médico sustentou que o motivo de suspender as cirurgias eletivas foi pensando na ‘beneficência’ do paciente. “A gente precisa que nossos pacientes institucionalizados tenham condições de ter um atendimento adequado. É um direito deles”, sustentou. “E na função de diretor técnico eu tenho que prezar, ter responsabilidade de garantir que este paciente tenha um atendimento de qualidade. Já estamos atuando junto ao poder municipal e estadual para que nos ajude com esta questão dos insumos”, emendou, ao comentar que se a Santa Casa não tiver todo apoio neste momento, seja dos poderes municipal, estadual e federal, assim como da própria comunidade, a situação ficará ainda mais grave.

Tavares reafirmou que a suspensão de procedimentos eletivos é uma questão de resguardar. Ainda segundo ele, todos os pacientes que estavam com procedimentos eletivos agendados e foram ‘de certa maneira prejudicados’ terão seu atendimento posteriormente ‘assim que se chegar à solução do caso’. Já sobre a suspensão do centro cirúrgico para outro, explicou que a medida foi tomada por questões de custo operacional. “Se tenho um centro cirúrgico grande e suspendo eletivas vou para um centro cirúrgico menor que já temos capacidade de atendimento e ele já funciona. Com isso vamos otimizar nossos serviços e economizar com a demanda de insumos”, explicou.

Questionado sobre a saúde financeira do hospital, os diretores informaram que a Santa Casa há anos vem operando no ‘vermelho’. Ou seja, o que arrecada não é suficiente para trabalhar. “E neste momento com aumento exorbitante das medicações está cada dia mais difícil conseguir os insumos. E na atual conjuntura não adianta às vezes ter o dinheiro. Às vezes não tem insumo para ser adquirido”, explicaram os médicos.

Eles voltaram a comentar sobre o honorário atrasado de alguns médicos do corpo clínico, ao lembrarem que já comunicaram e pediram ajuda aos prefeitos da região para uma solução momentânea deste problema. “Estamos acumulando um déficit muito alto (cerca de R$ 50 milhões) e precisamos sair desta situação a curto prazo. O Estado está nos ajudando também a desenhar uma resposta a médio e longo prazo. Mas agora neste momento precisamos muito da ajuda de todos que puderem ajudar”, falaram.