Pastor Rubens: o pai solteiro dos vários “filhos” do abrigo

O pastor Rubens Carlos dos Santos, da Igreja de Deus no Brasil, é solteiro e não tem nenhum filho do próprio sangue. Mas como presidente do Abrigo Provisório A Mão Cooperadora de Campo Mourão, exerce o papel de pai adotivo dos jovens temporariamente abrigados na entidade e mesmo dos que já passaram por lá. Neste domingo, Dia dos Pais, ele será homenageado na confraternização que será realizada em um sítio com os adolescentes assistidos pelo abrigo.

Recebi esta semana a visita de um homem, hoje já casado, que quando adolescente esteve abrigado aqui e veio perguntar o que eu quero ganhar no Dia dos Pais, revela o pastor, emocionado. Ele conta que perdeu o pai aos 10 anos de idade. Eu senti a dor que eles sentem. Quando eu voltava da escola via os pais dos amigos esperando eles e eu não tinha. Por isso hoje poder representar essa figura é muito importante, relata.

A Mão Cooperadora acolhe adolescentes do sexo masculino entre 12 e 17 anos em situação de risco social encaminhados pelo Conselho Tutelar ou Ministério Público. Aqui eles ficam enquanto a gente tenta recuperar o vínculo familiar, quando isso é possível, explica o pastor. Mesmo que por um curto período, a relação entre eles se torna como de uma família. Tem alguns que ficam apenas alguns dias, mas já é suficiente para criar um vínculo, comenta.

Uma vez um psicólogo me repreendeu dizendo que eu não poderia permitir ser chamado de pai porque eles não são meus filhos. Um dos meninos então me disse que queria falar com o psicólogo porque ele fazia questão de me chamar de pai. No começo tinha um pouco de receio, mas hoje assumo essa condição, acrescenta o pastor, ao enfatizar que como religioso procura passar especialmente valores espirituais aos meninos através da figura paterna de Deus.

Mas a presença no cotidiano dos garotos não tem como fugir do papel de pai. Quando a direção da escola liga para resolver uma situação, sou eu quem vai, observa. Em caso de doença é a mesma coisa. Outro dia um menino necessitou ficar três dias hospitalizado e passei três noites dormindo numa cadeira lá ao lado dele, conta.

O pastor Rubens afirma que recebe os jovens como presentes de Deus. Eles não chegam aqui por acaso. Esse período que passam aqui transforma a vida deles e esse vínculo continua quando eles saem. Um dia andando no centro ouvi um menino gritando pai. Quando olhei reconheci que ele tinha passado pelo abrigo. Isso é gratificante, destaca o pastor, que também é enérgico quando necessário. O pai que ama não diz só sim, às vezes tem que dar bronca e ficar bravo, ensina.