Pedro passou 30 anos em sessões de diálise

Pedro adentrou ao Instituto do Rim, em Campo Mourão, em agosto de 1990. Na época, aos 26 anos, acreditava fazer apenas alguns exames. O que ele não sabia, é que passaria o resto de sua vida em sessões de diálise. Passados 30 anos, ele morreu ontem. Faleceu por problemas cardiovasculares. Teve parada respiratória duas vezes. E não resistiu. Seu caso não é visto como uma situação comum nas salas de hemodiálise. Principalmente, porque, segundo a literatura médica, a sobrevida média de renais crônicos é de dez anos.

Pedro de Freitas Bianchini morreu aos 56. Desde jovem descobriu ter problemas no rim. O jeito foi se submeter as sessões para a limpeza do sangue. Entre idas e vindas, perdeu parte da liberdade. As consequências das exaustivas hemodiálises, não lhe deram a opção em constituir família. Ou, simplesmente, ser um cara normal. Passou os últimos 30 anos numa rotina cruel. Da casa à clínica. Da clínica à casa. 

Com o tempo, não casou. Não teve filhos. Morava com a irmã, Aparecida. Ela passou a cuidá-lo, como uma espécie de filho. E ele necessitava de muitos cuidados. “Tomava muitos remédios. As vezes tinha sangramento no braço que fazia hemodiálise. Mas sempre eu conseguia parar o sangramento”, disse ela. Pedro passou a depender de ambulâncias e, cada vez mais, dos enfermeiros do Instituto. Eram como a sua segunda família.  

“Ele falava muito bem dos profissionais do instituto. Tinha um carinho especial por todos eles. Desde médicos até o pessoal dos serviços gerais. Todos do Instituto do Rim sempre o trataram muito bem. Eu tenho grande gratidão por todos eles. Muito humanos e ótimos profissionais”, revelou Aparecida. 

Antes de adoecer, Pedro levava uma vida como tantos outros. Trabalhou em fazendas da região como lavrador. Fazia trabalhos braçais. Mas com os problemas a seguir, acabou aposentado por invalidez. Aparecida Bianchini está com 60 anos. E está profundamente abalada com a ida do irmão. Para ela, Pedro teve uma vida de muito sofrimento. Viveu pouco. E sofreu muito.  

A irmã descreve Pedro como um sujeito sossegado. Embora, as vezes, rebelde e nervoso. Mas só as vezes. “Era como um anjo. Um bom menino. Mas bastante sofrido”, diz. Enclausurado num mundo apenas dele, gostava de ouvir e assistir tudo sobre notícias. Tinha satisfação em estar bem informado. Nunca jogou futebol. Embora, fosse fanático torcedor do Santos. Não perdia um só jogo do time.  

Caso incomum

O caso do Pedro Bianchini não é uma situação comum dentro da sala de dialise. O paciente renal muitas vezes apresenta a doença como uma complicação de outras comorbidades. “Quando entra em hemodiálise, o paciente vive muito bem nos primeiros 5 a 10 anos. A sobrevida média, segundo a literatura, é de 10 anos. Mas sabemos que isso depende de muitos fatores, como outras comorbidades, auto cuidado, além do próprio serviço de atendimento”, explica a médica Nefrologista Maísa Moraes Schreiber. 

Maisa acredita que o caso de Pedro é um exemplo aos demais pacientes renais. Principalmente, para mostrar que sim, é possível viver fazendo hemodiálise por muitos anos. A Nefrologista acabou herdando a cadeira do pai no Instituto do Rim de Campo Mourão. Martinho Fernandes de Moraes, que morreu em 2010, foi o primeiro médico de Pedro. Por uma coincidência do destino, Maísa, a filha, foi a última a vê-lo. Antes dela, um outro médico nefrologista, Dênis Aranha, fez a reanimação de Pedro e lutou até o último momento para salvá-lo. Em vão.