Prefeitura de Campo Mourão remove novamente índios à aldeia, em Manoel Ribas

A prefeitura de Campo Mourão, por meio da Secretaria da Ação Social, levou de volta, nesta segunda-feira (29), um grupo de cerca de 15 índios da tribo Kaingangue à aldeia deles, na cidade de Manoel Ribas, distante 116 quilômetros de Campo Mourão. O transporte foi feito por um micro-ônibus, cedido pela Fundação Cultural.

Os indígenas voltaram a ocupar, desde o fim de fevereiro, um terreno do município às margens da Perimetral Tancredo Neves. O principal motivo para retirada deles do local é a situação da pandemia do coronavírus (Covid-19), já que muitos não tomaram a vacina, e alguns tomaram apenas a primeira dose. 

“Fiz contato com a Funai [Fundação Nacional do Índio] e o setor da saúde que está fazendo a vacinação informou que se eles não retornarem perderão a segunda dose. É muito preocupante, pois estão colocando sua saúde em risco e também a de moradores da cidade”, preocupou-se a secretária de Assistência Social de Campo Mourão, Márcia Calderan de Moraes. Ela lembrou que recentemente o município distribuiu kits de máscara de proteção e álcool em gel aos índios, mas que não fizeram o uso. 

Os índios invadem o espaço com frequência. Inicialmente havia cerca de 30 no local, mas boa parte já retornou para a aldeia de ônibus ou carro próprio. Após a retirada deles do local, a prefeitura fará a limpeza da área já que uma grande quantidade de lixos foi deixada no espaço. “Estamos estudando outro local mais adequado para eles ficarem. Não podemos impedir eles de virem”, falou Márcia. 

A secretária informou que os índios vêm a Campo Mourão por conta própria. “É próprio da cultura dessa etnia caingangue sair para municípios circunvizinhos vendendo seus balaios e artesanatos. Já fiz contato com a Funai e com o cacique, mas eles não têm o domínio. Eles saem em grupo e retornam a aldeia quando terminam a venda de seus produtos”, disse. 

Marcia explicou que na semana passada o município participou de uma reunião online com Ministério Público Estadual, Federal, e Procuradoria do Trabalho de Manoel Ribas para tentar achar alguma solução que amenizasse a situação. “Mas a gente vê que tanto a Funai quanto o Ministério Público Federal ficam de mãos atadas porque os índios têm este direito de ir e vir e não há como proibirmos”, frisou, ao lembrar que medidas mais eficazes para amenizar o problema devem partir dos órgãos federais. 

A permanência dos índios no local vira incômodos a alguns moradores pois além do lixo que acumula no local, é constante a fumaça de fogueiras feitas por eles. “Recebemos várias reclamações da população sobre problemas de sujeira e pelo fato de circularem pela cidade sem máscaras”, disse Márcia.

Ela ressaltou que o município já havia notificado a Funai e Ministério Público Federal para providenciarem o retorno deles para a aldeia. “Sempre estamos trabalhando de forma a resolver a questão dentro da legalidade”, ressalta a secretária.

Em 2018 um representante da Funai, Ivaci Ribeiro, esteve em Campo Mourão e explicou que por conta da desestruturação da Funai as reservas ficaram praticamente sem assistência. “Com isso as famílias ficaram sem orientações e passaram a acampar nas cidades para vender artesanato e manter a cultura nômade”, esclareceu. Ele disse ainda que mais de 450 famílias indígenas da etnia caingangue residem em Manoel Ribas.