Preso injustamente, Welington agora tenta reaver carro

Welington foi preso injustamente. A ele, recaía o peso de transportar quase meia tonelada de cocaína. A droga estaria misturada aos produtos que revendia, uma cera líquida para lustrar veículos. Mas o composto foi encaminhado a perícia, desqualificando a acusação. Em liberdade desde o dia 7 de janeiro, agora, ele luta para reaver o veículo. A Saveiro continua apreendida em Campo Mourão. 

São quase dois meses de espera. Welington Santos Moura está revoltado com a situação. Além de ficar 69 dias preso, agora, vem somando prejuízos dia a dia, sem o automóvel. Segundo ele, não consegue dar continuidade a vida. Ou seja, revender os produtos. As consequências passaram a ser trágicas. “Eu preciso do carro para trabalhar. Sem ele, não vendo. E também, não pago nem as parcelas do financiamento do veículo”, disse. 

De acordo com a advogada de Welington, Viviane Schon, o pedido para a devolução do carro foi realizado no mesmo dia da sua liberdade. Mesmo assim, até hoje, a justiça não o devolveu. “O Ministério Público se manifestou contrário a liberação do veículo, por entender que ainda exista algo ilícito no produto”, explicou. No entanto, ela lembra que o composto passou por três exames no Instituto de Criminalística do Paraná. Atestando negativo, a todos eles. “A perícia foi feita. Não há o que se contestar”, afirmou.

As alegações do Ministério Público aconteceram no dia 24 de fevereiro. “Considerando a aparente contradição existente no laudo pericial apresentado… é necessário esclarecimentos complementares ao órgão pericial, para que diga expressamente se foi ou não detectada a substância cloridrato de cocaína. E – se não – porque então a imagem demonstrativa entre as amostras, a princípio, sugere coloração azul compatível com a presença dessa substância no teste químico que foi realizado sobre o material apreendido”. 

“Antes desse esclarecimento, conclui-se que não há condições seguras para afastamento definitivo da prática delituosa e, de consequência, restituição dos objetos apreendidos, sobretudo as substâncias sob questionamento”, pediu o MP à justiça.  

O caso

No dia 30 de outubro de 2020, Welington Santos Moura, 24, e a esposa, Patrícia Varela, 25, deixaram Francisco Beltrão, no sul do estado. Tinham como destino o interior de São Paulo. Mas a viagem terminou em Campo Mourão. Eram 15h42 quando foram obrigados a parar no posto da Polícia Rodoviária Federal. Na Saveiro que conduziam, os agentes encontraram mais de 800 frascos de cera automotiva. Produtos que revendiam para o seu ganha pão. Mas, sem mostrar uma nota fiscal, passaram a ser suspeitos de algo ilícito. E foi neste momento, em que foram apresentados ao “inferno”. 

No posto policial, Welington alegou que permaneceu quase três horas no interior do veículo. “Eles fizeram uma abordagem normal. Mas pediram que ficássemos no carro. Também chamaram reforço. Em nenhum momento nos convidaram a ver o teste”, afirmou. Uma solução – coca test – foi colocada em contato com a cera líquida. Se ficasse na cor azul, estaria testando positivo para a cocaína. E assim, teria acontecido. A composição não só ficou azulada, como remeteu o casal à cadeia. Detidos em flagrante, pela Lei 11343 – Nova lei de tóxicos -, foram encaminhados à delegacia de Polícia Civil, permanecendo 69 dias encarcerados. Mesmo a justiça indeferindo diversos pedidos de soltura pela defesa, a liberdade do casal aconteceu, definitivamente, no dia 7 de janeiro. 

Isso foi possível porque 12 amostras do produto foram remetidas ao Instituto de Criminalística do Paraná. O teste final determinou que não. A composição não tin ha entorpecentes em sua fórmula. Muito menos, cocaína. Os 12 frascos foram analisados por três diferentes técnicas. Naquela tarde, de 30 de outubro, o casal se deslocava apenas para revender os produtos em postos de combustíveis de Marília, em São Paulo. Lá, tinham parcerias com alguns estabelecimentos. Faziam testes do produto para motoristas e os comercializavam. No entanto, a viagem foi adiada. 

Na delegacia de Campo Mourão, o casal alegou inocência. Diziam que eram somente vendedores de um produto de limpeza para carros, o Eco Flex Clear. E que não entendiam porque a substância indicou a presença de cocaína. Mesmo assim, o inquérito policial foi encaminhado a justiça. E lá, o juiz acatou o flagrante. 

Advogada de defesa, Viviane Schon, disse que, um dia após serem presos, ela entrou com pedido de liberdade provisória. Mas foi indeferido. Mesmo alegando que os dois tinham endereços fixos, eram réus primários e, sem antecedentes criminais, tentou a revogação da prisão preventiva. Indeferido. Depois pediu um Habeas Corpus. Indeferido. Por último, tentou uma prisão domiciliar, com tornozeleira eletrônica. Indeferido. Sem mais recursos a pedir, o jeito foi aguardar o teste final no Instituto de Criminalística. Foi a salvação.

Imagem destruída

Welington nasceu na cidade do Rio de Janeiro. Mas há seis anos, reside em Francisco Beltrão, no Paraná. Veio tentar uma nova vida. Ele disse que sabia que seria inocentado. No entanto, tinha esperanças que não demorasse tanto. Acreditava que passaria Natal e Ano Novo com a família. Mas isso não aconteceu. “Tudo que peço é justiça. Para que pessoas como eu, não sejam presos injustamente, novamente. Para que casos como o meu, não aconteçam mais uma vez. Não desejo isso para ninguém. A pior coisa é você saber que não deve nada a justiça e estar preso por alguma coisa que você não fez. Uma coisa que eu não sou, é traficante”, afirmou.  

O casal tenta se recuperar dos constrangimentos causados pela detenção. Os dois permaneceram em celas comuns a outros detentos e correram riscos quanto ao Covid. Welington tem bronquite. Além disso, deixaram de vender os produtos por quase dois meses. E mais: a prisão causou danos as suas imagens. Embora Welington tenha aceitado falar, Patrícia ainda está abalada psicologicamente. Ela preferiu se manter distante da entrevista.