Quatro irmãs e uma decisão: correr da vacina

São quatro irmãs. Todas, acima dos 70. Em comum, o medo da vacina contra a Covid 19.  Juntas, ignoraram o dia de suas respectivas aplicações. Definitivamente, não irão tomar. Têm receio das chamadas contra indicações. Possíveis efeitos futuros. Extremamente católicas, vêm se apegando ainda mais à força divina. E também, ao kit sugerido pelo presidente Bolsonaro: Ivermectina e hidroxicloroquina. Enquanto a pandemia avança, elas continuam bem. E acreditam que o tormento logo passará.  

Moradoras de Campo Mourão, elas não serão identificadas. Uma delas atesta já ter contraído o vírus. “Tive sintomas leves. Fiz o exame e deu positivo”, disse. Para ela, o maior receio da vacina é não ter informações suficientes para acreditar em seus benefícios.

“A vacina saiu muito rápido. Não sei se foram feitos testes adequados para sua eficácia”, explicou. 

As demais irmãs são solteiras. Sempre moraram juntas. E pelos mesmos motivos, não tomaram a imunização contra a doença. Desde o início do ciclo pandêmico, vêm ingerindo medicações sugeridas pelo governo. E, segundo elas, tudo vai bem. Além disso, uma receita antiga é mantida como regra na casa: alho, limão e vinagre de maçã. Um chá, segundo elas, capaz de expulsar até “vampiros”. “Também utilizamos própolis, vitamina C e D, a vida toda”, comentaram.

Elas quase não saem de casa. No máximo vão ao mercado e a igreja. Embora, nos últimos tempos, o terço tenha sido rezado em casa mesmo. As irmãs levam uma vida pacífica. Quase secreta. Decidem suas próprias escolhas. Um direito, infinitamente, delas. “Logo logo isso tudo vai passar. Sabemos que o vírus está por aí. Nos cuidamos ao máximo”, dizem. 

Nas poucas saídas da casa, todas as medidas sanitárias são adotadas. Utilizam máscaras, álcool em gel e permanecem distantes das outras pessoas. Ao chegar da rua, retiram as roupas. Tomam banho e esterilizam os alimentos comprados. Mas, para elas, todo esse transtorno, um dia, passará. O vírus não durará para sempre, acreditam. E tão logo isso aconteça, a vida seguirá normalmente. Seja o que Deus quiser.  

Ciência e lei

Na visão de pesquisadores, médicos e cientistas, a solução para a vida voltar a um normal – que será diferente do normal estabelecido até o início de 2020 -, está na ampla vacinação de toda a população terrena. Eles atestam que as imunizações são sim, eficazes. Umas, protegem mais que as outras. Mas todas se mostram capazes ao combate a Covid 19.

No dia 17 de dezembro, do último ano, o Supremo Tribunal Federal (STF) autorizou estados e municípios a estabelecerem medidas compulsórias sobre a vacinação. Ou seja, podem adotar medidas legais pela sua obrigatoriedade. No entanto, isso não quer dizer que humanos possam ser levados à força, por exemplo, para receberem a aplicação.

Para o advogado Márcio Berbet, mesmo havendo a Lei Nacional de Imunização, inclusive com calendário de vacinações de outras doenças, o Governo não pode obrigar o cidadão a ser vacinado à “força”. “Porém, em contra partida, pode impor medidas restritivas a estas pessoas. Por exemplo: não poder frequentar determinados lugares. Não participar de concurso público. Não ter vaga em creche. Buscar um emprego ou fazer uma simples viagem de avião”, disse. Segundo ele, a imunização pode ser obrigatória, mas sem que haja medida impositiva direta do Estado. 

Para o secretário de Saúde de Campo Mourão, Sérgio Henrique dos Santos, restrições devem acontecer mesmo. “Muitos segmentos da economia podem vir a exigir a comprovação da vacina”, disse. Ele também compreende a não vacinação como uma irresponsabilidade. “As pessoas não imunizadas terão mais chances do agravamento da doença. Teremos que gastar dinheiro público com leitos. Sendo que o imunizante está disponível aos idosos, já neste momento”, afirmou. Dados da Secretaria Municipal de Saúde de Campo Mourão indicam que 82 pessoas – nas faixas indicadas pela Lei Nacional de Imunização -, ainda não buscaram a vacina contra a Covid, na cidade.