Risco de ocorrência do La Niña preocupa setor agrícola, diz Gallassini

O presidente do Conselho de Administração da Coamo, engenheiro agrônomo, José Aroldo Gallassini, não escondeu, durante entrevista à TRIBUNA, durante comemoração dos 51 da cooperativa, na sexta-feira (26), a preocupação do setor agrícola com as chances de atuação do La Niña durante a safra de verão do Brasil.

O fenômeno consiste na diminuição da temperatura da superfície das águas do Oceano Pacífico Equatorial, gerando uma série de mudanças significativas nos padrões climáticos. Para o Paraná, essa situação se reflete em um alto risco de chuvas em quantidade inferior ao esperado e mal distribuídas ao longo da estação, intercaladas com longos períodos de estiagem. Variações bruscas de temperaturas do ar também são esperadas, assim como a ocorrência de temporais, ventos fortes, granizo e incidência de raios.

Caso isso se confirme, a produção agrícola da safra de verão poderá ser comprometida devido à falta de chuvas. A baixa precipitação já vem ocorrendo desde o inverno, marcado também por geadas de forte intensidade, causando perdas significativas na produção do trigo e milho safrinha.

Para se ter ideia, de acordo com Gallassini, na área de atuação da Coamo, a perda com o milho safrinha foi de cerca de 70%. A cooperativa tinha estimativas de receber entre 35 milhões a 45 milhões de sacas, mas recebeu apenas 28 milhões. Por outro lado, as intercorrências climáticas elevaram os preços das commodities, com os produtores ainda alcançando resultados positivos, conforme Gallassini. “Agora o que realmente preocupa o setor é que se confirme o La Niña. Se isso acontecer podemos registrar perdas significativas nesta safra de verão”, observou.

Na região da Comcam, os produtores rurais plantaram nesta temporada 690.610 mil hectares de soja. O Deral estima um volume de produção em 2.520.726 milhões de toneladas, caso a região não sofra com interferências climáticas. Da área semeada, 95% estão em desenvolvimento vegetativo e 5% já na fase de floração.

“O La Niña é uma ameaça para o verão, mas não é um fenômeno tão aterrorizante”, descreve. Cunha alerta que o abandono das práticas de conservação de solo, por exemplo, causa mais prejuízos do que o clima. “É mais simples atribuir um bom ou mau desempenho ao clima”, observa.

Para reduzir os riscos das lavouras de verão, como a de soja, milho e também de feijão, presentes na região, as recomendações são semelhantes às dos cultivos de inverno, como escalonamento de plantio, uso de variedades adaptáveis, monitoramento de pragas e otimização da aplicação de insumos. Uma vez que o La Niña diminui a intensidade das precipitações, que passam a ocorrer de forma mais localizada, é recomendável investir em cobertura de solo e em boas práticas de manejo, explica a agrometeorologista do Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná — Iapar-Emater (IDR-Paraná), Heverly Morais.

90% de chance

Relatório da Administração Oceânica e Atmosférica (NOAA), divulgado na segunda quinzena deste mês de novembro, elevou para 90% as chances da atuação do fenômeno La Niña durante a safra de verão do Brasil. “É provável que o La Niña continue durante o inverno (verão no Brasil) de 2021-22 no Hemisfério Norte com 90% de chance e na primavera (outono no Brasil ) de 2022 com 50%”, afirma a previsão. Em outubro, o NOAA indicava 87% de chance.

Ainda de acordo com a publicação, durante o último mês o La Niña ganhou força, com temperaturas da superfície do mar abaixo da média. O NOAA prevê ainda que com as condições atuais, a tendência é de que o La Niña tenha força moderada neste ano. ” O consenso da previsão prevê que o La Niña persista por mais tempo, potencialmente retornando ao ENSO-neutro durante abril-junho de 2022″, acrescenta.

Caso se confirme, o La Niña poderá influenciar o regime de chuvas no Sul do Brasil pelo segundo ano consecutivo. A ocorrência de um La Niña preocupa todo o setor produtivo do país, sobretudo no Centro-Sul do Brasil, que sente os impactos da seca prolongada há dois anos. As chuvas retornaram em boa parte do país nas últimas semanas, mas o cenário segue sendo de alerta.

Segundo os dados da Geosy Brasil, o cenário é ainda mais preocupante no Rio Grande do Sul, que segundo a consultoria já apresenta condições do solo abaixo do ideal, impactando a continuidade da safra de soja 2021/22 e o desenvolvimento das lavouras já semeadas. De acordo com o Instituto MetSul, os efeitos do La Niña já são observados no estado gaúcho com a chuva escassa ou baixos volumes em grande parte do estado.

“Tal cenário não deve se alterar. O cenário representa risco para o milho que pode sofrer com escassez de água e o calor entre os meses de dezembro e janeiro”, alerta.