Roberson implorou socorro. Sua voz foi ouvida

Nos últimos 26 anos, Roberson esteve sozinho. Desolado pela morte da mãe, Dalva, rumou sem direção por muitos estados do país. Ele não sabia o que queria, muito menos, o que encontraria. Viveu em abrigos, marquises, na rua e na estrada. Teve fome, sede e passou a se encontrar em estado de vulnerabilidade social. Mesmo buscando algo que, ele mesmo desconhecia, acabou por descobrir a própria desgraça: o álcool. E, como uma espécie de fuga, bebeu mais do que podia. Foi um sinal. Sua redenção, agora, começa a ser desenhada.

Roberson Zeferino Gomes nasceu em 1975, em Conselheiro Mairinck, norte do Paraná. Filho único, foi levado com os pais, ainda aos três anos, até Sorocaba, interior de São Paulo. Lá, o casal se separou. E, anos depois, na justiça, acabou sob a guarda do pai, Ismail. Com o tempo, tanto Dalva, como o pai, se casaram novamente, tendo novos filhos. Mas a saudade da mãe era grande. Então, aos 12 anos, decidiu fugir. E foi ao encontro da genitora. “Sempre me dei bem com meu pai. Foi um pai de verdade. Mas não conseguia ficar sem minha mãe”, disse. Ismail morreu em 2017.

Já, novamente nos braços de Dalva, passou a conviver com as duas irmãs mais novas, frutos da união com o novo companheiro. Mas o casamento durou pouco. A mãe estava solteira, novamente. Moça simples, sempre teve uma vida marcada por obstáculos. E, segundo Roberson, para manter os três filhos, ela se virou. Mesmo que escondesse o que fazia. “A noite ela fazia programas. Ela tinha que nos sustentar. Foi o caminho que escolheu. Ela foi muito guerreira. Uma mulher de verdade”, disse Roberson.

Em 1994, debilitada por problemas de saúde, Dalva morreu. “Disseram que tinha morrido por tuberculose. Mas acredito que tenha sido por HIV. Encontrei alguns papéis escondidos em uma gaveta. Ela escondeu de nós”, lembrou Roberson. De acordo com o filho, nos últimos meses, a mãe estava “definhando”. Consequências da doença. A morte marcou os limites de Roberson. Ali, era o ponto final de uma vida. E o início de outra. O jovem traçou caminhos sem voltas.

Aos 20 anos, apanhou uma mochila e deixou Sorocaba. O caminho a seguir seria pra onde o vento soprasse. E ventou muito. Passou por Mato Grosso, Distrito Federal, Goiás, Minas Gerais e, por fim, Paraná. Foram mais de duas décadas percorrendo o trecho sozinho, isolado, como uma ilha. No caminho, encontrou muita gente. As boas lhe estenderam as mãos. As más, ofereceram o álcool. E ele aceitou. A escolha o levou ao inferno. Dias, semanas, meses, anos se passaram. Acabou alcoólatra. Virou refém de si mesmo. “Sempre acreditei na luta entre o bem e o mal. O mal não pode vencer”, disse.

Durante os caminhos percorridos, dependeu de gente que, até então, jamais havia conhecido. Pediu água, comida. Em casas de passagens, foi acolhido. Também conseguiu trabalhar esporadicamente. Foi servente da construção civil. Mas a grana, era o estopim do vício. Bastava a primeira dose. Depois dela, cachaça até o dinheiro acabar. Sua embriaguez era constante. Com ela perdeu os documentos inúmeras vezes. Somente o RG fez pelo menos dez. “Não sei dizer quantas vezes perdi minhas coisas. Bebia e esquecia da mochila. Quando cheguei a Campo Mourão, estava apenas com a roupa do corpo”, disse.

Nas andanças, quando chegou a Bauru, São Paulo, ouviu de outra pessoa em situação de rua, que no Paraná encontraria ajuda. E foi o que fez. Depois de passar por Umuarama e Cianorte, há uma semana, atracou em Campo Mourão. Era uma noite de frio intenso. Numa residência, pediu comida. Ganhou até uma coberta. Sem onde dormir, encontrou um carro abandonado, próximo a rodoviária. E foi ali onde dormiu. “Aquele carro velho me salvou do frio”, disse.

Pela manhã, soube da Casa de Passagem coordenada pelos freis franciscanos. Não teve dúvidas. Marchou até lá. Já na entrada, abriu o coração e pediu clemência. Ele queria parar com o álcool. Foi então que, comovido pela história, Frei Amós o recolheu. “Você não vai mais sair da casa, disse o frei pra mim”, lembrou Roberson. A partir daquele dia, ele não bebeu. Está sóbrio desde então. Diferente do dia em que, extremamente alcoolizado, vomitou em frente do albergue.

“Só tenho a agradecer ao Frei Amós e o Patrik. Eles me escutaram. Ouviram minha voz e o meu pedido de ajuda”, disse. Em breve, Roberson será encaminhado a uma casa de recuperação em Corbélia. A entidade faz parte do trabalho dos freis. Aos 46 anos, Roberson está sendo ajudado. Ele deseja deixar o passado alicerçado pelo álcool, ou como descreve, pelo mal. Sua redenção, é também sua própria esperança.