Samu avança na identificação de trotes para evitar prejuízo ao serviço

Cada vez mais, o Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) tem buscado medidas para identificar trotes e evitar sair das bases sem necessidade. Alain Barros Correia, coordenador médico do Samu da região noroeste do Paraná, área que abrange Campo Mourão, falou à TRIBUNA sobre algumas das medidas utilizadas para que o atendimento a quem realmente precisa não seja afetado.

O profissional explicou que, por volta de 2017, quando houve uma mudança no sistema de telefonia utilizado pelo serviço, a quantidade de trotes foi consideravelmente reduzida. Ele comentou que um fator significativo para a grande diminuição desses casos foi a implementação de um sistema antitrote junto à empresa de telefonia que fornece do software ao Samu. Com isso, alguns números podem ser bloqueados temporariamente, evitando a recorrência de ligações desnecessárias ao serviço.

Segundo Correia, sempre foi possível identificar de imediato que muitas dessas ligações não se tratavam de nenhum caso real, pois eram trotes bastante infantis, em que a pessoa ligava e gritava ou colocava música. Mas, a partir do momento que o novo procedimento passou a ser adotado, quando o telefonista constata que a ligação é um trote, aciona o sistema, bloqueando o número por alguns minutos e impossibilitando novas chamadas ao serviço de urgência nesse tempo.

Correia esclareceu que, antigamente, o grande problema eram sobretudo os trotes por crianças em momentos de intervalo ou no final da aula. “As crianças saíam dos colégios, iam para o orelhão e, nossa! Eram vinte, trinta ligações uma atrás da outra”, lembrou.

Como, até então, não havia como bloquear essas ligações repetidas, isso resultava em um número absoluto de telefonemas classificados como trote expressivo. “O principal ponto que conseguimos bloquear foi justamente esse dos trotes pelas crianças”, ressaltou.

Para se ter ideia, a redução do número de trotes depois da implementação do sistema caiu mais de 13%. “Nós tínhamos, no início do serviço, números que chegavam de 15 a 20% das ligações como trote”, disse, ao acrescentar que, depois da inovação, reduziu para menos de 2%.

Trotes graves por adultos

Isso ajudou o Samu a se proteger de grande parte da ‘brincadeira de mau gosto’, mas não de forma integral. “Não nos livramos completamente, porque infelizmente temos situações ainda ‘bizarras’ de trotes passados por adultos”, disse, complementando que, em geral, essas ocorrências são ainda mais graves, já que não são ‘apenas’ um incômodo, mas envolvem adultos fingindo necessidade de atendimento.

Em alguns casos, há, até mesmo, a comunicação de supostas situações graves. “Nessas ocasiões, obviamente, o médico regulador acaba enviando recursos, UTI móvel, pedindo apoio dos bombeiros para, muitas vezes, chegar no local e verificar que, infelizmente, não se passou de um trote”, lamentou.

O profissional disse que, felizmente, esse tipo de situação não é recorrente, mas lamentou os casos que eventualmente ocorrem. “Naquele momento em que essas unidades estão se deslocando para esse potencial incidente, a gente pode ter outros atendimentos que são atrasados dado esse deslocamento desnecessário”, destacou.

O próprio coordenador médico já disse ter atendido uma ligação em que o solicitante fingia que a esposa dele estava em trabalho de parto em uma área rural, com uma pessoa ao fundo, fingindo gritar. “Ficamos ali uma hora e meia tentando achar a suposta casa e, no final, o cidadão bloqueou o telefone, a gente não conseguia mais ligar para ele. Entramos em contato com o hospital municipal, e eles falaram que também receberam ligação do mesmo número, só que relatando uma situação diferente”, falou, incrédulo.

Para Correia, os trotes a serviços de urgência e emergência vão ‘muito’ além de uma ‘brincadeira de mau gosto’, porque, para ele, a sociedade vive uma realidade de recursos restritos. “Devido ao volume de atendimentos, nós não temos recursos suficientes para atender a todos ao mesmo tempo”, comentou, dizendo que a demanda aumenta gradativamente a cada ano.

“O que ocorre é que esses trotes podem realmente resultar em situações gravíssimas”, disse, lamentando a falta de empatia de quem realiza esse tipo de prática. Apesar das limitações e dos problemas que acabam ocorrendo por ‘maldade’, o profissional assegurou que as equipes do Samu procuram sempre oferecer um serviço com cada vez mais qualidade à população.