Santa Casa ‘respira’ com salário atrasado pago de dezembro e presidente comenta dificuldades

Evitando uma greve de funcionários, anunciada pelo Sindicato da categoria, a diretoria da Santa Casa de Campo Mourão conseguiu honrar o pagamento dos salários atrasados de dezembro aos servidores da unidade. O hospital, consegue agora ‘respirar’, pode se assim dizer, com os membros diretores continuando a busca por soluções que amenizem a crise financeira que há anos assombra o hospital de referência regional. A dívida ultrapassa a cifra de R$ 58 milhões.

A presidente da Santa Casa, Mariceli Bronoski, que assumiu o hospital há seis meses, concedeu entrevista à TRIBUNA. Afirmou que o rombo milionário nas contas impossibilita a entidade de quitar pendências. Entre elas está a falta de pagamento do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e consignados dos funcionários. Sobre a situação, a presidente disse que o hospital está trabalhando para resolver o problema.

O Hospital Santa Casa ainda enfrenta uma situação financeira extremamente difícil. Após seis meses da nova diretoria assumir a gestão, realizamos um levantamento dos custos dos procedimentos, quantificamos o atendimento por município e buscamos alternativas junto aos municípios, governos e Ministério Público para custear as despesas”, falou Mariceli.

A presidente disse que atualmente, a diretoria tem ‘controle total’ das despesas e receitas. “Enviamos ofícios aos órgãos competentes detalhando a necessidade de uma nova pactuação de valores, similar a outros hospitais da região, e aguardamos para iniciar as negociações”, explicou.

Segundo ela, apesar da escassez de recursos, houve ‘avanços notáveis’ na unidade, como o restabelecimento do atendimento médico, especialmente na UTI Neonatal e Maternidade, que estavam em risco de fechar; pagamento dos honorários médicos durante a gestão; presença de equipe médica intensivista na UTI adulto; realocação do pronto atendimento para melhorar o atendimento; revisão de contratos e salários para isonomia; ajuste do fluxo de caixa; renegociação do FGTS atrasado; e negociações com fornecedores, servidores e prestadores de serviços.

Ainda sobre o salário atrasado de dezembro, agora já pago pelo hospital, Mariceli disse que o vencimento deveria ser pago no 5º dia útil, mas a carta de renúncia do tesoureiro foi apresentada em 4 de janeiro, sendo divulgada também nas redes sociais, tornando a notícia pública. “Não foi possível reverter essa situação facilmente devido a questões legais e formais. Devido à problemática financeira enfrentada pela Santa Casa ao longo dos anos, assim como outras instituições de saúde, por vezes ocorrem bloqueios judiciais nas contas”, disse, ao revelar que no último dia 10 houve bloqueio dos valores em conta devido a uma pendência de renegociação de 2014. “Estamos tomando as medidas necessárias para liberar os fundos e efetuar o pagamento dos salários [atrasados de meses anteriores]”, enfatizou.

Conforme a presidente, o pagamento de honorários referente ao período que assumiu a presidência está sendo realizado em dia. “Estamos gradativamente buscando pagar os cinco meses que havia em atraso. Os valores de anos passados iremos analisar posteriormente”, informou, ao comentar que a situação causa instabilidade emocional e prejudica o ambiente de trabalho. “Não gostaríamos de maneira alguma que estivesse ocorrendo essa situação. Os funcionários são parte integrante da Santa Casa, sem eles não tem como o atendimento existir. Por isso estamos atuando para resolver rapidamente este problema”, ressaltou.

Adiantamento de recursos

No mês de dezembro, Mariceli disse que a diretoria negociou com o município de Campo Mourão o adiantamento dos valores que a Santa Casa produz, para que fosse possível pagar o 13º salário dos funcionários e ajudar a pagar valores pendentes. Uma parte do valor foi paga em dezembro e a outra será depositada agora em janeiro nas contas do hospital. O total é de R$ 4,2 milhões. O valor será descontado em 10 parcelas.

Em relação aos repasses ao hospital, ela disse que os valores são insuficientes, já que não cobrem os custos de procedimentos realizados. Um dos grandes problemas, relatou, é a falta de atualização da Tabela SUS. “Os valores do SUS não cobrem os custos. Por isso é necessário que os municípios e o Estado auxiliem com valores adicionais, como ocorre em outros hospitais da região. Estamos mantendo diálogo com o município de Campo Mourão e demais da região da Comcam, levando inclusive ao conhecimento do Conselho de Saúde e do Ministério Público, através de ofícios e reuniões, com a apresentação de planilhas e cálculos”, disse, se referindo à necessidade de serem revistos os valores repassados.

Atendimentos

A presidente da unidade disse que todos os atendimentos estão sendo realizados. “Estamos buscando todos os meios para realizar o pagamento dos salários dos funcionários e manter o atendimento aos pacientes”, argumentou.

Ela informou um passo importante do hospital nos últimos dias, a aprovação do credenciamento da Santa Casa para as cirurgias bariátricas. “É uma grande conquista para toda região. Estamos finalizando os ajustes no centro cirúrgico para iniciar os procedimentos”, comentou.