Saubern: tecnologia em hemodiálise para o mundo

Com faturamento de quase R$ 40 milhões em 2020, a Saubern nasceu, ainda em 2002, como uma legítima empresa de Campo Mourão. Antes, incubada à Fundação Educere, é voltada a produtos para hemodiálise. Conta hoje, com 60 funcionários, a imensa maioria, da própria cidade. Destemida e, com qualidade absoluta, foi adquirida, em 2019, pela terceira maior empresa do mundo em equipamentos médicos: a alemã, Fresenius. Não há limites à Saubern. 

A semente do negócio surgiu há quase 20 anos, através do médico nefrologista, Martinho Fernandes de Moraes – em memória. Proprietário do Instituto do Rim de Campo Mourão, ele desejava aprimorar as técnicas de hemodiálise. Não concordava que os filtros das máquinas devessem continuar sendo lavados, manualmente. Ao mesmo tempo, nos Estados Unidos, hospitais já desfrutavam de tecnologia aos equipamentos. Lá, o processo era todo automatizado. 

Foi então que Martinho jogou a ideia, para aqui, desenvolverem um equipamento. A semente foi absorvida pelo Jovem Francisco Reigota, na época 18 anos. Entranhado na Fundação Educere – como aluno -, ele arregaçou as mangas e comprou o desafio. “Para entender o mecanismo do que pretendia construir, visitei Martinho por mais de 100 vezes. O objetivo era aperfeiçoar o sistema. Deixando de lavar os filtros manualmente, para agora, uma máquina fazer o serviço”, explicou. 

No início, Francisco, aliado ao sócio, Áter Cristófoli, desenvolveu protótipos em madeira. Era o que tinha. Por inúmeras vezes, a engenhoca era levada até o Instituto do Rim. Testes e mais testes começavam a ser realizados. “Martinho se queixava que a lavagem dos filtros, manual, se assemelhava ao cenário de um açougue. Era muito sangue. Sem contar com riscos de contaminação e de uma esterilização duvidosa”, lembra Francisco. Durante toda a entrevista, ele enalteceu o incentivo de Martinho ao projeto. “Ele, sem dúvidas, era um cara a frente do seu tempo. Se preocupava demais com os pacientes. Por isso queria impor processos tecnológicos com garantia de qualidade”, disse.  

Após três anos de intensas pesquisas, leituras e desenvolvimento do projeto, a máquina estava pronta. Mas, ainda, sem o aval da Anvisa. “Lembro que fui até Martinho e disse pra ele: doutor, o senhor vai comprar duas máquinas, R$ 15 mil cada. Mas elas ainda estão sem o certificado da Anvisa”, disse Francisco. Mas o roteiro, de fala decorada, deu tudo errado. “Ele, sentado, pernas cruzadas, só me escutando, retrucou: eu vou comprar se eu quiser. Quantas máquinas quiser. E o preço, eu direi quanto pagar. E mais uma coisa, sem autorização da Anvisa, não compro nada. Sabe de uma coisa, vá embora e consiga a certificação da Anvisa. Depois conversamos”, teria dito.     

Francisco saiu angustiado. Mas otimista. Não só recebeu o certificado almejado, como iniciou as primeiras vendas no Paraná. “Era muito difícil vender algo que não existia no país. Afinal, as pessoas pensavam: porque comprar uma máquina, se eu tenho alguém para fazer isso”. Infelizmente, Martinho morreu antes de ver o resultado dos equipamentos da Saubern. Por uma coincidência do destino, ele foi homenageado com nome de rua. E ela está a menos de 50 metros da sede da empresa. 

O crescimento da Saubern sempre foi expressivo. Ano a ano. Com isso, viu-se a necessidade de novos sócios, como Edwin Andrade – responsável pela produção, e Sílvia Malysz – à frente das finanças e administração. Atualmente, são mais de três mil equipamentos de reprocessamento de filtros em operação em todo o país. Os produtos estão, inclusive, no Hospital Albert Einstein, em São Paulo. Sempre antenados ao mercado, a empresa viu a necessidade em expandir as vendas à América Latina. Mais uma vez, um tiro certeiro. De todo faturamento atual, cerca de 10% está relacionado aos países vizinhos.

Mesmo frente ao sucesso do produto, a Saubern foi avante. E decidiu agregar valor à marca. Então, desenvolveu um equipamento para o tratamento de água, fixo, a clínicas de rim. E móvel, usado em UTIs. Além disso, criou também poltronas para dialisados. Tudo, pensando no bem estar dos pacientes e, principalmente, anulando riscos à sua saúde. “O Brasil possui cerca de 700 clínicas de rim. Destas, 200 possuem nosso sistema de tratamento de água”, frisou Francisco. 

Mas, como todo sucesso tem o seu limite, a empresa foi comprada pela gigante Fresenius. Uma alemã, líder do segmento de hemodiálise no planeta. Somente em 2020, obteve faturamento de 36 bilhões de Euros. Então, desde 2019, a multinacional mantém um braço importante, agora, em Campo Mourão. “Era uma tendência de mercado. Pequenas se unirem às maiores”, disse Francisco. Carioca, e já, executivo da Fresenius no Brasil, Rafael Roquete chega às terras vermelhas da cidade para fortalecer ainda mais a equipe da Saubern. “A chegada dele só vem somar a expansão da empresa”, afirma Francisco.