Sérgio doou esperança

Sérgio poderia ter ficado em casa. Poderia ter assistido as partidas de futebol pela TV, no sofá macio. Curtindo a cadela Skol, a Golden Retriever mais amada da família. Poderia ter permanecido no conforto do lar. Continuar com as corridas de até 21 quilômetros. Sua paixão. Poderia. Mas deixou os rituais do dia a dia para dedicar amor ao próximo. Desde o dia 14 de outubro, ele foi a Natal, no Rio Grande do Norte doar a medula óssea. A doação não é para um amigo. Muito menos a um familiar. Será a uma pessoa desconhecida. De outro país. De outro continente. Porque ele fez isso? Simples: por humanidade. Carinho. Esperança.

Professor de Educação Física da rede estadual do Paraná, Sérgio Correa de Mello mora em Campo Mourão. Aos 43 anos, é casado e tem uma filha, Maria Luísa, de três anos. Quis o destino que o assunto adentrasse sua vida, ainda em 2008. Na época, viu a cunhada travar uma luta desumana por um transplante de medula óssea. A jornada mexeu com toda a família. Tanto é, que o irmão se mudou, por dois anos, a Curitiba. Ficou ao lado da esposa, cunhada de Sérgio. Mas a esperança gritou mais alto. E ela conseguiu a doação. 

Então, em 2010, Sérgio se cadastrou para ser doador de medula óssea. Colocou seu nome junto ao Registro Nacional de Doadores Voluntários de Medula Óssea (REDOME). Um órgão que atua junto do Sistema Único de Saúde (SUS), criado em 1993, em São Paulo. Ele tem a função em reunir informações de pessoas dispostas a doar a medula óssea para quem precisa de transplante. Desde 1998, é coordenado pelo Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (INCA), no Rio de Janeiro.

“Eu já tinha me cadastrado há 10 anos. Pensei que nunca me chamariam. Mas agora em julho, fui convocado. E estou muito feliz com isso”, afirma Sérgio. Ele explica que são três unidades de coleta no país: Curitiba, Rio de Janeiro e Natal. Como a última estava com o índice mais alto de leitos disponíveis – em decorrência do Covid – foi encaminhado ao Nordeste. Viajou com todas as despesas pagas. Foram duas viagens. A primeira em setembro para exames. A segunda este mês, para a doação. Dados indicam que a compatibilidade de uma medula, entre pessoas sem vínculos de sangue, acontece de uma para cada 100 mil pessoas,

Com mais de quatro milhões de doadores cadastrados, o Redome é o terceiro maior banco de doadores de medula óssea do mundo. E pertence ao Ministério da Saúde, sendo o maior banco com financiamento exclusivamente público. Anualmente são incluídos mais de 300 mil novos doadores no cadastro. O registro americano conta com quase 7,9 milhões e o alemão, com cerca de 6,2 milhões. Ambos foram desenvolvidos e são mantidos com recursos primordialmente privados. O Centro de Transplantes de Medula Óssea (CEMO/INCA) é responsável pela coordenação técnica. Já a Fundação do Câncer pela operação do REDOME, conforme publicado na Portaria nº 2.600, de 21 de outubro de 2009, do Ministério da Saúde.

Sérgio já retornou a Campo Mourão. Cumpriu a missão para que foi chamado. “Sinto uma sensação muito boa. De paz. De poder ajudar quem precisa. Estou feliz”, revela. Segundo ele, a doação não dói. Além de inúmeros exames, passou três horas numa máquina para concluir a doação. Uma espécie de paciência a quem tem pressa. Esperança, aos desacreditados. Mas valeu a pena. Com a alma mais leve, acredita ter pago alguns pecados terrenos. “Quando o cara lá de cima me chamar, acho que vou com uns pontinhos a mais”, brinca ele.    

Como doar

Os Hemocentros Regionais ou mais conhecidos como Bancos de Sangue Públicos, são responsáveis por cadastrar os interessados em se tornar doadores de medula óssea. Os dados são agrupados em um registro único e nacional (REDOME). Um indivíduo pode ser voluntário para a doação de sangue, doação de medula ou de ambos. É importante que este desejo seja explicitado no momento do cadastro.

O processo de busca do doador é simples e totalmente informatizado. O médico responsável inscreve as informações do paciente necessitado do transplante, incluindo o resultado do exame de histocompatibilidade – HLA (exame que identifica as características genéticas de cada indivíduo), no sistema do Registro Nacional de Receptores de Medula Óssea (REREME). Após aprovação da inscrição do paciente, a busca é iniciada imediatamente. Caso os dados estejam incompletos e a inscrição necessite esclarecimentos, o processo de busca não se inicia, cabendo ao médico assistente a inclusão dos dados do paciente.

Para aumentar as chances de localização de um doador compatível para um paciente que necessita do transplante é imprescindível manter o cadastro no REDOME atualizado. O doador deve lembrar que irá permanecer no registro até completar 60 anos de idade e que a convocação para realizar a doação pode demorar alguns anos ou nem chegar a acontecer. Por isso, o doador deve informar sempre que houver alteração em qualquer dado do cadastro (endereço, telefone). Esta informação pode ser encaminhada pelo site do REDOME ou através do Hemocentro que o cadastrou.

Medula Óssea

A medula óssea é um tecido líquido-gelatinoso que ocupa o interior dos ossos, sendo conhecido popularmente por “tutano”. Na medula óssea são produzidos os componentes do sangue: as hemácias (glóbulos vermelhos), os leucócitos (glóbulos brancos) e as plaquetas. Pelas hemácias, o oxigênio é transportado dos pulmões para as células de todo organismo e o gás carbônico é levado destas para os pulmões, a fim de ser expirado. Os leucócitos são os agentes mais importantes do sistema de defesa do organismo. São eles quem nos defendem das infecções. As plaquetas compõem o sistema de coagulação do sangue.

Transplante de medula óssea

O transplante é um tipo de tratamento proposto para algumas doenças que afetam as células do sangue. Consiste na substituição de uma medula óssea doente ou deficitária por células normais de medula óssea, com o objetivo de reconstituição de uma medula saudável. O transplante pode ser autogênico, quando a medula vem do próprio paciente. No transplante alogênico a medula vem de um doador. O transplante também pode ser feito a partir de células precursoras de medula óssea, obtidas do sangue circulante de um doador ou do sangue de cordão umbilical.

Serviço

Você também pode ser um doador de medula. Em Campo Mourão existe o hemonúcleo. Basta ligar (44) 3525-1102/ (44) 99878-3811, e marcar o dia do cadastro. Não se esqueça de levar um documento com foto e o cartão SUS.