Unida, família inteira vira refém da Covid

Nos últimos 16 dias, uma família inteira de Campo Mourão se isolou de tudo e de todos. Sem ainda saberem como, o vírus a contaminou, por inteira. Na casa, moram a matriarca C, de 90 anos, o filho, J, de 59, e a filha, A, de 68. Mesmo tomando os cuidados necessários e, evitando saídas da residência, o vírus entrou. Não pediu permissão e infectou os três. Não bastasse o drama, outras duas filhas, F, de 62 e R, 66, além de uma neta, D, de 40, também contraíram a doença.

A situação gerou o caos. Preocupados, acabaram por se isolar, todos os seis, na casa da matriarca. Juntos, passaram as duas últimas semanas numa apreensão jamais vista. Entre exames, remédios e monitoramentos por quatro médicos, muita fé e orações. Até uma pastora, comovida e preocupada, fez uma visita para pedir ajuda divina.

Distante, ela ficou no quintal. A família, na porta. Movidos pela fé, oraram por cerca de 30 minutos. E deu certo. Hoje, os seis já estão livres do vírus, e não mostraram efeitos maiores. O caso mais preocupante foi o da avó, que teve oscilações nos exames. “Ela teve que tomar anticoagulantes. Mas agora, o pior já passou”, disse a filha, F.

Dos seis, apenas três já haviam tomado as duas doses de imunizantes. A filha, R, e o filho J, tomaram apenas uma. Já a neta, de 40, ainda não tomou nenhuma dose. Mesmo assim, todos passaram pelo tormento sem a necessidade de hospitais. E o melhor, sem sequelas. “As vacinas funcionam mesmo. Agora sabemos disso. Mas também existe uma força maior, que vem de Deus. Ele estava conosco. O tempo todo”, revelou A.

Desde a comprovação dos testes, a neta, e outras duas filhas, arrumaram as malas e se mudaram para a casa da avó. E foi lá, por 16 dias, quando superaram juntas os dilemas da Covid 19. Sempre unida, a família conseguiu aumentar ainda mais os laços. Uns ajudavam aos outros. Principalmente, na hora dos medicamentos ou, simplesmente, dando forças. Uma das filhas, R, chorou bastante nas duas semanas. “Ela sempre foi muito sensível e quase entrou em estado de choque”, disse a irmã, F.

Além dos momentos de oração, os seis aproveitaram para cozinhar juntos. Assistiram filmes. Riram. Choraram. E brigaram. Todos juntos. Por certo, a maior preocupação dos filhos era com a matriarca. E ela, com os filhos. Tanto é que a avó só passou a melhorar definitivamente, depois que viu o restante da turma bem.

Ao mesmo tempo em que estavam isolados, outros amigos e familiares deram o suporte externo. Filhos e netos passaram a levar “comidinhas” do gosto da turma. Também iam à farmácia e compravam os medicamentos. “Também tivemos muito apoio através de mensagens via whatsapp. Cada frase era um incentivo pra que ficássemos bons”, disse F.

Nesta semana, todos já estarão aptos a seguir suas vidas. Não mantém mais o vírus. Ontem, a neta até arrumou as malas para voltar para casa. Mas teve que adiar a ideia. É que o pai acaba de testar positivo a Covid. “Deve ter pego de mim. Antes de ir à casa da minha avó, fiquei do lado dele”, disse D. Em conversa pelo telefone, o pai, G, de 70 – que já tomou as duas doses – disse que está bem na casa dele. “Pra mim estão sendo férias. Está gostoso ficar sozinho. Minha filha é muito briguenta. Deixa ela lá um pouco”, brincou ele.