Violência contra crianças é tanta que extrapola capacidade de acolhimento em lar

Os casos de violência contra crianças em Campo Mourão tem aumentado e preocupado a rede de assistência encarregada de cuidar desse assunto. Além do alto índice de abuso sexual (conforme já noticiado pela TRIBUNA) outros tipos de violência também tem sido frequentes. No fim de semana, por exemplo, o plantão do Conselho Tutelar teve muito trabalho. 

Em apenas um dos casos que já vinha sendo acompanhado, após várias denúncias o juiz da Vara da Infância, Juventude e Família, Edson Jacobucci Rueda, determinou busca e apreensão de cinco irmãos, que moram apenas com o pai. Eles tem 12, 10, 8, 5 e 3 anos. Com outros três casos de acolhimento atendidos pelo Conselho, oito crianças ou adolescentes foram encaminhados para a Casa Lar Infantil Miriã. A capacidade do local é para até 20, mas neste fim de semana chegou a 24.

Sem aulas na escola por conta da pandemia, crianças que já viviam esse drama agora sofrem ainda mais. Em muitos casos a alternativa é a Justiça retirá-las do convívio familiar e encaminhá-las para a Casa Lar. “Tivemos um aumento de pelo menos 50 por cento de acolhimento nesse período”, revelou o juiz. Ao receber a criança pelo Conselho Tutelar, o Lar tem até 24 horas para comunicar a Vara da Infância. “Com a comunicação, damos início ao processo de acompanhamento”, sintetiza o juiz.

Segundo o Conselho Tutelar, muitos casos de violência estão ligados ao consumo de drogas ou alcoolismo. “Não podemos informar detalhes da situação porque isso expõe ainda mais as crianças, mas infelizmente trabalhamos para dar solução a problemas dessa natureza, que envergonha a sociedade”, comenta a presidente Valdirene Neves. No caso dos cinco irmãos, o pai será acompanhado pela Defensoria Pública para apresentar a defesa.

No fim de semana o Conselho Tutelar também foi acionado pela Polícia Militar para atender um menino de 5 anos que foi encontrado com marcas nas costas, supostamente causadas por agressões do pai durante a noite. Na casa havia uma festa com bebedeira e pela manhã o pai do garoto esfaqueou outro homem. A criança presenciou tudo e estava na cena do crime, sem a presença da mãe. Outro acolhimento foi de uma criança cuja mãe tem problemas com alcoolismo.

Das crianças abrigadas no Lar, pelo menos metade é devolvida ao convívio familiar. Outra parte continua acolhida, ou para voltar para a família ou, em último caso, para adoção. São encaminhadas para o Lar Miriã meninos de 0 a 11 anos e 11 meses e meninas de 0 a 17 anos e 11 meses, vítimas de violência ou negligência familiar. 

Segundo o presidente da entidade, Silvio Paes, neste tempo de pandemia as visitas dos familiares estão suspensas. “O que temos feito é vídeo chamada usando o WhatsApp para eles verem e falarem um pouco com os responsáveis. Não são todos que conseguimos colocar para falar”, explica.

Além dos recursos que recebe anualmente através da Prefeitura, o Lar Miriã também conta com recursos da Campanha do Imposto de Renda, governo federal e auxílio da Igreja Luterana Livre, que é a mantenedora. “Tivemos um recurso extra pra enfrentamento do Covid”, relata o presidente. Foram dois projetos, no total de R$ 85,6 mil, utilizados para contratar uma pedagoga para acompanhar as tarefas escolares, já que todos estudam.

“Temos recebido doações de alimentos e outros produtos. O Abrigo está bem assistido por estes dias”, disse o presidente, ao acrescentar também foram adquiridos computadores e um celular para acompanhamento das aulas remotas.