A boa má educação

“Entre o doutor e o analfabeto.
O elegante e o farrapo.
O fino e o grosso. 
O educado e o sem educação.
O limpo e o mal cheiroso.
O rico e o miserável.
O de cima e o de baixo.
Em meio a eles há a cunha social brasileira:
O meio termo, comportamento ‘nem lá nem cá’” 

Estive Nólocal (b.d.C.)

   Ter um pé em cada canoa é arriscado. Mas o meio termo é marca de grande parcela da população brasileira que se considera hábil no equilíbrio: Nem tanto ao mar nem tanto à terra. É significativo a quantidade de brasileiros que não age com rigor nos cuidados para se prevenir à pandemia do corona vírus, mas que, ao mesmo tempo, não tem atitudes de absoluta negligência. 
   É no espaço público coletivo que os brasileiros vivenciam comportamentos diversos, os que tomam todos os cuidados, os mais ou menos e aqueles que se consideram imunes à “gripezinha”. O conflito não era sequer para existir, pois o comportamento individual não deveria se contrapor ao coletivo, “se não uso máscara e não lavo as mãos, problema é meu!”. Engano estúpido, ninguém tem o direito de expor a vida dos outros a perigo, sendo que na pandemia é questão de saúde pública.
   Três situações ocorridas comigo no mesmo dia me obrigaram a agir para seguir o protocolo, sobretudo do distanciamento social. Tenho saído de casa só em caso absolutamente necessário e inadiável, como na quarta-feira passada:
   Terminada a consulta oftalmológica, me aproximo do elevador do centro médico de Campo Mourão, aperto o botão e leio a advertência, para que ninguém utilize o elevador com três ou mais pessoas. Aberta a porta, tinha cinco pessoas, então prefiro aguardar, em respeito a norma. Novamente ele chega e tinha mais pessoas do que o permitido. Nesse instante se aproximam duas pessoas, elas não respeitam e ficam juntas a mim. Eu me afasto, e, ao imaginar que novamente a chance do elevador já ter mais pessoas além do permitido, resolvo descer pela escada. (Evitei inicialmente devido ao exame do fundo do olho que me deixara com a visão bem turva). Outra situação provável, caso entrasse no elevador com o número ideal de pessoas, mas que, no próximo andar, embarcariam pessoas a mais, sem que elas se importassem com a advertência. Quantos leem o enorme cartaz fixado bem ao lado da porta do elevador?
   Antes e bem cedo fui tomar café e saborear um pastel. Sento no último banco de uma das extremidades da pastelaria. E não é que chega um indivíduo que não o conheço e resolve sentar bem ao meu lado? Até então estávamos apenas nós dois. Eu tive que ser mal educado, ainda que procurasse ser discreto, mudo de lugar, sento no lado extremo, bem longe da pessoa, cumprindo assim o distanciamento social.
   Tudo no mesmo dia. Por último, estou no caixa eletrônico para sacar dinheiro. Ao meu lado duas pessoas que estavam juntas, fazem o mesmo. Ocorre que uma delas, além de ficar ao lado da amiga, praticamente encosta em mim. Seria o caso de intercalar o uso de um caixa do outro? Ou caberia ao brasileiro o bom senso?   
   A dita boa educação é desatenção, enquanto que a é precisamente a correta. 

Fases de Fazer Frases (I)
    Ter que ter, e não ter, não é nada.
    Não ter que ter, e ter, é tudo.

Fases de Fazer Frases (II)
    Mais miserável é quem não tem como ter.

Fases de Fazer Frases (III)
    A vida murcha quando o coração não infla.

Olhos, Vistos do Cotidiano (I)
    “Proibido jogar lixo! Propriedade particular”, dizeres colocados numa placa fixada em um terreno baldio. De acordo com o que está escrito, pode se subentender que, se o terreno fosse público, poderia ser jogado lixo nele. Claro que não. Jogar lixo é proibido de conformidade com várias leis. E em qualquer espaço público, a não ser em lixeiras ou recipientes adequados.  

Olhos, Vistos do Cotidiano (II)
    Já o teste não é garantido 100 por cento para o corona vírus, jogadores de futebol poderiam dar um bom exemplo, não se abraçarem, sem contato físico desnecessário. 

Farpas e Ferpas
    Finjo que fingi e fingido não fiquei.

Reminiscências em Preto e Branco (I)
    No tempo do cinema mudo era obrigatório o silêncio da plateia?

Reminiscências em Preto e Branco (II)
    Não paguem hoje para o tempo ensinar. É no futuro que ele cobrará.

Reminiscências em Preto e Branco (III)
    O relógio dita as horas, não o tempo.

José Eugênio Maciel | [email protected]