“Algo se apagou em mim”
“A melhor coisa que você pode fazer para homenagear quem se foi é tentar
viver direito de novo sua vida. Não pode deixar que a morte destrua
tudo que tem de bom. Voltei a ser uma pessoa ligada na vida.
Mas algo se apagou em mim”
Lya Fett Luft
Perdemos a maior escritora brasileira da atualidade. Passou a ser saudade. Se torna imortal, para a família e amigos. Para todos, imortal através das palavras que compõem a sua extensa e rica obra.
O livro dela não estava, ainda, colocado na minha estante, na qual estão muitos livros que escreveu. Com o hábito de datar cada livro que tenho, dia e lugar onde comprei, e se for presente ou do próprio autor, tem que constar autógrafo e dedicatória.
Maringá, sete de novembro de 2021, escrevi no livro intitulado “Lya Luft—as coisas humanas”, o último e recente da Lya Fett Luft.
Lya Luft era gaúcha de Santa Cruz do Sul, nasceu em setembro, dia 15 de 1938, morreu no dia 30 de dezembro do ano que há pouco se encerrou. Tinha 83 anos. Pedagoga, era professora aposentada, tradutora e escritora. Um dos seus livros, Perdas & Ganhos, vendeu 1,5 milhão de exemplares, traduzido para 13 países, fato notável em um Brasil que pouco lê, quando lê, pois a maioria, mesmo na escola, não lê nada, lamentavelmente.
Retomando o último livro, as coisas humanas, ela tematizou com frequência sobre a vida e a morte, tanto relacionadas quanto próprias.
Ao filho que morreu surfando em Florianópolis – Este livro pertence a meu filho ANDRÉ, morto no mar que tanto amou. Como um meteoro belo e intenso, deixou um rastro cintilante de memórias que nos iluminam – Existe outra alusão ao filho, “Onde quer que estejam”, no primeiro parágrafo, Lya já na primeira linha, escreve: A maior homenagem que se pode fazer a alguém que morreu é tentar voltar a viver da melhor forma possível. Noutro trecho: Não digo isso passa (..)….Não digam nada. E termina a respeito da perda do filho (2017): nesse poço de silêncio de onde, se me fala, não consigo entender suas palavras….(…)… os deixemos em paz.
Ela morreu enquanto dormia. Tinha câncer. A perda do filho foi lhe tirando o ânimo de inteiramente viver. E tudo tem um final, definitivo. Na última página do livro (318), para finalizar, como se fosse palavras para a lápide:
No fim tudo estará apaziguado;
haverá um fechar de pálpebras
e um esquecimento;
não haverá mais começo nem fim, nem pensamentos
porque serão supérfluos: tudo será intuição.
Não haverá mais palavras,
Fases de Fazer Frases (I)
Na espera pela vida, ela passa.
Fases de Fazer Frases (II)
Impossível imaginar o ser humano sem qualquer imaginação.
Fases de Fazer Frases (III)
Quem só espera tudo receber não guarda nada.
Fases de Fazer Frases (IV)
Quem é muito indiferente, difere do normal.
Olhos, Vistos do Cotidiano (I)
Sem intenção alguma, o experiente e simpático Cléber Machado, quando a corrida de São Silvestre ia chegando ao fim, se referindo ao Etíope Belay Bezabh, (que ganhou a prova) já bem distante dos demais, Cléber: “ele tem muita fome de ganhar….”! Acontece que a Etiópia é um dos países que mais tem gente passando fome, morrendo de inanição.
Olhos, Vistos do Cotidiano (II)
Uma criancinha anda com o pai na calçada da Avenida Capitão Índio Bandeira, ela joga um papelzinho de bala no chão. O pai não faz nada. Ele poderia e deveria ensinar a filha a usar a lixeira, aliás, o recipiente estava a alguns poucos metros deles.
Tem pessoas como aquele pai dizerem em alto e bom som, a “escola não ensina direito”, se esquecendo que a educação inicia no berço, em casa, com bons exemplos.
Farpas e Ferpas (II)
Se tudo é carência, a maior é a consciência?
Farpas e Ferpas (III)
Dar a volta por cima por vezes começa por debaixo.
Reminiscências em Preto e Branco
Pode parecer contraditório, mas não é raro alguém perguntar algo para obter resposta a uma pergunta que o indagador não poderia, não teria coragem fazê-la direitamente. Inclusive tem um filme (não lembro o nome da fita), sobre o tema.
Trata-se de um indivíduo que não era do lugar, queria frequentar a zona do meretrício. Ruas comumente sem movimento, a certa hora da noite, desertas. O forasteiro vê ao longe uma pessoa. Vem ao encontro e se depara com uma senhora digna de todo respeito, ao menos aparentemente:
– Boa noite, senhora! A senhora sabe onde fica a igreja?
– É só o senhor seguir nesta direção.
– Mas ‘pra quele’ lado não fica a zona?
– Não. A zona fica do outro lado.
Nem carece explicar o que de fato queria saber o forasteiro.
Pois bem, este escrevinhador aqui estava no banco, depois do expediente, e um senhor me pergunta aonde fica o banheiro. Foi logo me dizendo, “não é pra mim”!
Eu seria indiscreto ao querer saber para quem o banheiro se destinaria e qual a finalidade no uso. Mas a expressão facial daquele senhor era de emergência.
José Eugênio Maciel | [email protected]