Chegado até aqui, há 34 anos

“Só posso escrever o que sou. E se os personagens se comportam
de modos diferentes, é porque não sou um só”.
Graciliano Ramos

Hoje, há 34 anos. Domingo, 10 de julho de 1988, brotava o primeiro texto desta Coluna. A Tribuna do Interior completaria 20 anos, Jornal que começou a circular em 1968, 10 de outubro, aniversário de Campo Mourão, então com 21 anos como Município.

A Coluna é minha? Só no nome. Ela é da Tribuna. O Jornal cedeu este espaço e assim eu escrevo com liberdade. Existe uma condição entre a Tribuna e eu, atrevo-me a afirmar, a afinidade que é a responsabilidade com o conteúdo.

A principal motivação para escrever é falar de pessoas, razão de ser presente na estreia quando registrava a despedida a Avelino Piacentini, o significado da perda de tão importante pessoa, pioneiro mourãoense e a representação de uma família tradicional.

Embora seja o marco alcançado que segue continuamente, não existia qualquer pretensão de ocupar este espaço frequente, regular. Foi o Jornal que pediu para eu escrever e também deu o nome a Coluna, o que redobrou a responsabilidade.

Escrever é registrar, valer-se da memória para que ela exista nas palavras.

Se cabe uma comparação para ilustrar a Coluna, como se fosse ela um empório, mercearia ou armazém, secos & molhados, prateleiras com produtos que circulam em cada edição, por serem variados os temas. E a gosto do freguês leitor.

Falar de e das pessoas daqui, de longe, das comuns e as da história. Neste sentido, a citação de um dos mais importantes escritores brasileiros, Graciliano Ramos, abaixo do título da Coluna de hoje, palavras que eu me aproprio, pois considero não ser só eu quando escrevo, sou um pouco das pessoas retratadas, existindo um espelho refletido nas mulheres e homens que determinaram e inspiraram os textos.

Se é de pessoas a base da Coluna, dialogo com elas. É a todos que agradeço, os caros leitores, assíduos, eventuais e quem tenha deixado de ler. Em especial aqueles que se manifestam, comentam e cumprimentam a Coluna ou apontam discordância e os erros.

Pessoas retratadas, leitores, muitas as transformadas em saudades, inesquecíveis pela evocação em memória.

O sentimento é de gratidão e honra.

Eu, então com 25 anos de idade e o Jornal que terá 54 anos, reflito sobre a trajetória, um caminhar juntos há 34 anos, eu agora com os meus 59 anos de vida. Depois o que virá? Virá depois o que desconheço. Como o Jornal, caminho com a bagagem na qual vão todas as colunas, para onde eu for. Por vezes ela chega na frente, primeiro que eu, por vezes tenho que buscá-las. É arquivo do que não me esquivo.

A todos, da memória do tempo, sendo ela razão e emoção presentes nos textos, aos caros leitores, muito obrigado, sempre.

Fases de Fazer Frases (I)
Nas palavras encontram-se até o que não se procurava.

Fases de Fazer Frases (II)
Palavras, vida própria, propriamente na formação com outras.

Fases de Fazer Frases (III)
Palavras não mudam. Mudam-se os sentidos delas.

Fases de Fazer Frases (IV)
Todo texto é pretexto.
Todo texto é contexto.
Todo texto é teste.
Todo texto atesta.
Todo texto testa:
A tese. A síntese. A antítese.

Olhos, Vistos do Cotidiano (I)
Sábado dia nove, Avelino Piacentini será homenageado, cem anos de nascimento. O filho mais velho dele, Namir Piacentini, fraternal amigo, me convidou, nossos saudosos pais foram amigos e nós temos este sobejo legado entrelaçado em nossas vidas e com este lugar.

Olhos, Vistos do Cotidiano (II)
Cresce o número de motoristas mourãoenses que trafegam de dia com os faróis acesos no perímetro urbano, já por parte dos motociclistas esse número é bem menor. Ainda que a obrigatoriedade seja apenas nas rodovias.

Ainda que razoável mas crescente, ciclistas pedalam com sinais refletores e proteção na cabeça, o que tem diminuído a vulnerabilidade deles no trânsito.

Farpas e Ferpas (I)
Conformado é um acomodado a tudo que lhe é dado.

Farpas e Ferpas (II)
Inconformado é um incomodado a tudo que não lhe é dado.

Farpas e Ferpas (III)
Se palavras fogem na feitura textual, pode-se encontrá-las no dicionário.

Farpas e Ferpas (IV)
O analfabeto é um ignorante? Sem palavras.

Reminiscências em Preto e Branco
Com o tempo se faz a memória. A memória é o tempo registrado.

Esta Coluna, aniversariante do dia, está retratada nos recortes do jornal, amareladas no envolver do tempo, também com o reluzir moderno na tela, internet da modernidade.

José Eugênio Maciel | [email protected]