Futebol de várzea, a pelada

“A partida acaba quando todos estão cansados, quando anoitece, ou quando
a mãe do dono da bola manda ele ir pra casa, ou aquela vizinha
que prende a bola que caiu na casa dela ou corta a bola.”
(Anônimo)

O texto a seguir foi transcrito do Jornal Correio do Povo, da Coluna assinada pelo jornalista Hiltor Mombach, cronista esportivo gaúcho, dia 28 de janeiro. Antes de transcrevê-lo na íntegra, que ele bem retrata o jogo de futebol na várzea, no meu caso lembro bem, era sempre o último a ser escolhido, quando não tinha mais ninguém. Enfim, sem o menor jeito para jogar futebol, embora goste, não me abalava. Lembro de muitos campos de várzea de Campo Mourão, muito e vários em locais que hoje têm casas ou edifícios nessas áreas.

Para mencionar apenas um, o terreno onde está o Fórum de Campo Mourão, lá existia um enorme campo de futebol, de terra, era mesmo imenso. E foi nele que, ao lançarem uma bola para mim, gritaram o meu apelido:

“Marquem o Gudé”; e outro imediatamente gritou também: “O Gudé a natureza marca”! Ali acabou qualquer sonho de ser jogador.

Eu dou risadas agora ao escrever, como ri naquela tarde ensolarada, jogos que só terminavam mesmo quando ninguém mais enxergava a bola. Eu até que enxergava a bola de dia, mas ela é que não me “enxergava”, a correr sempre mais do que eu.

A “natureza” continua me marcando.

Segue a transcrição do texto e boa leitura:
(1) “Os dois melhores não podem estar no mesmo time. Logo, eles tiram par ou ímpar e escolhem os times.
(2) Ser escolhido por último é uma grande humilhação.
(3) Um time joga sem camisa e o outro com camisa.
(4) O pior de cada time vira goleiro, a não ser que tenha alguém que goste de agarrar.
(5) Se ninguém aceita ser goleiro, adota-se um rodízio: cada um garra até sofrer um gol.
(6) Quando tem um pênalti, sai o goleiro ruim e entra um bom só para tentar pegar a cobrança.
(7) Os piores de cada lado ficam na zaga.
(8) O dono da bola joga no mesmo time do melhor jogador.
(9) Não tem juiz.
(10) As faltas são marcadas no grito: se você foi atingido, grite como se tivesse quebrado uma perna e conseguirá a falta.
(11) Se você está no lance e a bola sai pela lateral, grite “é nossa” e pegue a bola o mais rápido possível para fazer a cobrança (essa regra também se aplica ao “escanteio”).
(12) Lesões com arrancar a tampa do dedão do pé, ralar o joelho, sangrar o nariz e outras são normais.
(13) Quem chuta a bola para longe tem que buscar.
(14) Lances polêmicos são resolvidos no grito ou, se for o caso, na pancada.
(15) A partida acaba quando todos estão cansados, quando anoitece, ou quando a mãe do dono da bola manda ele ir pra casa, ou aquela vizinha que prende a bola que caiu na casa dela ou corta a bola.
(16) Mesmo que esteja 15×0, a partida acaba com ‘quem faz, ganha
(17) Rua de baixo contra rua de cima valendo garrafa de coca cola…
(18) Se chover forte, certamente haverá futebol.
(19) O famoso grito ‘paroooou’ quando vinha carro ou uma mulher grávida/com criança passava perto da pelada”.

Fases de Fazer Frases (I)
Não se vive sempre com razão. Vive-se com razão de viver.

Fases de Fazer Frases (II)
Não confundamos: a bola de capotão com a bola do capitão.

Olhos, Vistos do Cotidiano
Ler determinado texto, quanto tempo dura? Jornais, como a Folha de Londrina, informam os leitores quantos minutos ele levará para ler determinadas colunas. Acredita-se que mais pessoas irão ler devido ao tempo estimado. Comparando, é o que acontece com uma boa parte de usuários quando recebem vídeos pelo celular. Caso o tempo para eles seja demasiando longo, deixarão para ler depois. Assim também quanto ao texto, caso ele seja de muitas linhas, a leitura ficará para depois, ou sequer será lido.
Pois sim, como estamos sem tempo, ou também muitos ansiosos, com pressa que, na verdade estamos atropelando o próprio tempo. Tem leitor desta Coluna que primeiramente lê os subtítulos, depois – e quem sabe mesmo – o texto principal. É o tempo.

Farpas e Ferpas (I)
Se lições do passado não estiverem presentes, elas não adiantam.

Farpas e Ferpas (II)
Sorte começa não tendo azar.

Farpas e Ferpas (III)
Todo círculo vicioso é ciclo do vício?

Reminiscências em Preto e Branco (I)
Campo Mourão tinha muitos campos de futebol. Na realidade, terrenos baldios, terra pura. Pó e lama, mesmo se fosse muito um ou outra, ninguém deixava de jogar.

Reminiscências em Preto e Branco (II)
Se não caiu em desuso, está próximo, a palavra capotão, relativo a bola de couro, de gomos costurados. Nos meus tempos de meninice essa bola era cara.

José Eugênio Maciel | [email protected]